The Rock se mete num Terremoto na Califórnia

por Marcelo Seabra

San Andreas poster

Nada como uma catástrofe gigantesca, que mata milhões e causa um prejuízo financeiro incalculável, para reunir uma família. Mencionei que mata milhões? Pois essa é a premissa de Terremoto: A Falha de San Andreas (San Andreas, 2015), mais um filme de destruição em massa que tem como pano de fundo o drama de sobrevivência de uma família em conflito. O quadro reúne um pai expert em resgates, uma tragédia não superada e uma mãe prestes a se juntar ao namorado milionário. Montado esse cenário, basta soltar a filha na bagunça e começa a diversão descerebrada.

Astro do longa, Dwayne “The Rock” Johnson (da franquia Velozes e Furiosos) encabeça um elenco bem interessante que talvez seja a razão de o projeto não se tratar de um fracasso total. Isso e os efeitos especiais bem feitos, que mostram ondas enormes, prédios caindo, a terra se abrindo e tudo o mais a que o público tem direito, no melhor estilo Roland Emmerich (de O Dia Depois de Amanhã e 2012). O responsável, um tal Brad Peyton (que dirigiu The Rock em Viagem 2: A Ilha Misteriosa, 2012), copia o pior do alemão, e até consegue trazer um pouco de tensão à trama. É difícil ficar impassível frente aos ataques da natureza, e o efeito 3D até ajuda nas noções de espaço e distância. Mesmo que já saibamos de antemão quem vai morrer ou se ferir.

San Andreas couple

O tal elenco bacana já começa a ser formado por Paul Giamatti (de Homem-Aranha 2, 2014), grande ator mais uma vez desperdiçado como o professor brilhante que descobriu o problema todo, mas ninguém ouviu. Ele e o colega (Will Yun Lee, de Wolverine: Imortal, 2013) chegaram a um método para prever terremotos e é ele que nos informa o que está acontecendo e o que está para acontecer, que é bem pior. Por sorte, há uma repórter (Archie Panjabi, de The Good Wife) e uma equipe de TV por perto para lhe dar voz. Paralelamente, somos apresentados a Ray (Johnson), um grande (enorme) piloto com muita experiência em tirar pessoas de situações de risco que logo se verá em meio ao caos na Califórnia. Sua filha Blake (Alexandra Daddario, de O Massacre da Serra Elétrica 3D, 2013) vai para a cidade com o futuro padrasto (Ioan Gruffudd, de Forever), enquanto a mãe, Emma (Carla Gugino, de Justified), vai conhecer a futura cunhada (ponta de Kylie Minogue, de Holy Motors, 2012). Um terremoto de proporções inéditas começa e todas essas pessoas vão tomar um baita susto.

Já deu para perceber que o longa tem uma história intrincada, criada por duas pessoas (Andre Fabrizio e Jeremy Passmore, de O Príncipe, 2014) e desenvolvida por uma terceira (Carlton Cuse, criador de Bates Motel). Tantos talentos foram capazes de criar as mais fantásticas falas para The Rock, o que constrangeria um ator menos carismático e cara de pau. Daddario, um dos destaques da TV em 2014 em True Detective, é o colírio para os olhos masculinos, e perde peças de roupa à medida que o filme avança – ah, e fica toda molhada. Gugino, uma musa mais madura, não fica atrás. Para o público feminino, os atrativos são o protagonista e o aparentemente tímido Hugo Johnstone-Burt, retratado como um atípico jovem cavalheiro que ajuda Blake, mesmo tendo que arrastar junto o irmão mais novo. E, para todos, a destruição proporcionada pelo CGI.

Que não ia ter história, podíamos prever. Que ia ter ação acelerada e cenas curiosas, também. Mas a coisa vai descambando enquanto avança, com mortes a torto e a direito, num volume que começa a causar riso involuntário. Um desenrolar mais convencional não poderia ter, com uma fórmula clara sendo seguida, daquelas cheias de açúcar em meio aos destroços e incêndios. O que começou na promessa de algo divertido e instigante vai se tornando uma repetição de clichês e situações que cansa e faz esse Terremoto parecer ainda mais longo que seus 114 minutos.

Olhando para Daddario, dá para ignorar o que acontece em volta

Olhando para Daddario, dá para ignorar o que acontece em volta

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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