Jordan e Foxx lutam por justiça

por Marcelo Seabra

O subgênero “filmes revoltantes” acaba de ganhar outro representante. Luta Por Justiça (Just Mercy, 2019) é mais um longa a trazer uma história de preconceito, que escancara o tanto que o racismo é algo comum na sociedade norte-americana, inclusive nas altas esferas do poder municipal. Para esclarecer um crime sem suspeitos e aplacar a opinião pública, basta acusar um negro, trancafiá-lo e perder a chave. E não se trata de algo acontecido nos anos 50 ou 60, auge da Ku Klux Kan: o fato ocorreu há algo em torno de 30 anos atrás.

Voltando do trabalho, Johnny D. vê um bloqueio policial, para e oferece mostrar os documentos. É quando vemos diversas armas apontadas contra ele e um policial doido para ter um motivo para atirar. Conhecemos também o jovem Bryan Stevenson, um estudante de Direito de Harvard que consegue um estágio trabalhando com condenados à morte. Em meio a tantas outras, essas duas figuras vão se encontrar e fazer história.

Representando esse grande encontro, temos Jamie Foxx (Oscar de Melhor Ator por Ray, 2004) e Michael B. Jordan (o novo Creed da franquia Rocky). Os dois atores chegaram a levantar palpites de indicações a Oscars, tamanha a potência de suas interpretações. Isso não se confirmou, mas a verdade é que, além dos interessantes acontecimentos narrados, eles são a grande razão do investimento no ingresso de Luta por Justiça.

O filme, no entanto, se enfraquece por buscar abraçar o mundo. Muitas subtramas são propostas, e o roteiro acaba tentando cobrir mais do que o espectador dá conta de acompanhar. Talvez, funcionasse melhor como série, dando voz a cada personagem e tendo tempo para fechar cada arco, sem precisar de uma legenda esclarecedora ao final. Algo como Olhos Que Condenam (When They See Us, 2019) fez e deu muito certo. Daria para criar antagonistas menos rasos, caso do xerife (Michael Harding) que fala pouco e fica lançando olhares ameaçadores.

Repetindo a dobradinha de O Castelo de Vidro (The Glass Castle, 2017), Destin Daniel Cretton e Andrew Lanham assinam o roteiro, adaptando o livro do próprio Bryan Stevenson. É claro que a fonte deve trazer diversos dramas que circularam o de Johnny D., que não foi a única vítima de racismo que o advogado conheceu. Mas a adaptação poderia ter sido mais enxuta, o filme não dá conta de acompanhar todos os personagens que apresenta e acaba ficando cansativo. Cretton, também diretor do longa, deveria ter dado mais agilidade a ele, aproveitando melhor a marcante história que tinha em mãos.

Os atores puderam conhecer o verdadeiro Bryan Stevenson

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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