por Marcelo Seabra
É de se pensar o que teria feito a premiada e respeitada Reese Witherspoon, que recentemente fez o bom drama Livre (Wild, 2014), aceitar participar de Belas e Perseguidas (Hot Pursuit, 2015), besteira que estreia essa semana nos cinemas. Não só como atriz, mas também como produtora. Usando uma variação de uma ideia já muito explorada nas telas (de Fuga à Meia-Noite, 1988, a Uma Loira em Apuros, 1994), com um título nacional que não ajuda nada, a trama usa as mesmas piadas o tempo todo e faz parecer que o resultado é muito mais longo que seus 87 minutos.
A protagonista, Cooper (Witherspoon), é uma policial que está acostumada com a profissão desde que era pequena e rodava com o pai na rádio patrulha, e seguir os passos dele era o caminho óbvio. Depois de um fiasco profissional, ela é colocada na geladeira e tem sua grande chance ao precisar acompanhar uma testemunha que irá depor em outra cidade. Começam aí as perseguições e confusões que vão tentar manter o espectador acordado e interessado. E a aposta dos realizadores fica na química entre Witherspoon e sua colega, a colombiana Sofía Vergara (da série Modern Family), que carrega no sotaque, abusa de diálogos em espanhol e continua sendo apenas linda.
Roteiristas em várias séries de TV, como Ben and Kate, David Feeney e John Quaintance criam duas ou três piadas com as características das atrizes e dependem delas, caindo numa repetitividade sem tamanho. Mais incompreensível é brincar com o suposto bigode de Witherspoon, que simplesmente não existe, mas é mencionado várias vezes. As situações vividas pelas personagens beiram o ridículo e muitas vezes nem fazem sentido, elas teriam que ser no mínimo imbecis para tomarem tais atitudes. Alguns trechos até funcionam, mostrando a fragilidade de um roteiro que serviria para, no máximo, esquetes do Saturday Night Live.
Apesar do carisma e da beleza, Vergara continua não sabendo atuar. Como ela, vários outros membros do elenco deixam a desejar, e Witherspoon se limita ao que o texto propõe, carregando tudo nas costas. A policial Cooper tem uma jornada previsível desde o primeiro momento, com todas as mudanças mapeadas logo após o contato inicial. Vários filmes da diretora Anne Fletcher, como A Proposta (The Proposal, 2009), trazem personagens femininas fortes, mas unidimensionais e até irritantes. Parece que há uma necessidade de afirmação de algo como um poder feminino, o que seria interessante e bem-vindo se acertasse o alvo. O Cinema precisa de fato de personagens femininas fortes, e de atrizes, diretoras e todos os demais profissionais também. Mas apenas defender essa proposta não é o suficiente para salvar uma produção ruim.
Infelizmente, desconhecemos todas as engrenagens e acordos que rolam por baixo dos panos de Hollywood, onde a arte muitas vezes perde para o apelo comercial. Whiterspoon passa por uma vergonha semelhante a de Stallone tentando fazer comédias esquecíveis como ‘Oscar – Minha Filha Quer Casar’ e Whoopi Goldberg, que por forças contratuais, teve que entrar em roubadas como o filme com um dinossauro detetive, se alguém teve o azar de dar de cara com esses filmes, sabe do que estou falando. Veja por exemplo o milhar que Stallone acertou com ‘Rocky – Um Lutador’ e que agora é a sua garantia de se aposentar com mais dignidade.