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Psicólogo graduado pela Universidade FUMEC, Pós-graduado em Psicologia Médica pelo departamento de Psiquiatria e Neurologia da Faculdade de Medicina da UFMG e Mestre em Educação, Cultura e Sociedade pela UEMG, tendo desenvolvido dissertação na área de Violência Contra a Mulher.

Pergunta de leitora – Como saber se estou com Depressão? Qual é o tratamento?

depressao

Envie sua dúvida para perguntaUAI@gmail.com  Não identificamos os autores das perguntas

 

“Olá, Dr. Douglas, tudo bem? Gostaria de saber se é possível uma pessoa leiga avaliar se alguém próximo a ela está com depressão. O isolamento e a falta de ânimo podem ser indícios disso? E o que poderia ser feito para ajudá-la? Obrigada e aguardo sua resposta”.

 

Resposta:

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer a todos que Depressão é uma doença. Infelizmente, com o passar dos anos, o uso desta palavra foi banalizado, ao ponto de qualquer tristeza ser chamada de Depressão. Tristeza é um sentimento como qualquer outro que perpassa a vida humana. Sentimos alegria, raiva, medo, ciúme, inveja, coragem e, obviamente, tristeza. Quando acontecimentos do dia a dia nos aborrecem e ficamos tristes, é preciso entender que isso é uma condição absolutamente normal e esperada. Como não ficar triste com a perda de um emprego que tanto se gostava? Ainda mais nestes tempos de crise. Como não ficar triste se uma pessoa que você ama muito, simplesmente terminar o relacionamento com você da noite para o dia? Não somos robôs, ora. No entanto, espera-se que, passado um período, a pessoa se reorganize emocionalmente e volte a tocar a vida.

Agora, quando a pessoa fica estagnada nessa tristeza durante um tempo considerável e começa a apresentar alguns outros sintomas (que serão descritos na sequência), podemos começar a pensar em Depressão. Ou seja, a partir daí, estamos falando de uma doença. É importante dizer também que um quadro depressivo, não necessariamente tem de ser desencadeado por algum fato específico ou circunstância. Existe a possibilidade de um desequilíbrio bioquímico cerebral, no qual substâncias conhecidas como neurotransmissores, ficam de certa forma “desregulados” e podem, também, desencadear sintomas depressivos.

A Depressão, em geral, pode ser diagnosticada em três níveis: leve, moderada e grave. Na Depressão leve, a pessoa dá conta de fazer as suas atividades do dia a dia, no entanto, fazendo algum esforço a mais do que o usual. No quadro moderado, possivelmente ela dará conta, mas, terá de fazer um esforço bem maior, ao passo que, no nível grave, dificilmente ela conseguirá seguir sua rotina. Não é prudente dizer que uma pessoa leiga possa diagnosticar um quadro depressivo, inclusive porque, esse tipo de avaliação, deve ser feito apenas por profissionais de saúde. Entretanto, levando-se em consideração o que foi dito até o momento, acrescentando-se o conhecimento do sintomas descritos a seguir, é possível sim, uma pessoa que não seja da área de saúde, identificar alguns sinais para, a partir desta constatação, buscar ajuda profissional.

Basicamente, os critérios diagnósticos para Depressão são:

Cinco ou mais dos sintomas seguintes presentes por pelo menos duas semanas e que representam mudanças no funcionamento prévio do indivíduo; pelo menos um dos sintomas é: 1) humor deprimido ou 2) perda de interesse ou prazer

  1. Humor deprimido na maioria dos dias, quase todos os dias (por exemplo, sente-se triste, vazio ou sem esperança) por observação subjetiva ou realizada por terceiros;
  2. Acentuada diminuição do prazer ou interesse em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjetivo ou observação feita por terceiros);
  3. Perda ou ganho de peso acentuado sem estar em dieta (por exemplo, alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês) ou aumento ou diminuição de apetite quase todos os dias;
  4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias;
  5. . Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outros, não apenas sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento);
  6.  Fadiga e perda de energia quase todos os dias;
  7.  Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada, quase todos os dias (não meramente auto-recriminação ou culpa por estar doente);
  8.  Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros);
  9. . Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, ou tentativa de suicídio ou plano específico de cometer suicídio;
  10.  Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

 

Dica pra você: o desânimo e o isolamento, por si só, não servem para que um quadro depressivo seja diagnosticado. Como pôde ser visto, é necessário que o indivíduo apresente outros sintomas para que possamos falar em doença. Inclusive porque, muitos de nós, em determinadas épocas da vida e por motivos diversos, podemos estar mais desanimados e/ou sem vontade de conviver com muita gente, não é mesmo? Obviamente, isso não significará que estamos deprimidos.

Quanto ao que poderia ser feito para ajudar uma pessoa deprimida, sem sombra de dúvida,  a melhor orientação é procurar por ajuda especializada. Como mencionei há pouco, existem níveis diferentes de Depressão, que requerem abordagens diferentes. O que vou dizer a seguir, tem relação direta com minha experiência clínica ao longo de praticamente 20 anos de Psicologia, e tem se mostrado bastante eficaz. A primeira coisa a se fazer é procurar um bom psicólogo. Mas, por que psicólogo e não psiquiatra? A resposta é muito simples: em um bom número de casos, a psicoterapia pode ser suficiente para que o paciente reorganize sua vida e saia do quadro depressivo, sem a necessidade de medicação. A partir dessa avaliação inicial com o psicólogo é que se diagnosticará o nível da doença e o formato do tratamento.

Nos casos em que se percebe que apenas a psicoterapia será insuficiente para o paciente (e isso irá depender da capacidade avaliativa do psicólogo), faz-se necessário o encaminhamento para um profissional psiquiatra, objetivando administração de medicação. Nestes casos, o trabalho de psicoterapia associado à medicação antidepressiva indicada pelo médico, é o melhor caminho. Se for necessário usar medicação, não há o que temer. Muita gente diz que tem medo de ficar dependente de antidepressivos. Vale o registro: antidepressivos não causam dependência. Se você está assim ou conhece alguém que esteja apresentando os sintomas descritos neste post, o melhor que se pode fazer é procurar ajuda profissional o quanto antes. Quanto mais se demora, mais sofrimento e mais difícil se torna o tratamento.

Um abraço,

Douglas Amorim

 

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