Operação Lioness é a nova criação de Taylor Sheridan

O incansável Taylor Sheridan, criador, produtor e roteirista dos sucessos televisivos atualmente em exibição Yellowstone e Tulsa King, ataca novamente. Saindo um pouco do regionalismo dessas duas atrações, ele criou Operação Lioness (Special Ops: Lioness), cujos oito episódios da primeira temporada já estão disponíveis no Paramount+ (ou, no nosso caso, no Prime Video). Não é nada que vá mudar o panorama da televisão, mas tem diferenciais bem interessantes e deve arrebanhar uma boa quantidade de espectadores.

A principal característica a se reparar em Lioness é o elenco. À frente, ninguém menos que Zoe Saldana, que tem participação em três grandes franquias do cinema: Guardiões da Galáxia, Star Trek e Avatar. Ela consegue trazer alguma simpatia a uma personagem bem antipática, uma agente da CIA que lidera uma equipe que planta espiãs próximo a alvos da agência para eliminá-los. A mais nova escolhida, Cruz (Laysla de Oliveira, de Locke & Key) é uma fuzileira naval durona que passou por situações difíceis na vida e se alistou. Depois de se destacar em algumas missões, ela é recrutada por Joe. Oliveira também segura bem a tarefa e bate de frente com Saldana quando necessário.

Enquanto o pessoal da linha de frente não é muito conhecido, os superiores são mais marcantes. Logo acima de Joe, temos a burocrata vivida por Nicole Kidman (de O Homem do Norte, 2022), cuja participação é pequena, porém impactante. Kaitlyn parece ficar apenas atrás da mesa, supervisionando o grupo, mas não nega se aproximar da ação quando necessário. Ainda acompanhamos, em paralelo, a história dela com o marido (Martin Donovan, de Tenet, 2020), um figurão do mercado financeiro que parece ter mais acesso a informações privilegiadas que ela.

Completando a hierarquia de poder, temos Michael Kelly (da série de Jack Ryan) como o diretor da CIA, um sujeito que fica pendendo entre sua equipe e os peixes mais graúdos que frequentam a Casa Branca. Entre essa turma, temos o Secretário Mullins, uma figura detestável e contraditória interpretada com um prazer sádico por Morgan Freeman (de Despedida em Grande Estilo, 2017), ao lado de Jennifer Ehle (de Ela Disse, 2022) e Bruce McGill (de Reacher). Com maior ou menor importância para a trama, todos funcionam bem, fechando um time muito competente.

O problema em Operação Lioness começa a aparecer nos episódios finais. Algumas pessoas parecem ter se incomodado com a forma como os militares e a CIA são mostrados, soldados resignados e incansáveis que se sacrificam pelo bem mundial – e não só dos Estados Unidos, veja como são bonzinhos! O defeito maior, no entanto, é a pressa com que o roteiro resolve as coisas, deixando alguns buracos pelo caminho e levando a uma conclusão nada satisfatória. Se houver uma segunda temporada, ainda sem confirmação, será primordial corrigir esses erros.

A personagem de Stephanie Nur é o alvo da operação por ser filha de um terrorista

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Poirot investiga um crime na Noite das Bruxas

Depois de esclarecer Um Assassinato no Expresso do Oriente (2017) e uma Morte no Nilo (2022), Kenneth Branagh leva Hercule Poirot para um exílio em Veneza. A Noite das Bruxas (A Haunting in Venice, 2023) é a nova aventura do detetive belga nos cinemas, mais uma vez com o diretor irlandês à frente de um grande elenco. A diferença, aqui, é a fonte: ao invés de um medalhão, foi adaptado um livro considerado menor e menos interessante da premiada Rainha do Crime, Agatha Christie.

Chamar de adaptação é até complicado, já que o roteiro escrito por Michael Green (também dos outros dois) aproveita muito pouco da obra de Christie. A ideia de uma trama passada na noite do Halloween e alguns nomes são usados, mas o roteirista para por aí, criando a história e os personagens praticamente do zero. Poirot está famoso por ter suas peripécias narradas numa série de livros bem vendidos e tem uma fila em sua porta. O que não falta é gente pedindo a ajuda do detetive, mas ele pendurou as chuteiras e não atende mais ninguém. Isso, até aparecer uma velha amiga (abaixo).

