James Franco e Bryan Cranston se constrangem em comédia

por Marcelo Seabra

Poucas vezes na vida foi produzido algo tão desagradável quanto uma das estreias da semana. Tinha Que Ser Ele? (Why Him?, 2016) se diz uma comédia, mas é daqueles filmes que dependem 97% de piadas de mal gosto sobre sexo e os outros 3% de referências a excrementos e fluídos corporais. Ou seja: talvez uma criança possa achar graça, mas seus pais não a deixarão ver. Ao menos, não deveriam.

A expressão “vergonha alheia” ganha aqui um novo significado. E ele se chama James Franco. Apesar de carismático, o ator já mostrou que não consegue manter distância de projetos caricatos, apelativos e sem graça, como provam Festa da Salsicha (2016), Sexo, Drogas e Jingle Bells (2015), A Entrevista (2014) e É o Fim (2014). Como acontece com Will Ferrell (o vilão de Zoolander 2), Franco parece sofrer de egocentrismo agudo e só se dá bem em projetos que não encabeça, apenas participa.

Outro que passa por um grande embaraço é Bryan Cranston. Com uma longa carreira no Cinema e na TV, o ator ganhou exposição mundial com seu papel em Breaking Bad, série na qual ele vivia um pacato professor de química que gradualmente se torna um implacável traficante de drogas. Aqui, ele faz um pai que sai da fria Michigan para visitar a filha na Califórnia e descobre que o relacionamento dela com o namorado é mais sério do que parecia. Franco é Laird Mayhew, um milionário da tecnologia que tem um estilo de vida caro e espalhafatoso. A descrição mais adequada para ele seria “sem noção”, já que o rapaz faz coisas que ninguém, com o mínimo de juízo, faria ao conhecer a família da namorada.

Com a ajuda dos empregados, como o mordomo engraçadinho (Keegan-Michael Key, de Keanu: Cadê Meu Gato?!, 2016), e de algumas figuras reais, como o empresário Elon Musk e o cozinheiro Richard Blais, além da voz de Kaley Cuoco (de The Big Bang Theory) como uma SIRI melhorada, Mayhew quer proporcionar aos Flemings uma memorável comemoração de Natal. Ned, o pai, só passa raiva, mesmo que a esposa e o filho encontrem formas de se divertirem. Quem realmente vai sair da sessão nervoso é o público.

Filmes como Minha Mãe É uma Peça 2 (2016) são apenas sem graça, daqueles que você fica na expectativa de ver algo engraçado e inteligente e isso nunca acontece. Já em Tinha Que Ser Ele?, não só o humor passa longe como é tudo de péssimo gosto. Não só há piadas de banheiro, mas também no banheiro. Assim como Paulo Gustavo, Franco, seu diretor e roteiristas (entre eles, Jonah Hill, de Cães de Guerra, 2016) parecem achar que falar palavrão é engraçado por si só. Desse jeito, não há necessidade de se esforçar para criar algo que preste. É puro desperdício de trilha sonora e de participações especiais. Ah, e tem cena pós-créditos, e ela é tão dispensável quanto o resto do filme.

O constrangimento de Cranston é visível

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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