Pergunta de leitora – Meu marido não quer transar comigo. O que fazer?

“Olá, Dr. Douglas. Tenho 27 anos e, no próximo dia 19, completo 01 ano de casada. Meu marido tem 32 anos. O meu problema é que percebi que praticamos pouco sexo, desde que nos casamos. Com o tempo isso só piorou. Temos relação, em média, a cada 02 meses. Não tenho nada a reclamar dele. Seu jeito é atencioso, companheiro, carinhoso e raramente brigamos por alguma coisa. Ele sempre  teve o costume de demorar muito no banheiro, pois fica navegando na internet. Isso nunca me incomodou, até essa ausência de interesse sexual começar a aparecer. Já conversamos várias vezes e ele diz que não sabe o que acontece. Procurou um médico que atestou ausência de problemas físicos e sugeriu um psicólogo. Muitas das minhas amigas mais próximas passam pelos mesmos problemas com seus parceiros. Conversar com elas sobre o assunto, às vezes me faz sentir melhor, mas, na maioria das vezes me deprime, porque elas não acreditam em melhora e acham que “resolver o problema” na rua é melhor. Acontece que eu não me casei pra isso. Já choramos juntos várias vezes. Você acredita que com essa acessibilidade atual a conteúdos pornográficos isso poderia diminuir o interesse físico do homem, como se ele substituísse o prazer físico pelo virtual? É importante ressaltar que não mudamos nada em termos físicos, desde que nos casamos. Nosso problema como casal é realmente apenas nesse ponto. O que fazer”?

 

Envie sua dúvida para perguntaUAI@gmail.com. Não identificamos os autores das perguntas

 

Resposta:

Querida leitora, sempre digo aos meus (as) leitores e pacientes, que todos nós mudamos ao longo dos anos. Mudamos fisicamente e, também, psicologicamente. É um erro acreditar que seremos os mesmos a vida inteira. Nossa pele fica enrugada, os cabelos brancos aparecem, o metabolismo fica mais lento, problemas de saúde começam a surgir. Ninguém escapa disso. Acontece que, além de mudarmos em termos corporais, também temos mudanças em aspectos psicológicos. Uma pessoa que ama a outra numa determinada fase da vida, pode passar a não amá-la em outra, e essa relação, simplesmente acabar. Alguém que tinha fortes convicções sobre um determinado assunto pode ter uma posição diametralmente oposta, alguns anos depois.

Querer que o amor e o ato sexual sejam da mesma forma durante toda a vida, a meu ver, é ingenuidade. Com o passar dos anos, a frequência e a forma das pessoas se comportarem afetiva e sexualmente muda, e isso não tem nada de absurdo. No entanto, todas essas mudanças que estou mencionando, são mais comuns de ser observadas depois um bom tempo de relacionamento. Claro que não existem regras pra isso mas, vocês são bastante jovens e estão casados há muito pouco tempo, pra se ter uma frequência sexual tão espaçada. Volto a dizer: não existe regra para frequência sexual correta. O que estou mencionando, está ancorado nos meus anos de Psicologia, no consultório.

Quando recebo casos como o que você relata, a primeira coisa que peço é uma investigação física, pra descartarmos qualquer problema de ordem corporal. Existem muitas doenças que atingem o corpo humano e provocam diminuição da libido e da potência sexual. Uma delas seria baixa a produção de hormônios, por exemplo. Portanto, penso que vocês tenham dado o primeiro passo de forma correta. Geralmente, encaminho esse tipo de paciente a um urologista ou ginecologista, quando for mulher, obviamente. A partir do momento em que constatamos ausência de anormalidades, usualmente, partimos pra investigação psicológica. Por isso, penso que o médico que o orientou, também tenha tido uma conduta acertada.
Dicas pra vocês:

estou vendo que o sofrimento está muito grande e que vocês têm, inclusive, chorado juntos. O simples fato de você não entrar em colapso com essa situação, já nos traz um bom prognóstico. Muitas mulheres poderiam questionar o amor do marido e, até mesmo, cogitar traição por parte dele. Portanto, se vocês se casaram, é hora de somar forças pra tentar sair disso. A partir do seu relato, penso que duas coisas podem estar acontecendo com ele. Que fique claro, que estou tratando aqui apenas de hipóteses, ok!?

A primeira delas, seria o fato dele estar viciado em vídeos pornográficos e se masturbar constantemente quando os assistir. Já atendi casos em que a masturbação era diária, às vezes até mais de uma vez. Consequentemente, o homem não tinha nenhum apetite sexual em relação à namorada ou esposa, porque ficava “aprisionado” neste mundo virtual, o que, por sua vez, fazia com que ele se satisfizesse (e até mesmo se exaurisse) na masturbação.

A segunda hipótese, seria a dele estar passando por algum quadro ansioso e/ou depressivo, que poderia, perfeitamente, retirar parte do apetite sexual. Apenas como ilustração: um homem desempregado, que está vendo as contas se acumularem diariamente e não consegue trabalho, pode entrar num determinado estado de exaustão psíquica e não ter, realmente, desejo sexual por ninguém. Lembra que eu te falei que doenças físicas podem influir no desejo sexual? Pois é. Doenças psicológicas também podem.

Portanto, querida leitora, o próximo passo seria o de procurar um bom psicólogo para fazer essa avaliação. Inicialmente, não recomendaria terapia de casal, visto que, por tudo que disse, seu casamento vai bem em todos os outros aspectos. Ao que tudo indica, é uma questão individual dele, que tem refletido na vida de vocês. A partir desta avaliação, o profissional irá orientar se às vezes irá querer que você participe da sessão, ou não. Vocês são muito jovens e, uma vez constatado tal problema, deve-se, sim, procurar ajuda. Quanto às suas amigas, eu só tenho a lamentar, se elas acham que, trair seus maridos, é uma solução inteligente pra resolver esse tipo de problema. Sugiro que mostre essa resposta a ele.  Desejo boa sorte a vocês!

Um abraço do

Douglas Amorim

Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade

www.douglasamorim.com.br

Instagram: @douglasamorimpsicologo