Paixão Obsessiva é ruim até no título

por Marcelo Seabra

Depois de uma longa e bem sucedida carreira como produtora, Denise Di Novi resolveu atacar de diretora e sua estreia chega aos cinemas brasileiros essa semana. Só nos resta saber por que raios ela, tão experiente, dirigiria uma bobagem como Paixão Obsessiva (Unforgettable, 2017). A mais batida história da ex que não supera a perda e avacalha os pombinhos ganha nova roupagem e já garante desde já um lugar entre os piores do ano.

Lembrada por um sem número de comediazinhas bobocas, Katherine Heigl (da série Grey’s Anatomy) foi atacar no suspense para dar uma virada na carreira, e só conseguiu provar que não tem outra expressão que não aquele olhar parado de psicopata de butique. Rosario Dawson, ocupada como a enfermeira Claire do Universo Marvel da TV, foi parar nessa furada e é outra que precisamos entender. O triângulo é completo por Geoff Stults (de J. Edgar, 2011), galã genérico que se daria melhor em novelas americanas.

O roteiro de Paixão Obsessiva, escrito por Christina Hodson (de Refém do Medo, 2016) e David Johnson (de Invocação do Mal 2, 2016), consegue ser tão ridículo quanto o título nacional. Julia (Dawson) se muda de cidade para ficar com o noivo (Stults), e vai conviver muito com a filha pequena dele. A ex-mulher (Heigl) do sujeito parece ser perfeita, mas não demora a se mostrar o cão. Julia, recém-saída de uma relação abusiva, sonha em ser feliz para sempre com o bonitão, e por isso sai fazendo uma coisa errada atrás da outra.

Um caso à parte é a maquiagem do longa. Ou não exatamente a maquiagem, que é até boa, mas as consequências das pancadas desferidas. Um ferro batendo na nuca gera tanto hematoma que a pessoa se torna o Duas-Caras do Batman. Uma queda deixa um olho roxo que só um soco bem dado faria. E a marca some em dois tempos, o que é impressionante até para o Wolverine.

Para que um roteiro fraco como esse funcione, precisamos esquecer todos os filmes parecidos que vêm à mente durante a sessão (como Obsessiva, 2009) e aceitar que os personagens vão mudar de atitude – e até de inteligência – conforme a necessidade. Várias situações forçam a barra para que as coisas cheguem onde precisam chegar, como o casal que se senta separado num jantar para permitir que a mulher pense bobagem, a endemoniada aparecer na festa de inauguração de um negócio do ex e por aí vai.

Não se sabe, ao final, o que é pior em Paixão Obsessiva: o roteiro batido e sem suspense algum; a cara de constrangida de Dawson; a expressão congelada de Heigl; ou o resultado das plásticas de Cheryl Ladd, que consegue atuar pior que Heigl, que faz sua filha. A mãe é mais travada que a filha, o que realmente nos faz crer se tratar de uma família. A conclusão não será discutida para não estragar o filme, ou não estragar mais do que a própria equipe já o estragou. Torçamos para que Di Novi tenha melhor sorte na próxima.

Seria um cover da Britney Spears?

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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5 respostas para Paixão Obsessiva é ruim até no título

  1. Rodrigo Rodrigues disse:

    Eu assisti este filme numa cabine aqui no RJ e estou com raiva deste filme até hoje.

    O filme não tem um plano, um cena ou sequencia que justifique seu orçamento, parecendo tudo realmente um grande folhetim, como personagens para lá de unidimensionais. O que dizer daquela câmera subjetiva? Serio que queriam causar tensão e surpresa?

    Abraços

  2. Eleonora Gonçalves disse:

    Eu vi todos esses filmes no ano passado e acho que Paixao Obsessiva deveria estar na lista porque sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação de Katherine Heigl e Rosario Dawson neste filme, já que pela grande experiência que eles têm no meio da atuação fazem com que os seus trabalhos sejam impecáveis e sempre conseguem transmitir todas as suas emoções, inclusive aqui: Paixão Obsessiva vão passar na TV, por se acaso você não tenha visto, essa será uma excelente oportunidade e garanto que você não irá se arrepender.

  3. Lutemberg disse:

    Achei o filme maravilhoso e espero até hoje o segundo filmes.

  4. Pedro Matheus Ribeiro Fernandes disse:

    Cara, discordo em alguns pontos de ti. De fato, o filme não é um suspense padrão, entretanto em vários momentos fiquei com tensão. Por exemplo, na cena de luta entre a Julia Banks e Tessa, pois não sabíamos realmente quem ganharia de fato e quais consequências haveriam.

    Você comentou sobre algumas situações forçadas e o “que ela faz de errado” ao longo da trama. Discordo em vários aspectos. Sobre ela não contar a relação abusiva que teve para o atual e sobre ela ter supostamente perdido o anel, por exemplo, são situações extremamente plausíveis de segredo. A vergonha de ter sido espancada relatada em vários depoimentos que podemos encontrar a rodo na internet explicaria a primeira situação; já o medo da reação do noivo em saber que foi perdido um anel tão importante para ele explicaria a segunda.

    Confesso que a cena final realmente foi frustrante tendo em vista tudo que foi construído, no entanto não estraga a experiência como um todo. É um bom cinepipoca para quem busca isso – como muitas pessoas. Entendo que não chega aos pés de Seven, por exemplo, mas vale o tempo.

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