Pergunta de leitora – Meu marido quer me ver transando com outro homem

“Dr. Douglas Amorim, gostaria de uma orientação. Sou casada há 10 anos com uma pessoa e, a princípio, tudo transcorria bem no nosso relacionamento. No início, eu não sabia que ele consumia material pornográfico mas, passados uns seis anos, ao acessar seu e-mail, acabei descobrindo. Hoje em dia, recebe em seu celular, muitas imagens e filmes pornográficos, enviados por amigos, em grupos de whats app (casados e também solteiros). Além disso, busca e assiste, diariamente, vídeos pornôs. Todas as manhãs ele se tranca no banheiro e assiste aos vídeos, se masturbando. Certa vez, esqueceu a porta destrancada e eu o vi fazendo. Pedi pra que parasse e ele falou que todo homem faz isso. Na última semana, acessei seu histórico de buscas na internet, e vi que entrou em um site de garotas de programa da minha região. Nele, constavam buscas de moteis e drive-ins. Não sei mais o que fazer e nem o que pensar. Chorei muito, falei que vi o histórico, e ele negou que tenha saído com estas profissionais. Temos uma excelente vida sexual, apesar de achar estranho ele falar que adoraria me ver transando com outro homem, tendo Inclusive, me pedido para fazer isso, diversas vezes. Nunca aceitei e fico pensando: será que é insatisfação comigo? Já propus separação, mas ele diz que não quer isso porque me ama muito. Pedi para que saísse dos grupos e a resposta foi negativa. Seria o caso de um tratamento psicológico”?

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Resposta:

Querida leitora, na cultura brasileira, o consumo de material erótico ou pornográfico, por parte dos homens, é algo instituído socialmente. Podemos concluir isso, muito tempo antes da difusão de computadores e internet em nosso país. Revistas como Play-Boy, Ele e Ela, VIP, Sexy e uma infinidade de outras, são vendidas aos montes nas bancas de jornal, há décadas. Acontece que, à medida que o computador passou a se tornar mais presente na vida das pessoas, o que antes era impresso, passou a ser digital. E, com a internet, o volume e a velocidade da divulgação de fotos, vídeos etc., tornou-se impressionante. Quando ocorreu a fusão da telefonia celular com a grande rede mundial, aí então, nem se fala. São minicomputadores que temos na palma da mão. O acesso a tudo se dá em poucos cliques. Depois disso, nasceram os aplicativos, como whats  app, por exemplo, nos quais o compartilhamento de todo o tipo de conteúdo, inclusive o pornográfico, ocorre vinte e quatro horas por dia.

Portanto, não é novidade o interesse do homem brasileiro (existe também em outros países mas, quero me ater à nossa realidade) neste tipo de material. Incontáveis foram adolescentes e homens que se trancavam no banheiro com uma revista Play-Boy nas mãos, para se masturbar. A coisa continua do mesmo jeito, porém, agora tranca-se no banheiro com o celular, e não com a revista. Portanto, o consumo de pornografia por parte do brasileiro é uma realidade já há muito tempo. Negar isso ou não querer acreditar é pura ingenuidade. Achar que o homem irá deixar de fazê-lo, também não me parece lá muito inteligente. Todos nós temos direito à individualidade e, a relação que temos com nosso corpo é legítima. Conclui-se que, se o homem ou a mulher quiserem se masturbar, desde que o excesso não prejudique outros setores da vida, não há nada demais. Pelo contrário: é saudável e não acho justificativa lógica pra alguém achar que possa proibir o outro de fazê-lo.

Continuando na análise sequencial da sua pergunta, me deparei com mais dois fatos, além da masturbação e dos vídeos pornográficos. São elas, a verificação do histórico de visitas dele, na internet, e a proposição de uma prática sexual, na qual ele gostaria de te ver com outro homem e a insistência nesta direção. Neste histórico, você verificou sites de garotas de programa e páginas de moteis. O simples fato dele ter feito tais visitas não pode, necessariamente, significar que ele tenha saído ou esteja pensando em sair com alguma outra mulher. Entretanto, quando você analisa o conjunto da obra, não tem como não sentir-se incomodada. E isso é mais do que compreensível. Penso que qualquer mulher se sentiria assim também.

Quanto ao fato dele propor outro homem fazendo sexo com você, aí sim, não estamos falando mais em individualidade, como no caso da masturbação. Agora, você e seu corpo estão envolvidos e, este tipo de prática, só deve acontecer se você tiver vontade e quiser experimentar. Fora isso, nem pensar! Seria uma grande violência que iria fazer consigo mesma. Muitas mulheres acabam embarcando em fantasias sexuais do marido, sem ter vontade ou, sem ter nenhum preparo psicológico para tal proposição. Usualmente ocorre quando se propõe a prática de swing de casais. Se isso não for muito bem trabalhado por ambos, pode ser desastroso para o casamento.

Dicas pra você: é mais do que natural, diante do que relatou, questionar se seu marido está ou não satisfeito sexualmente com você. Porém, não podemos traçar uma linha de raciocínio simplista que seria mais ou menos assim: “se ele gosta de ver filmes pornográficos e se masturbar, além de querer  me ver transando com outro, é porque eu não o satisfaço e/ou  ele não me ama mais”. A sexualidade humana é bastante complexa e não pode ser analisada de forma tão linear. Portanto, acho que você precisa começar a separar melhor as coisas: ele tem todo direito de se masturbar, assim como você. Se vocês se casaram e o casamento não é do tipo “relação aberta”, ele não tem o direito de trair, assim como ,você também não o tem. Você também tem todo direito de propor uma prática sexual e ele recusar, da mesma forma que você pode e deve recusar o que não lhe interessar. Posto isso para ambos, e se isso for respeitado, não vejo motivos para tratamento algum. Inclusive, porque, de acordo com sua mensagem, a vida sexual de vocês é excelente. Por fim, se você não deseja realizar determinadas fantasias dele, coloque um ponto final, diga que isso ultrapassa seus limites e que não deseja mais abordar esse assunto. Boa sorte pra vocês!

Um abraço do

Douglas Amorim

Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade

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