Longa espanhol apresenta as Origens Secretas

Da última vez que vimos um super-herói espanhol chegar à tela grande, tivemos a engraçada paródia Superlópez (2018), oriunda de uma tirinha de jornal. Dessa vez, como quem assume não ter personagens nesse filão para adaptar, os espanhóis usaram os heróis americanos para criar uma trama de suspense, sempre alternando com bom humor. Origens Secretas (Orígenes Secretos, 2020) bebe em algumas fontes óbvias e usa diversas referências do mundo dos quadrinhos para criar uma obra original e simpática. 

Como uma espécie de mistura entre Seven (1995) e Corpo Fechado (Unbreakable, 2000), o longa começa com uma ação policial dando o tom. Logo, conhecemos nosso protagonista, um detetive sisudo claramente inspirado em Dirty Harry – a semelhança de Javier Rey (de O Silêncio da Cidade Branca, 2019) com Clint Eastwood é grande! Assassinatos escabrosos começam a acontecer e a ligação com o universo das revistas clássicas de quadrinhos faz com que o policial busque a consultoria de um nerd bonzinho e infantilizado. 

Brincando com clichês como a amizade improvável entre os dois, Origens Secretas mistura Marvel e DC buscando criar uma mitologia própria. A delegada que chefia a investigação aproveita o tempo livre para fazer cosplay e gera momentos engraçados. O trio principal é auxiliado ainda por um detetive veterano, pai do consultor, que serve como mentor. E não falta a aparição rápida de um senhor grisalho cuja função parece ser apenas lembrar as pontas de Stan Lee nos filmes da Marvel. 

Na pele do personagem principal, Rey tem uma evolução bacana, mostrando que o contato com os dois viciados em cultura pop o deixa mais leve, menos mal humorado. Brays Efe (astro da série Paquita Salas) e Verónica Echegui (de Estás me Matando Susana, 2016) têm a química esperada de velhos conhecidos e o experiente Antonio Resines (de O Noivo da Minha Amiga, 2020) confere ao Detetive Cosme o peso necessário. Há ainda uma participação pequena, mas significativa, do argentino Leonardo Sbaraglia (de Wasp Network, 2019), o mais famoso do elenco. 

Adaptando sua própria obra, o diretor e roteirista David Galán Galindo faz um bom trabalho aparentemente sem gastar muito. O filme se aproveita de seus cenários fechados e a eficiente fotografia urbana de Rita Noriega e não faz uso de efeitos visuais gritantes, nos apresentando uma aventura bem pé no chão, apesar de suas bases. A trilha sonora de Federico Jusid é propositalmente exagerada, criando um interessante contraponto à pegada realista de Galindo. Em pouco mais de 90 minutos, Origens Secretas diverte e homenageia diversas obras. Sobra até para Star Wars! 

Todo tipo de gente estranha passa pela loja de quadrinhos

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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