A escritora dos tais livros da versão fictícia de Poirot, Ariadne Oliver (Tina Fey, eternamente do Saturday Night Live), é uma das poucas pessoas que consideram o detetive um amigo. E ela precisa urgentemente de um novo sucesso literário, o que a leva a querer desmascarar uma notória médium, a Sra. Reynolds (Michelle Yeoh, de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, 2022), para ter sobre o que escrever. E a ocasião ideal é a festa de Dia das Bruxas oferecida pela rica cantora Rowena Drake (Kelly Reilly, de Yellowstone), que será seguida por uma sessão espírita.

Esse é o pontapé para mais uma oportunidade para Poirot mostrar o tanto que é inteligente e, ao mesmo tempo e na mesma proporção, irritante. No entanto, Branagh escolhe uma abordagem mais discreta, como se de fato o personagem estivesse cansado. Tanto brilhantismo afasta outras pessoas, tornando a vida dele bem solitária. Tanto vivendo o protagonista quanto comandando a produção, Branagh mostra que já conhece bem aquele universo, se mostrando à vontade nas funções. E ainda aproveita para inovar um pouco, trazendo um toque de sobrenatural à trama.

Como observado nos longas anteriores, o elenco deste A Noite das Bruxas é balanceado entre nomes já estabelecidos, como os citados acima, e outros em ascensão, como o futuro He-Man Kyle Allen e Emma Laird (de The Crowded Room), além de figurinhas repetidas para o diretor, caso de Jamie Dornan e do garoto Jude Hill, ambos de Belfast (2021), novamente vivendo pai e filho. Ninguém destoa, compondo um quadro diversificado que ainda conta com atores italianos, já que é lá onde a ação se passa.

O palacete onde a maior parte da história se passa (depois de um trem e um navio) novamente resume os cenários a um, mas muito bem criado e explorado pela fotografia. Em meio a várias estreias de suspense e terror, A Noite das Bruxas é uma que vale o tempo e o dinheiro do espectador. Fica a dúvida se Branagh vai parar por aqui e se dar por satisfeito ou se teremos um novo capítulo das aventuras de Poirot assinado por ele. Se decidir encerrar aqui, encerra bem, e com uma média geral alta.

O design de produção mais uma vez acerta em cheio num filme de Poirot

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Policial acima da média chega ao Prime Video

À primeira vista, zapeando pelo Prime Video, Sede Assassina (Misanthrope ou To Catch a Killer, 2023) pode parecer mais um policial dentre vários que são despejados nos serviços de streaming. Ainda mais com esse título nacional genérico e pouco convidativo. O elenco, no entanto, pode chamar a atenção, com Shailene Woodley e Ben Mendelsohn à frente. Para quem conhece uma das maiores surpresas do cinema em 2014, Relatos Selvagens (Relatos Salvajes), o maior chamariz deve ser o diretor e roteirista argentino Damián Szifron.

Sumido dos longas desde 2014, Szifron volta fazendo jus à fama alcançada. Sede Assassina é um filme inteligente que mexe com alguns clichês do gênero e tem reviravoltas interessantes e condizentes, além de tocar em assuntos indigestos, como a falta de apoio a pessoas com deficiências mentais e a preferência dos agentes de segurança por atender à opinião do público antes de defendê-lo. Se uma crítica pode ser feita ao roteiro de Szifron e Jonathan Wakeham é exatamente sobre a quantidade de temas que ele abarca, sem necessariamente desenvolvê-los.

Mais para Will Graham que para Clarice Starling, a policial vivida por Woodley (de Big Little Lies) bem poderia estar atrás do Dr. Hannibal Lecter. Sabemos pouco dela, mas é o suficiente para o que o filme propõe, e o mesmo acontece com o Agente Lammark de Mendelsohn (de Invasão Secreta) – que tem aqui mais uma interpretação marcante em sua carreira. Assim como em O Colecionador de Ossos (The Bone Collector, 1999), temos um veterano recrutando uma não tão novata habilidosa e observadora para caçarem um assassino. O sujeito faz miséria com um rifle de longa distância e não deixa pistas, dificultando a vida dos investigadores. Contar mais sobre a trama seria um pecado. Duas outras participações que merecem destaque são dos corretos Jovan Adepo (de Babilônia, 2022) e Ralph Ineson (de O Homem do Norte, 2022).

