Sinto tesão pela amiga da minha esposa. Isso é normal?

“Boa tarde, Dr. Douglas! Estou precisando de um conselho, uma ajuda. Sou casado há 07 anos e tenho uma ótima relação com minha esposa. Somos muito amigos e não falta nada em relação à parte sexual. Além disso, somos bastante companheiros. Entretanto, uma amiga dela me atrai muito, do ponto de vista sexual. Já tentei disfarçar, evito encontrá-la e tento não conversar muito com ela. Apesar disso, meu olhar parece sempre ir sem sua direção. Não tenho essa mesma visão por outras mulheres, nem esse tipo de atração. O que fazer? Isso é normal”?

 

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Resposta:

Querido leitor, a existência humana é marcada por uma coisa chamada desejo. É ele quem nos move nas mais variadas direções. Por exemplo: se eu gosto de churrasco, dirijo-me a um restaurante dessa especialidade. Se fico sabendo que irá passar um filme que me interessa, vou até o cinema assisti-lo. Se quero passar em um concurso público, passo a estudar horas a fio, a fim de atingir meu objetivo. Se acho uma mulher atraente, tento me aproximar e conquistá-la de alguma maneira, e por aí vai. O desejo nos mobiliza a fazer desde as coisas mais simples, como tomar um copo de suco, até as mais complexas como casar, ter filhos e comprar um imóvel, entre uma infinidade de outras.

Freud, em sua imensa capacidade intelectual, descreveu duas condições humanas, as quais ele denominou como princípio do prazer e princípio da realidade. O grande desafio das nossas vidas é fazermos uma comunicação saudável e inteligente entre essas duas instâncias. O princípio do prazer está diretamente ligado à realização dos nossos desejos, como mencionei no parágrafo anterior. Entretanto, é preciso saber que, todos nós, estamos inseridos em uma determinada realidade, permeada por regras, códigos de conduta e princípios, que têm como norteadores as leis, a moral e a cultura. Se eu desejo ter um carro importado, por exemplo, e não tenho dinheiro para comprá-lo, terei de me contentar com um nacional e entender que, de acordo com minhas finanças, seja improvável consegui-lo. Portanto, em nome do meu desejo, eu não posso simplesmente roubar um carro importado de alguém, porque isso seria crime. Na verdade, eu até posso, porém, estarei sujeito a ser preso e punido.

Concluímos, portanto, que o desejo é algo universal e está presente no interior de cada ser humano. Porém, se a humanidade fosse governada exclusivamente pelos desejos, nossa existência seria caótica e, provavelmente, estaríamos c ondenados à barbárie. Neste cenário, tudo seria justificado pelo desejo. Matar, roubar, estuprar, extorquir e muitas violências mais. Por isso, o equilíbrio entre o que desejamos e o que é permitido se fazer, é um dos dilemas do ser humano. A partir deste raciocínio, podemos entender que, frequentemente, burlar regras socialmente e historicamente construídas seja uma clara demonstração da dificuldade em se equilibrar os pratos desta balança.

Dicas pra você: todos nós temos direito a sentir e desejar qualquer coisa. Desde a mais palpável, até a mais estapafúrdia. Contudo, estamos falando do universo interior de cada pessoa. Não temos o direito é de achar que podemos transformar todos os nossos desejos em atitudes, para atingi-los. Querer tudo não só não é possível, como não é permitido. Você tem todo direito de sentir tesão pela amiga da sua esposa. Agora, no momento em que você começa a segui-la constantemente com o olhar, dá-se origem a uma atitude sua. Ou seja, o desejo não está mais apenas dentro de você. Ele começou a transformar-se em ato. A partir daí, você passa a poder criar possibilidades de atrito em seu casamento. Já pensou se sua esposa perceber? Já pensou se a amiga dela perceber e decidir contá-la?

E mais: já pensou se essa amiga começa a sentir-se atraída por você e algo realmente ocorra? Como ficaria essa situação? Como disse neste post, todos nós temos de arcar com as consequências das nossas atitudes. Inclusive você. Portanto, reflita. Será que vale a pena, colocar na berlinda, uma relacionamento tão valioso quanto você mencionou ser o seu? Se tiver medo disso, é melhor se afastar o máximo possível desta amiga e não correr o risco. Mas, como sempre digo aos meus leitores e pacientes, a escolha é sua. Reflita muito pra ver qual caminho vale a pena e lembre-se: ao contrário do que diz o ditado popular, na minha humilde opinião, querer não é poder. Quanto mais inteligentes são as nossas escolhas, maiores são nossas chances de êxito em todos os setores da vida. Pense bem.

Um abraço do

Douglas Amorim

Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade

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