por Marcelo Seabra
Mais um longa argentino a conquistar grande público e chegar ao Brasil é Neve Negra (Nieve Negra, 2017). O suspense reúne alguns dos maiores nomes de hoje do Cinema do país: Ricardo Darín e Leonardo Sbaraglia, além de uma participação do veterano Federico Luppi. Num clima sombrio de isolamento, cercado por árvores e neve, conhecemos uma família marcada por segredos em vias de começar uma disputa por herança.
Sbaraglia (que fez, com Luppi, o ótimo No Fim do Túnel, 2016) vive Marcos, um de quatro irmãos que iam sempre caçar, tradição da qual o pai fazia questão. Uma tragédia os afasta e, anos depois, após a morte do pai, Marcos volta à região para reencontrar o irmão mais velho, Salvador (Darín, de Relatos Selvagens, 2014). Eles precisam decidir o que fazer com a casa e o chalé que herdaram, e a conversa não será fácil. Marcos e Salvador ficaram mais de vinte anos sem se verem e muita coisa virá à tona. Luppi (abaixo) vive o advogado e amigo da família, que tenta mediar a situação.
Depois de dividir a direção de O Sinal (La Senal, 2007) com o amigo Darín, Martin Hodara assume seu primeiro longa sozinho. Com roteiro assinado por ele e Leonel D’Agostino (de Caída del Cielo, 2016), Hodara demonstra ter um bom domínio de câmera e sabe conduzir a tensão crescente. As reações dos personagens são compreensíveis e, à medida em que a ação se desenrola, entendemos melhor o que se passa. Laura (Laia Costa, de Palmeiras na Neve, 2015), a esposa de Marcos, ganha mais destaque e completa um trio bem interessante de se acompanhar.
Ambientado na Patagônia argentina (mas filmado nos Pireneus, no Principado de Andorra), Neve Negra faz um ótimo uso do cenário. A fotografia de Arnau Valls Colomer (de Tarde para la Ira, 2016) consegue tornar um terreno aberto claustrofóbico, dando a impressão de que os personagens estão cercados pela vegetação e não poderão sair. Marcos, com sua vivência na Espanha, parece não se adaptar novamente ao chalé, enquanto Salvador está exatamente onde deveria, num local que combina com a personalidade dele.