Além de uma montagem ágil e enxuta, chama a atenção a eficiente fotografia de Javier Julia (também de Relatos), que aproveita bem os espaços urbanos e suas luzes e multidões assim como os cenários mais isolados ou internos, situando bem a ação e criando cenas belíssimas. A direção segura de Szifron garante que as peças se encaixem e o resultado é bem satisfatório, bem acima do que é oferecido por aí. Já dá pra ficar na torcida para que o diretor volte ao batente em breve.

Mendelsohn faz o agente que comanda a caçada

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Toc Toc Toc é a novidade de terror da semana

Um garotinho de oito anos diz a seus pais que tem ouvido batidas na parede durante a noite. Eles dizem que deve ser um sonho, ou ratos, e o tranquilizam. As batidas ficam mais frequentes e logo Peter começa a ouvir uma voz o chamando. Essa é a premissa de Toc Toc Toc: Ecos do Além (Cobweb, 2023), longa de terror que chega aos cinemas essa semana. Uma reviravolta no meio do caminho faz parecer que estamos assistindo a dois filmes. Um funciona bem melhor que o outro.

A metáfora do título original, teia de aranha em tradução direta, se perde nesse inexplicável título composto nacional – que parece fazer alusão ao Ecos do Além de 1999 (A Stir of Echoes), e não há relação alguma. É apenas mais um caso da distribuidora jogando contra o filme que distribui. O roteiro, que espera ser produzido desde 2018, é ligeiramente (bem de longe) inspirado pelo conto O Coração Acusador, de Edgar Allan Poe. Fica muito claro que o autor, Chris Thomas Devlin (de O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface, 2022), não sabia direito onde queria chegar. Ou a hora de parar.

Para a sorte de Devlin, o diretor contratado, Samuel Bodin, mesmo sendo estreante, soube criar uma atmosfera de suspense muito eficiente e tira leite de pedra. Mesmo sem escapar de clichês, como uma casa que é escura mesmo com todas as luzes acesas, Bodin consegue manter a tensão. Ainda que tentando ser extremamente amáveis, os pais do menino parecem ameaçadores, o que também se deve ao trabalho correto de Lizzy Caplan (de Castle Rock) e Antony Starr (o Homelander de The Boys). Os dois têm uma dinâmica boa para um casal um pouco frio, o que não é raro pelas vizinhanças reais, e conseguem ser críveis.

Uma boa surpresa, em sua segunda estreia seguida, é o jovem Woody Norman (de A Última Viagem do Deméter, 2023). Ele é quem mais convence na situação que vemos, aqui bem mais introvertido que no longa do Drácula. Quem não tem uma tarefa fácil devido às escolhas do roteiro é Cleopatra Coleman (de Piscina Infinita, 2023), que vive a professora substituta de Peter que só faz burradas. Infeliz mesmo é Devlin, o roteirista, que não se decide quanto ao final e, depois de uma grande bagunça, deixa tudo de qualquer jeito. Começando bem e terminando desse jeito, o longa vai deixar o espectador um tanto confuso.

Coleman não consegue salvar uma personagem mal escrita

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Drácula volta aos cinemas para A Última Viagem do Deméter

No clássico livro Drácula (1897), de Bram Stoker, há um capítulo com os relatos de bordo do capitão do navio Deméter, que teria levado o conde vampiro da Romênia para a Inglaterra, onde ele iria procurar a reencarnação de sua noiva. O roteirista Bragi F. Schut Jr., ao ver a miniatura do Deméter usada na adaptação de 1992 (de Francis Ford Coppola), ficou interessado e começou a desenvolver um roteiro baseado nesse capítulo. Depois de um longo período de gestação, no qual vários profissionais se envolveram, o projeto finalmente saiu do papel. Drácula: A Última Viagem do Deméter (The Last Voyage of the Demeter, 2023) estreia hoje nos cinemas.

