The Fall é outra boa produção da BBC

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

The Fall

Famosa como a maior rede de notícias da Inglaterra, a BBC há alguns anos vem diversificando suas atividades. Hoje, além de seus documentários primorosos e sua massiva e eficiente cobertura jornalística, a rede vem, aos poucos, conseguindo notoriedade graças ao investimento na produção de séries dramáticas voltadas para o público britânico, que graças aos seus temas universais, acabam sendo atraentes também para aqueles que não são súditos da rainha. A série The Fall, recentemente exibida na Inglaterra, é mais um exemplo dessa boa safra.

A premissa não é das mais originais, mas seu andamento é bastante interessante. Uma mulher é encontrada morta dentro de seu apartamento em Belfast, capital da Irlanda do Norte. Sabe-se apenas que ela foi estrangulada. Os motivos para o assassinato, as circunstâncias nos quais ele ocorreu e tudo o mais que pudesse levar a uma solução está envolto em mistério. A vítima, Alice Monroe, é ex-esposa do filho de uma figura pública ligada ao departamento de polícia da cidade, que demanda uma solução rápida – ainda mais quando o ex-marido da vítima está no topo da lista de suspeitos. No que a investigação emperra, o chefe de polícia local, Jim Burns (John Lynch, de Morte Negra, 2010 – abaixo), decide que o melhor curso de ação para que as coisas voltem a andar é importar da Inglaterra uma especialista nesse tipo de situação. Entra em cena a detetive superintendente Stella Gibson (Gillian Anderson, a eterna Dana Scully de Arquivo X). A  chegada de Stella coloca a investigação nos trilhos, mas, claro, as coisas se complicam na medida em que novas mulheres aparecem mortas e, contra a vontade de seus superiores, logo Stella conclui que tem nas mãos um assassino serial. Como sempre, agora tudo se resume a uma corrida contra o tempo para encontrá-lo e prendê-lo antes que ele faça sua próxima vítima.

The Fall

Ao contrário do que acontece em muitas das séries do gênero, não demoramos muito a conhecer a identidade do assassino de Alice. Não deixa de seguir uma tendência, da qual se aproveitaram produções como The Following e Hannibal. Ao contrário de Joe Carroll e seus seguidores e do Dr. Lecter e seus peões, aqui o assassino não é uma pessoa extremamente carismática ou inteligente. Na verdade, Paul Spector (Jamie Dornan, da série Once Upon a Time) é uma pessoa bastante “normal”, ainda que o uso da palavra para qualificar um assassino serial não seja a melhor escolha. Paul trabalha como uma espécie de psicólogo especializado em ajudar pessoas que passaram por tragédias envolvendo a perda de entes queridos, é casado com uma enfermeira (Bronagh Waugh) que atua na área neonatal de um hospital local e tem um casal de filhos pequenos. Ou seja, tudo bastante comum e sossegado. Fora, claro, sua tendência de sair à noite e assassinar um tipo específico de mulher.

The Fall chama a atenção pelo fato de se focar muito em criar uma atmosfera adequada, enquanto sua trama – e histórias paralelas – se desenvolve. A investigação do caso de Alice, ainda que seja o catalisador da história, logo assume um segundo plano, na medida em que a investigação deriva para as novas mulheres assassinadas nas mesmas condições da primeira. Muitas vezes o caso é todo deixado de lado para que o foco se dê na rotina dos personagens – especialmente Stella, Paul e sua esposa. É aí que a força da atuação de Anderson aparece, ao construir uma personagem sobre a qual muito pouco do passado é revelado, mas que se mostra uma mulher forte, fria, determinada e que pouco se importa em irritar aos outros. