“Dr. Douglas, tenho 51 anos e 02 filhos com mulheres diferentes. Reencontrei, recentemente, com uma antiga ex-namorada. Começamos a nos relacionar intensamente, embora morando em cidades diferentes. O início foi maravilhoso. Depois de algum tempo, comecei a observar comportamentos estranhos, como ciúme doentio dos meus filhos e de suas mães (que são bem mais novas que ela, que tem 47), de familiares etc. Além disso, começou a fazer cobranças fortes quanto a planos, casamento, viagens, férias conjuntas (apesar de o trabalho dela não permitir), entre outras coisas. Nunca neguei meu desejo de casar, mas, pedi que adiássemos um pouco, em função de uma dificuldade financeira momentânea. Tive também meus momentos de ciúme (light) por conta do casamento fracassado dela, que não lhe rendera filhos. Como resultado desse casamento desfeito, ela desenvolveu pânico e depressão. Recentemente, depois de um fim de semana dos sonhos, ao retornar à minha cidade, fui surpreendido com grosserias e com a afirmação de que o relacionamento acabara. Descarto a possibilidade de outra pessoa. Em leitura sobre isso, me deparei com a Síndrome Borderline. Tudo se encaixa. Tentei reaproximação e fui rechaçado veementemente, sem possibilidade, sequer, de conversar. Alguns comportamentos são típicos: sexo não seguro e não usual, alternância de euforia e depressão, cobrança quanto a presença, ciúme etc. O relacionamento não existe mais. Contudo, fica o questionamento: será que eu deixei de fazer algo que pudesse salvar a relação? Obrigado”.
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Resposta:
Querido leitor, algumas características do Transtorno Bordeline são: alterações constantes de humor, irritabilidade, medo de ser abandonado, sentimentos de raiva, impulsividade e sensação de solidão, entre outros. Isso pode levar a gastos desmedidos, consumo exagerado de comida ou outras substâncias, além de descumprimento de regras, em alguns casos. Apesar do que você disse, meus leitores sabem que não faço diagnósticos à distância em hipótese alguma. Primeiro, porque afirmar que ela tem o transtorno, seria antiético de minha parte. Segundo, porque, do ponto de vista técnico, é impossível fazer um diagnóstico psicológico sem estar com o paciente.
Além disso, é importante dizer também para meus leitores, que, nem sempre, determinados comportamentos podem ser sinônimos de doença. Já disse várias vezes que tristeza não pode ser sinônimo de depressão, da mesma forma que uma fase de mais euforia não pode ser patologizada como Transtorno Bipolar. Todos nós temos características de personalidade que, por consequência, norteiam nossos comportamentos e decisões. É bom que se saiba disso; afinal de contas, não somos todos doentes mentais, certo?
A partir do seu relato, muito mais que uma mulher com Transtorno Borderline, vi muito mais uma pessoa insegura e com medo de te perder, do que qualquer outra coisa. É claro que ela pode ser Borderline, mas, como disse, não tenho com levar a análise por esse ângulo. Pelo que percebi, o ciúme dela, em relação às mães dos seus filhos, sobretudo pelo fato delas serem mais jovens, foi uma demonstração clara de insegurança e, obviamente, auto-estima baixa. Além da insegurança dela, pude perceber impulsividade e um certo egocentrismo mais um menos da seguinte forma: se as coisas não acontecerem exatamente do meu jeito, não me servem. Pessoas egocêntricas acham que o mundo gira ao redor delas e, usualmente, têm baixa tolerância à frustração. Reações explosivas e impulsivas são comuns.
Dica pra você: pra conseguirmos nos relacionar socialmente, profissionalmente, afetivamente etc, temos de construir habilidades diversas. Duas delas são a compreensão e a paciência. Parece que ela não tem nenhuma das duas, porque não conseguiu compreender seu momento financeiro e não soube esperar o tempo possível das coisas acontecerem. Imaturidade pura a meu ver. E olha que estamos falando de uma mulher de 47 anos. Por isso, sempre digo que maturidade, não necessariamente tem a ver com idade. Ao exigir todas as coisas da forma que mencionou, ela simplesmente te deixou “escorrer por entre os dedos”. E, é impressionante o número de pessoas que têm tudo nas mãos para viverem felizes e acabam colocando tudo a perder.
Sinceramente, não vejo nada que você pudesse ter feito pra contornar a situação. Em primeiro lugar, ela sequer se propôs a discutir o que poderia ser melhorado. Sua escolha foi ser taxativa quanto ao término e ponto final. Quando a pessoa fecha todas as possibilidades de diálogo não há o que ser feito. Sugiro que siga seu caminho e tente virar a página. Caso ela te procure, pense muito se a vale a pena reatar com alguém tão inconstante. Relacionamentos afetivos existem pra nos fazer bem. Pra trazer paz, equilíbrio, amor, segurança e conforto mental. Essas relações que trazem tormenta interna e externa devem ser questionados, e muito.
Um abraço do
Douglas Amorim
Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade
www.douglasamorim.com.br
Instagram: @douglasamorimpsicologo
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Primeiramente, parabéns ao Dr. Douglas pelas respostas sempre muito sensatas e esclarecedoras.
Bem, eu não sou psicólogo, mas depois de ter tido um longo e traumático relacionamento com uma borderline, estudei muito sobre o assunto e arriscaria a afirmar que você está certo ao desconfiar que a sua ex é uma border. Além das características que você citou, também é típico de quem sofre com este transtorno amar demais o companheiro em um momento mas, ao menor sentimento de abandono (mesmo que imaginário), passar a odiá-lo e maltratá-lo impiedosamente. Daí vem o chamado “pensamento em preto e branco”, ou “oito ou oitenta”. Depois o border se arrepende e recomeça o ciclo, indefinidamente.
Assim, concordo plenamente com o Dr. Douglas. Não havia nada que você poderia ter feito para salvar a relação. Não se culpe. Conviver com um(a) border é como atravessar um furacão e querer sair ileso do outro lado.
Corra o máximo que puder. “Simplesmente caia fora; esqueça qualquer perda que sofreu em sua experiência e fique feliz de não ter perdido mais”.
Salve sua vida e sua sanidade mental.
Obrigado pelos elogios, Gustavo! Grande abraço!