Devido à temática semelhante, Schut Jr. buscava criar uma atmosfera à Alien – O 8º Passageiro (1979). Ambos se passam em um ambiente restrito, onde uma equipe deve sobreviver a uma ameaça aterrorizante. A diferença seria no tipo de ameaça: enquanto o alienígena de Ridley Scott era um animal que respondia a seu instinto, o Conde Drácula deveria se alternar entre a forma humana sedutora, sempre com muito charme e inteligência, e a forma monstruosa, sedenta por sangue. No texto de Schut Jr., a primeira forma inexiste, dando a entender que o esperto vampiro seria apenas um monstrinho copiado do Gollum de O Senhor dos Anéis. E o filme se torna um jogo de mata mata – literalmente.

No início, somos apresentados à tripulação do Deméter, cada um fazendo um tipo bem estereotipado. Com a exceção dos três membros principais, eles são apenas figuras genéricas que servirão de alimento, podemos prever. O capitão (Liam Cunningham, de Game of Thrones), o imediato (David Dastmalchian, de Oppenheimer, 2023) e o doutor (Corey Hawkins, de A Tragédia de Macbeth, 2021) são os seres pensantes, os demais só reagem. E há uma moça misteriosa (Aisling Franciosi, de The Nightingale, 2018) cuja participação é um dos principais problemas do roteiro, que tem mais buracos que um queijo suíço.

É preciso reconhecer que A Última Viagem do Deméter tem seus méritos. A fotografia de Tom Stern (de Missão Resgate, 2021) cria momentos inspirados e cenas belíssimas, com tudo pontuado pela discreta trilha sonora de Bear McCreary (de séries como Foundation e Outlander). E a recriação da época, com o navio e todos os apetrechos necessários, é um ótimo trabalho do departamento de arte. No entanto, o diretor, André Øvredal (de A Autópsia, 2016), não consegue manter o suspense que volta e meia atinge e o filme se torna uma tediosa espera de quem morre antes.

É uma pena que, depois de tantos anos para ser realizado e de ter envolvido tanta gente, A Última Viagem do Deméter deixe o público com a sensação de alvo errado. Voo United 93 (2006) faz algo parecido, criando uma tensão enorme imaginando o que teria acontecido no avião desviado no fatídico 11 de setembro de 2001. Mesmo sabendo o final, ficamos apreensivos. Øvredal não é Paul Greengrass e não chega nem perto de criar uma obra interessante, satisfazendo-se com pequenos sustos. E o final sem pé nem cabeça é a cereja do bolo.

Cunningham e Hawkins vivem personagens com um pouco mais de profundidade que os demais

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Tartarugas Ninja estrelam mais uma animação nos cinemas

Entre animações e live actions, desde a década de 80, deu pra perder a conta de quantas aventuras em longa-metragem as Tartarugas Ninja já tiveram até agora, e mais uma chega aos cinemas essa semana. Caos Mutante (Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem, 2023) traz novamente a origem dos heróis e não tem nenhuma ligação com os anteriores. Mesmo soando repetitivo, é divertido e sua grande força é o carisma de seus protagonistas, quatro adolescentes “diferentes” buscando serem aceitos pela humanidade.

Apresentando bem a personalidade de cada tartaruga crescida, o filme logo ganha o espectador. Leonardo é quem toma a frente, sendo o responsável do grupo; Raphael é o explosivo, que precisa controlar a raiva que carrega; Michelangelo faz os planos e logísticas; e Donatello é o geniozinho da informática. E eles contam com a mentoria/paternidade de Splinter, um rato mais vivido que nutre uma certa raiva/medo dos humanos. Os questionamentos que surgem têm um grande paralelo com os dramas vividos pelos X-Men, também mutantes buscando aceitação.

A trama mexe ligeiramente com a história que conhecemos de outras versões, acrescentando alguns elementos e alterando outros, mas nada que vá causar estranhamento. Somos apresentados também a um novo vilão misterioso que está cometendo roubos pela cidade de Nova York e cujo caminho vai acabar trombando com o de nossos heróis. A ligação entre eles é bem construída e dá ramificações interessantes, com um bom desenvolvimento da história. Os também produtores Evan Goldberg e Seth Rogen (ambos de Invencível) assinam o roteiro ao lado do codiretor Jeff Rowe (de A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, 2021).

