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Sou habilitada e morro de medo de dirigir. Como vencê-lo?

“Olá, Dr. Douglas Amorim. Tenho lido seus posts e gosto muito de suas reflexões. Tirei carteira há alguns anos e só agora adquiri um veículo. Durante esse período não dirigi nenhuma vez. Agora, tenho medo de encarar o trânsito no Anel, Via expressa, subir morros, assim como, deixar o carro morrer etc. Sou perfeccionista e, quando cometo algum erro, sinto-me péssima. Cobro demais de mim em todos os setores da vida, cobrança esta que não é feita por mais ninguém além de mim mesma. Aliás, muito  pelo contrário. Ouço dos outros que eu tenho que desacelerar e me importar um pouco menos com tudo. Quando ouço elogios sobre alguma coisa ao meu respeito,  não fico me sentindo o máximo, porque, no meu pensamento, eu poderia ser melhor sempre.  Não que eu entre em pânico ou fique desesperada quando erro, mas, sinto que me pressiono demais para ser perfeita. Tenho dirigido em trechos curtos e, modéstia à parte, até sei dirigir razoavelmente. Às vezes cometo erros como demorar a arrancar o carro e deixá-lo morrer na subida. Me incomodo com os olhares e xingamentos que possam acontecer; aliás aconteceram. Se ser mulher já é motivo de piada no trânsito, imagina não sendo uma motorista experiente? Tenho feito aulas para habilitados e me sinto segura com a instrutora. Como vencer o medo e dirigir sozinha? Conquistei muitas coisas na vida, mas ainda tenho bloqueios que parecem bobos para outras pessoas”.

 

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Resposta:

Querida leitora, muito obrigado pelos elogios. Que bom que tem acompanhado os posts! Fico muito feliz por isso. Seus bloqueios não são bobos. Bem, vamos lá. Já recebi muitas pessoas que têm medo de dirigir, no meu consultório. O que percebi, ao longo dos anos, é que este tipo de demanda pode ter duas origens. A primeira delas, seria uma relação difícil, geralmente permeada pelo medo do dirigir em si. Algo mais ou menos parecido com quem tem medo de altura, medo de andar de elevador ou medo de um determinado tipo de animal, por exemplo. Ou seja, a dificuldade é claramente detectada. A segunda, tem a ver com os “bastidores psicológicos” do indivíduo. Nesse aspecto, precisamos detectar se existem motivos psicológicos subjacentes que provocam, como sintoma, o medo de dirigir. Neste caso, o medo seria um sintoma de algo mais profundo, e não o receio do carro, do trânsito etc.

Recebo todo tipo de e-mail, com as mais variadas perguntas e formas de expressão. Posso dizer, com segurança, que sua mensagem foi extremamente clara e que me passa muita tranquilidade pra dizer que, seu medo de dirigir, está ancorado no perfeccionismo. Ou seja, entre as duas possibilidades que assinalei no parágrafo acima, seu caso se enquadra na segunda alternativa. Tudo indica que seu nível de cobrança chegou a um estado de exagero tão grande que, de uma maneira ou de outra, teria de se manifestar de alguma forma. Psicologicamente, a manifestação atual, se deu na questão do dirigir. Por mais que se faça treinamento para motoristas habilitados, é preciso que você entenda que, caso não modifique a sua relação de cobrança excessiva consigo mesma, dificilmente esta questão será superada.

Agora, suponhamos que, com toda a dificuldade, você consiga superá-la e passe a dirigir com tranquilidade pra cima e pra baixo. Minha experiência me diz que, quando não corrigimos algo que nos prejudica do ponto de vista emocional, o sintoma “acaba andando”. Mas, o que significa isso? Estou dizendo que o sintoma do seu perfeccionismo, hoje se manifesta na dificuldade em dirigir, certo? Se você vencê-la e continuar perfeccionista, daqui a pouco, outra dificuldade irá surgir, se é que isso já não aconteceu antes e agora migrou para a situação do trânsito. O ser humano é psicologicamente complexo e, o entendimento de determinadas questões, aliado a medidas de mudanças comportamentais, é que garantirão o maior equilíbrio possível na vida. É bom que fique atenta a isso, porque o perfeccionismo tem duas faces. De um lado, pode ajudá-la em tudo: ser boa profissional, boa namorada, boa motorista, boa aluna, boa amiga etc. O outro lado é sombrio, escravizador e pode, inclusive, te adoecer pra valer.

Dicas pra você: adoecer? Como assim, Douglas? Isso mesmo, querida leitora. Ao longo dos anos, fui percebendo que, um grande número de pacientes que chegava ao meu consultório, era diagnosticado com Síndrome do Pânico. Após muitos anos de experiência, fui percebendo um traço comum em muitos deles. Esse traço é o perfeccionismo. Ah, então quer dizer que todas as pessoas que cobram muito de si mesmas desenvolverão essa doença? Não. Isso não é possível de ser afirmado. No entanto, muitos indivíduos perfeccionistas, chegam a um ponto de auto-cobrança absurdo, ficam extremamente ansiosos pra conseguir fazer tudo de forma irretocável e acabam tendo este transtorno. Por isso, é bom você começar a se humanizar mais e entender que, lutar pra ser competente, é muito bom. Tentar ser boa filha, boa namorada, boa motorista, boa aluna, boa amiga, boa profissional etc., é muito digno, valioso e nos ajuda a ter sucesso. Porém, você irá cometer erros em todos os segmentos, porque o erro faz parte da nossa existência. Trate de ter uma relação mais amistosa com suas falhas e imperfeições, porque todos nós os cometemos. Cuidado pra não se tornar escrava de si mesma e, se não der conta de fazê-lo sozinha, procure a ajuda de um bom psicólogo. Procure viver de forma mais leve e humana. Boa sorte!

Um abraço do

Douglas Amorim

Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade

Consultório: (31)3234-3244

www.douglasamorim.com.br

Instagram:@douglasamorimpsicologo

Canal no youtube: https://www.youtube.com/user/douglasdanielamorim

Douglas Amorim

View Comments

  • Cara leitora, não se incomode com suas fraquezas, todos exatamente TODOS tem algo que foge o controle, não se cobre assim. Eu sou habilitada a 6 anos, sempre dirigi, no inicio me cobrava muito, meus familiares cobravam e me comparava com minha irmã que dirige super bem, dei um basta neles e disse que não quero ouvir mais nada do tipo, vou e volto de onde eu quero ir, se o carro morreu eu ligo novamente, se a vaga de estacionamento tem que fazer baliza eu paro no próximo quarteirão e assim vai ... sou desencanada com relação a dirigir!

  • Legal, minha mulher é psicóloga e não enxerga isso. Vou debater isso com ela. Ela se sentia o máximo no volante até que bateram nela. Acredito que a culpa tenha sido dos dois motoristas. Porém, após esse episódio, o que me estarrece é o carro obsoleto na garagem. Muito luxo!
    Obrigado, por essa luz.

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