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“Minha avó está prestes a morrer. Estou desesperada!” Leia.

“Olá, Dr. Douglas Amorim. Minha avó descobriu, há pouco mais de um ano, um câncer muito agressivo, e vem lutando bravamente contra a doença. Ao longo desse tempo, a doença vem se complicando. Ela já passou por várias internações e cada dia surge um novo problema. Ela já fez quimioterapia, radioterapia, além de outros tratamentos alternativos (e muito caros por sinal), mas, os médicos alegam que não há mais tratamento e que não existe cura para o tipo de câncer dela. O problema é que ela é uma das pessoas que mais amo nessa vida e com quem sou mais apegada. Fui criada com ela e a tenho como minha segunda mãe. Impossível descrever o sentimento que tenho por minha avó; temos um vínculo inexplicável. A sensação de impotência é terrível. Estou sofrendo muito nesse último ano e, a cada dia, fico mais apavorada com o medo de receber a notícia que ela se foi. Na realidade, sinto pânico ao pensar na sua morte. Penso que não serei capaz de suportar e que vou entrar em depressão. Nunca perdi ninguém (próximo a mim) e a morte é algo que me apavora. Passo noites em claro, chorando, e não penso em nada além disso. Isso é normal? Como lidar com isso? Por favor, me ajude. Obrigada pela atenção, e abraços”.

 

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Resposta:

Querida leitora, a morte é um tema que, na atualidade, representa um verdadeiro drama para as pessoas. Lembro-me de um livro que li, já há alguns anos, chamado História da Morte no Ocidente. É muito interessante constatarmos que, em séculos passados, antes da invenção da instituição hospital, as pessoas morriam em casa e, a forma delas lidarem com esta fase da vida, era totalmente diferente da forma como lidamos hoje. A morte era mais próxima das pessoas e a coisa acontecia mais ou menos assim: um familiar estava bastante adoentado em casa e não tinha condições de melhorar. As pessoas tinham um contato constante com o doente e, por vezes, até mesmo faziam-se comemorações (festas mesmo), na casa do enfermo. Todos estavam muito próximos daquele sujeito, que estava quase desenganado, inclusive as crianças. Hoje em dia, muitos pais escondem o tema morte dos filhos. Quando alguém falece, constantemente escutamos frases como “fulano viajou” ou “ciclano virou uma estrelinha no céu”. Sou totalmente contra este tipo de conduta.

A partir do advento do hospital, as pessoas doentes pararam de morrer em casa, a não ser em casos de morte súbita, é claro. Com isso, o doente ficou mais longe dos familiares e do dia a dia. Ou seja, a morte ganhou um distanciamento de todos nós. Hoje em dia, recebemos a notícia do falecimento de alguém por telefone. Isso foi fazendo com que ficássemos mais desacostumados com o cenário de uma pessoa doente, sobretudo, gravemente doente, no leito de morte. Desta maneira, o tema passou a representar uma espécie de tabu porque, quanto menos acostumados estamos como determinado assunto, possivelmente teremos mais dificuldades em lidar com ele. Isso é exatamente o que você está passando. A morte começa a se tornar algo inconcebível e você começa até a se fazer questionamentos sobre a sua capacidade de lidar e superar a perda de alguém. De acordo com seu relato, tem receio de entrar, até mesmo, em Depressão.

O fato de nunca ter perdido alguém tão próximo, também faz com que seu temor aumente. Afinal de contas, quando temos alguma experiência sobre determinado aspecto, a sua repetição não representa algo necessariamente novo. Isso é muito comum em grávidas do primeiro filho e outras que já tiveram uma ou mais crianças. O receio por sermos marinheiros de primeira viagem em determinadas questões é inteiramente natural e deve ser entendido como algo que faz parte do processo. Quanto à sensação de impotência, a própria palavra significa, de acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “falta de poder, força ou meios para realizar algo; impossibilidade”

. Muitas vezes, nós, seres humanos, temos a sensação de estarmos no controle de tudo. De repente, a vida vem e “dá um tapa em nossa cara”, dizendo que a coisa não funciona bem assim. Isso que dá sermos tão pretensiosos. Ou seja, não há o que se fazer para curar a sua avó, de acordo com o que foi apresentado pelos médicos. É muito triste ouvir uma notícia como essa, mas, não há o que ser feito. A notícia será dada, mais cedo, mais tarde, e é necessário que comece a se preparar para isso, de forma honesta consigo mesma.

Dicas pra você: mas o que eu estou querendo dizer com forma honesta? A resposta é bem simples. É tentar, na medida do possível, aceitar a condição existencial que atravessa a vida de todos nós. Perceba que estou dizendo aceitar, o que é bem diferente de gostar. Eu não seria tolo de pedir-lhe tal coisa. Aceitação, neste aspecto, é o entendimento de que ela está perto de completar seu ciclo de vida e que você procurou se relacionar com ela da melhor maneira possível. É pensar que procurou ser uma boa neta e mostrar pra ela que, mesmo neste momento de dificuldade, que você está ao seu lado para o que der e vier. Isso sim está ao seu alcance e é controlado por você. Procure proporcionar a ela coisas  que você sabe que ela gosta e não transmita tristeza. Isso somente irá piorar o quadro a sua avó.

Chegou a hora de começar a refletir na sua capacidade de levar sua vida e bem, diante da ausência dela. Logicamente, haverá um período de luto e tristeza, que faz parte do processo de elaboração psicológica da perda. Você mencionou que tem medo de ficar deprimida. Essa é uma possibilidade? Sim. Uma certeza? Não. E se vier a acontecer? Iremos tratar com o que existe de melhor para que você não continue neste quadro. Vamos começar a puxar um pouco mais a sua atenção para as outras esferas da vida – trabalho, profissão, amigos, família, dinheiro, estudo etc. Essas coisas também precisam dos seus cuidados. Por fim, gostaria de enfatizar que, a aceitação de determinadas condições de vida, é algo extremamente importante, porque ela é quem nos impedirá de mergulharmos em sentimentos nada edificantes como revolta, negação, medo, melancolia etc. Pense nisso e tente modificar seu olhar e sua conduta para com sua avó, para que ela faça sua passagem da maneira mais serena possível. Estou aqui na torcida para que tudo transcorra bem, dentro do possível, é claro.

Um abraço do

Douglas Amorim

Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade

Consultório: (31)3234-3244

www.douglasamorim.com.br

Instagram:@douglasamorimpsicologo

 

 

 

 

 

Douglas Amorim

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