Mesmo tendo Goldberg e Rogen, notórios comediantes, entre os roteiristas, esse novo Tartarugas Ninja não consegue acertar as piadas que lança, dificilmente arrancando um risinho do espectador. Se não ganha pontos no humor, ao menos o longa é bem sucedido em outras áreas, como na própria animação, bem feita e dinâmica. E os mais velhos vão achar graça das muitas referências e homenagens disparadas a cada quadro, do Ferris Bueller de Curtindo a Vida Adoidado (1986) ao rap de Vanilla Ice que remete ao filme das Tartarugas de 1991: Go Ninja Go! E a cena pós créditos dá o gostinho do que está por vir.

O grupo de mutantes é maior do que apenas os protagonistas

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Orgulho e Preconceito é sempre uma ótima opção

Não me orgulho de admitir que um certo preconceito me fez ficar anos sem ver um ótimo filme, erro corrigido há pouco. Julgando se tratar de uma história muito água com açúcar, daquelas que causam diabetes em quem assiste, evitei Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice, 2005) desde seu lançamento, mesmo vendo elogios sendo tecidos, além de várias indicações a prêmios. O longa marcou o início da carreira do diretor Joe Wright e é certamente uma das melhores adaptações, dentre muitas, da obra da grande Jane Austen.

Para quem não sabe, a história gira em torno da jovem Elizabeth (Keira Knightley), a segunda das cinco irmãs Bennet, muito inteligente e sagaz que, dizem, nunca encontraria um marido à altura. Frequentando a alta roda da sociedade, mesmo não pertencendo a ela, as meninas conhecem gente importante, como o Sr. Bingley (Simon Woods), por quem a mais velha das Bennet, Jane (Rosamund Pike), se interessa. O amigo de Bingley, Sr. Darcy (Matthew Macfadyen), no entanto, é uma figura um tanto enigmática e desenvolve uma relação estranha com Elizabeth.

O clássico livro de Austen já ganhou diversas adaptações, passando por um musical, uma série de “origem”, um terror com zumbis e até uma comédia moderna pouco fiel, O Diário de Bridget Jones (Bridget Jones’s Diary, 2001). Esta versão de 2005, impecável, pode ser considerada a definitiva por seus vários atributos, a começar pelo roteiro de Deborah Moggach, muito bem amarrado, enxuto e que mantém um certo suspense até o fim. A recriação visual da época, com seus bailes, carruagens, figurinos e penteados, é primorosa.

O maior acerto de Wright, dentre vários, é a escolha do elenco, que mistura bem veteranos e iniciantes, todos muito afiados. Knightley, como a mocinha, é um poço de carisma, alternando suas observações certeiras com um sorrisinho tímido. Donald Sutherland e Brenda Blethyn, como os pais Bennet, dão um show todas as vezes que aparecem. E o grande destaque é a atuação comedida de Macfadyen, que vai facilmente de odioso a simpático e tem as prováveis melhores falas do roteiro. Menos conhecidos à época, temos ainda Rosamund Pike, Jena Malone, Carey Mulligan, Kelly Reilly, Rupert Friend e Tom Hollander, todos não menos que competentes.

Nunca é tarde para se corrigir um erro. Se você ainda não viu Orgulho e Preconceito, está em tempo. Não apenas por se tratar de um clássico da literatura, mas por ser um filme muito bem realizado, adaptado e atuado, com um elenco estelar. Indique para o(a) crush, vai ser um belo programa a dois. Ou sozinho(a), mesmo. O importante é não deixar esse filmaço passar em branco.

Uma das melhores duplas da literatura mundial: Elizabeth Bennet e Sr. Darcy

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Besouro Azul é mais um herói da DC nos cinemas

Da mesma forma que foi importante que a DC Comics tivesse uma personagem mulher adaptada para o Cinema, sem que ela dependesse de um homem para ter força e decisão, agora temos um herói latino. A mesma Warner que nos deu Mulher-Maravilha (Wonder Woman, 2017) agora lança Besouro Azul (Blue Beetle, 2023), personagem menos conhecido que promete ter uma boa conexão com o público mais jovem. Ainda mais o brasileiro, já que é coestrelado pela nossa Bruna Marquezine.

