Meu marido é mulherengo, gosta de farra e saiu de casa. Não sei o que fazer.

“Olá, Dr. Douglas! Aos 16 anos comecei a namorar meu ex-marido. Na época, ele tinha 22. Vivemos um relacionamento à distância durante um ano e meio. Aos finais de semana, ele ia para minha cidade e, em feriados e férias, eu ia para a cidade dele. Foi um relacionamento bastante complicado, pois  ele foi meu primeiro namorado, e eu era muito possessiva. Confesso que contribuí bastante com minha imaturidade para o término do nosso namoro, porém, sempre soube que ele me traía. No meu ponto de vista, esse ciúme doentio era alimentando pelo comportamento dele. Terminamos, ficamos dez meses separados e tivemos outros relacionamentos que não deram certo. Quando conversamos logo após o término, ele me pediu pra voltar e eu não quis. Depois de um tempo acabamos voltando. Eu me sentia mais madura, porém, o ciúme voltou e eu percebi que ele literalmente me dava motivos pra isso. Aos poucos, voltei a me sentir insegura, com auto-estima baixa e totalmente dependente dele. Temos um filho que hoje tem quase 02 anos e ele saiu de casa há 02 meses. Enquanto estávamos casados, ele sempre ia pra farra com amigos e não nos tratava (família) como prioridade. Desconfiava de mim e o respeito entre nós acabou. Falamos absurdos um para o outro. Estou muito triste, pois jamais queria ter minha família destruída. Apesar de nossas brigas e diferenças, tivemos bons momentos. Hoje, estamos separados, mas ainda “ficamos”, e sei que ele não fica só comigo! Isso me magoa demais. O que tenho que fazer? Meu casamento ainda tem cura e volta? Aguardo ansiosamente sua resposta. Abraços”.

 

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Resposta:

Querida leitora, o relacionamento de vocês, parece ser algo do tipo “jogar gasolina na fogueira”. Mas, o que seria exatamente isso? Eu explico. Você já tem uma dificuldade psicológica que é demonstrada por meio do seu ciúme e, por consequência, sentimento de posse. Por outro lado, acabou se casando com um sujeito que te traía reiteradamente e que sempre colocou a farra e a companhia dos amigos, em primeiro lugar, deixando você e seu filho em segundo plano. Honestamente, chega até a me surpreender o fato de, mesmo tendo consciência deste tipo de comportamento dele, acabar se casando e ainda por cima, engravidando. Não estou dizendo que deva se arrepender de ter tido seu filho. Não é nada disso. Mas, se você sempre desejou ter uma família unida, construída sobre uma base razoavelmente sólida e respeitosa, teria de ter pensado e repensado se esse seria o parceiro ideal.

Pois bem. Não tem como retrocedermos no tempo. O filho de vocês aí está e a separação – pelo menos em relação a não morarem juntos – é fato consumado há mais de dois meses. Este é o cenário que você tem em mãos para reconstruir sua vida. Este seria o ponto zero, ou seja, o ponto de partida para sua reorganização, em termos emocionais. Entretanto, parece que você quer ficar abaixo do ponto zero. Ou seja, em situação negativa. Depois de tudo o que relatou ter acontecido, você ainda se submete a sair do lugar de namorada, que se tornou esposa, para o lugar de mera “ficante”. E mais: se ainda você tivesse me dito que resolveram se reaproximar gradativamente, para verificarem a possibilidade de reconstrução do relacionamento e da família, eu até conseguiria compreender. Agora, o que mencionou, é da ordem do incompreensível, na minha humilde opinião. Você passou fazer o papel de “ficante”. Aliás, melhor dizendo, uma das “ficantes”, visto que, existem mais mulheres que ocupam a mesma posição na vida dele. É isso mesmo o que deseja para sua vida?

O fato de termos defeitos não pode legitimar ao outro nos tratar da forma como bem entender. Se você é ciumenta, chata, agitada, ou seja lá o que for, isso não dá direito do seu marido te maltratar. Ninguém tem o direito de desrespeitar a nossa dignidade, tanto na esfera física, quanto na psicológica. Entretanto, quando não nos posicionamos de forma inteligente do ponto de vista emocional, demarcando os limites e mostrando até onde a pessoa pode ir, abrimos a possibilidade para que sejamos tratados pelo outro como ele bem entender. E é isso que você tem feito ao longo dos tempos. Namorando, se casando e engravidando dele, mesmo sabendo dos casos de infidelidade, entre outras coisas, você acabou passando a mensagem de que, mesmo contrariada, aceitava. Foi por isso que sua relação durou tanto tempo, até chegar a um ponto insustentável.

Dicas pra você: é impossível dizer com certeza se seu casamento tem volta e cura. No entanto, o que posso afirmar é que, essa possibilidade, pelo e-mail que me mandou, é muito remota. Em primeiro lugar, porque ele não tem o tipo de comportamento que você gostaria em um marido. Ou seja, alguém que desse prioridade à família e que não estivesse aberto a relações extra-conjugais. Ao que tudo indica, ele não está muito disposto a isso. Se estivesse, teria se proposto agir diferente. Percebe que ele está fazendo o contrário disso? Continua com várias mulheres, entre elas, você, só que, agora, não morando mais debaixo do mesmo teto. Tudo continua na mesma pra ele, porque você continua se submetendo ao mesmo formato de relação. Ou seja, se submetendo aos desejos dele. E você? Deseja o quê para sua vida? Preste bastante atenção porque, enquanto fizer esse jogo, a tendência é que tudo fique como está. Muito cuidado pra não ficar repetindo, eternamente, um modelo de relação que não deu certo. Quando queremos verdadeiramente ficar com uma pessoa, as atitudes têm de ser muito diferentes das apresentadas por ele. Boa sorte e cuide-se aí!

 

Um abraço do

Douglas Amorim

Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade

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