AmarElo e a necessidade das relações

Em cartaz desde 8 de dezembro na Netflix, o documentário AmarElo – É Tudo Pra Ontem (2020) foi baseado na produção e desenvolvimento do premiado álbum homônimo lançado no final de 2019, assinado pelo rapper brasileiro Emicida. Diferentemente de outros documentários inspirados na produção de artistas contemporâneos, AmarElo inova ao ter como foco a história por trás do álbum, ao invés de meramente exibir sua produção.

A partir de um trabalho impecável de pesquisa histórica e iconográfica, é retomada a perspectiva histórico-cultural brasileira da relação de exploração dos corpos negros. Partindo do período escravocrata, seguindo até a construção da cidade de São Paulo como a “terra das oportunidades”, o documentário traz para a contemporaneidade as consequências desse modelo de relação, escancarando questões como racismo estrutural, o papel do samba e a contribuição dos negros para o desenvolvimento do país. Tudo isso se passando no palco do Theatro Municipal de São Paulo – um local marcadamente elitizado e branco.

Contando com participações de artistas nacionais como Zeca Pagodinho, Fernanda Montenegro, Pabllo Vittar e Majur, fica evidente a importância das relações e das trocas, tanto para a elaboração do álbum e do documentário quanto para o contexto cultural brasileiro como um todo. A junção entre o rap e o samba é posta como um trunfo, já que estes estilos musicais potencializam e reforçam as denúncias sobre as condições sociais dos negros no país – precariedade, marginalidade, periferização, invisibilidade etc.

Sob a direção de Fred Ouro Preto, da produtora Café Royal, o longa segue arrepiante do início ao fim. AmarElo extrapola o gênero cinematográfico de documentário e funciona como uma aula sobre a necessidade de valorização das vidas negras e da contribuição delas, enaltecendo diversas figuras como Lélia Gonzalez, Ruth de Souza e, claro, Marielle Franco.

PS: Na data de estreia do documentário completava-se 1.000 dias da morte de Marielle.

Marielle, presente!

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