Reforçando a suposta força do povo latino e a ligação profunda com a família, o filme pretende usar essa identidade para faturar nas bilheterias, mas só faz repetir estereótipos. Colocando os familiares no meio da ação mais do que Shazam! (2019) o fez, o roteiro de Gareth Dunnet-Alcocer (de Miss Bala, 2019) chega várias vezes ao ponto do ridículo, colocando por exemplo uma dona de casa para pilotar uma nave. Nave esta criada com uma tecnologia que teria sido inventada há anos por um milionário genial e humano. Enquanto estamos falando de um artefato de origem alienígena, entra em cena a suspensão de descrença e compramos a ideia. Agora, dizer que na Terra há certas coisas mirabolantes é demais.

Falando no roteiro, os diálogos muitas vezes são totalmente descabidos, com falas fora de lugar, que não se justificam. Os mexicanos gritam o tempo todo e o herói é inocente ao ponto de achar que argumentando ele vai parar os vilões. Há conveniências a torto e a direito, com as coisas acontecendo só quando precisam acontecer. Afinal, com uma armadura superpoderosa, o problema poderia ter sido resolvido em dois minutos. Temos, no entanto, que aguentar mais de duas horas de sofrimento para que o final óbvio chegue. Não sem antes termos flashbacks melosos e ridículos para explicar o que não precisava de explicação.

A trama de Besouro Azul nos apresenta a Jaime Reyes (Xolo Maridueña, de Cobra Kai), um rapaz de 22 anos que terminou um curso superior e voltou para sua cidade achando que as oportunidades se abririam para ele. Como isso não acontece, ele aceita trabalhos esporádicos e acaba conhecendo Jenny (Marquezine), filha do ricaço que fundou as empresas Kord – nos quadrinhos, Ted Kord é o segundo Besouro Azul, após Dan Garret. O misterioso escaravelho vai parar nas mãos de Jaime e os dois se fundem, dando origem ao herói do título.

O casal central, formado por Maridueña e Marquezine, até funciona, graças ao carisma de seus intérpretes. A vilã principal é uma figura genérica e forçada que a grande Susan Sarandon (de Casamento em Família, 2023) não precisava no currículo dela, dando à personagem o mínimo de dignidade que foi possível. Umas falas canalhas que não vemos em filmes de segunda. O capanga dela, Carapax (nos quadrinhos, o Homem Indestrutível), vivido por Raoul Max Trujillo (de Vingança a Sangue-Frio, 2019), é o típico bandidinho ex-militar de quinta, de longe o pior e mais raso dos personagens. E a família Reyes, com destaque para os veteranos Adriana Barraza (de Rambo: Até o Fim, 2019) e George Lopez (de Reno 911!), só grita e faz gracinhas, irritando a cada poucos minutos.

A provável intenção por trás de chamar um diretor porto-riquenho, Ángel Manuel Soto (de Menudos: Sempre Jovens), e um roteirista mexicano, Dunnet-Alcocer, é dar veracidade à produção com gente que deveria saber o que é ser latino. A impressão que fica é que ter chamado o Seu Antônio da padaria daria no mesmo, e talvez tivesse mais graça. Soto apela para tomadas repetitivas e mostra que, nesse caso, não tem ideia do que está fazendo. Os novos mandachuvas da DC, James Gunn e Peter Safran, deveriam olhar para o outro lado e fingir que esse filme nunca existiu no universo que estão criando.

No Brasil, Bruna Marquezine é o destaque no elenco

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Asteroid City é mais Wes Anderson com elenco estrelado

Fã ou não do diretor Wes Anderson, já dá para ter uma ideia do que esperar de seus novos projetos. Seus filmes mais parecem um compilado de esquetes dos mais variados e esquisitos personagens, alguns mais bem amarrados que outros. Depois do complexo A Crônica Francesa (The French Dispatch, 2021), para não dizer ruim, ele escreveu e dirigiu Asteroid City (2023), mais um longa que conta com um número enorme de estrelas em papéis que vão de pequenos a minúsculos. Alguns nomes que vemos subindo serão surpresa, mesmo ao final da exibição, porque apareceram tão rapidamente que nem deu para notar.

Fazendo uma homenagem aos filmes de ETs e conspirações governamentais, Anderson nos apresenta à Asteroid City do título, um vilarejo construído em torno da cratera de um asteroide, no meio do deserto. Algo como a Los Alamos de Oppenheimer (2023), povoada por alguns civis e muitos militares. Lá será realizada uma espécie de convenção de nerds adolescentes, e todos se reúnem para o evento sem saber que algo muito mais importante está por vir. Importante notar que isso tudo é uma peça escrita pelo premiado dramaturgo Conrad Earp (Edward Norton, de Moonrise Kingdom, 2012), então temos uma história dentro de outra história. Tudo absolutamente ficcional.

Anderson tem seus cupinchas de plantão, aqueles colaboradores que volta e meia dão as caras. Estão lá, pelo menos pela segunda vez com o diretor, Norton, Jason Schwartzman, Tilda Swinton, Liev Schreiber, Jeff Goldblum, Bryan Cranston, Jeffrey Wright, Adrien Brody, Willem Dafoe, Rupert Friend, Jarvis Cocker, Tony Revolori, Bob Balaban, Fisher Stevens, Seu Jorge e Scarlett Johansson, que narra Ilha dos Cachorros (2018). Dentre os marinheiros de primeira viagem com Anderson estão Tom Hanks, Rita Wilson, Margot Robbie, Maya Hawke, Sophia Lillis, Hope Davis, Matt Dillon e Steve Carell, que entrou de última hora para substituir uma figurinha fácil, Bill Murray, que estava com Covid-19.

As atuações dessa turma enorme reforçam o clima de farsa, todos parecem estar um tom a mais, num leve exagero onírico. Isso, além dos cenários minimalistas, que lembram muito uma peça de teatro. Ao contrário do trabalho anterior de Anderson, aqui as várias pontas lançadas acabam se amarrando de forma fluida, tornando a sessão menos sofrida. Ainda assim, é uma obra mais indicada para quem já conhece e gosta da forma peculiar que o diretor tem de encarar o mundo. E seus belos visuais e cores saturadas do deserto.

Anderson levou seu elenco a Cannes e foi ovacionado por seis minutos

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A Era de Ouro é homenagem de filho para pai

Quem gosta de histórias de bastidores da música vai se interessar por essa estreia. Chega essa semana aos cinemas A Era de Ouro (Spinning Gold, 2023), cinebiografia de um produtor musical que descobriu vários artistas e conduziu a carreira de outros já estabelecidos. Como não poderia ser diferente, a trilha sonora é bem recheada e há muitas anedotas saborosas. O problema é o tom de reverência que perpassa por todo o filme, mostrando o protagonista como um ser infalível que acerta até quando erra. Talvez isso se deva ao fato de que o diretor e roteirista da obra seja filho do saudoso biografado.

Quando A Era de Ouro começa, somos avisados pelo próprio Neil Bogart (interpretado por Jeremy Jordan) de que tudo que será mostrado é a verdade – até o que não é. Dessa forma, Timothy Scott Bogart dá uma floreada em várias sequências, inventa outras e pinta um quadro muito elogioso do pai. Por mais que haja um escorregão de caráter aqui e ali, o veterano é mostrado como um ótimo marido, pai, colega de trabalho e chefe, além de um visionário como nunca antes visto. Até o fato de afirmar amar duas mulheres igualmente (sendo uma a esposa) passa tranquilo, como se fosse algo que acontece sempre por aí.

Várias personalidades da música são retratadas, muitas vezes interpretadas por músicos de verdade. Logo, atores de mentira. Jason Derulo (acima) , por exemplo, faz um Ron Isley (dos Isley Brothers) bem fraco. Jeremy Jordan (das séries Flash e Supergirl) é competente no papel principal, mas fica o tempo todo com a mesma cara de novinho, o que dificulta um pouco perceber a passagem do tempo. Michelle Monaghan (de O Dia do Atentado, 2016) e Lyndsy Fonseca (a filha de How I Met Your Mother) se saem bem como as mulheres da vida de Neil, mas têm o mesmo problema com o (não) envelhecimento.

Com uma ótima reconstituição da época, uma fotografia competente, um elenco de apoio bem escolhido (como Dan Fogler, de The Offer) e uma história que é obviamente interessante, fica a impressão de que o diretor Bogart não tem a experiência ou o instinto necessários para conduzir um longa como esse. E a vontade de fazer um tributo ao pai falou mais alto. Com tantos feitos memoráveis, temos que concordar que Neil merecia uma homenagem. O filho só não era a pessoa certa para a missão.

O icônico Giorgio Moroder é um dos personagens, vivido por Sebastian Maniscalco

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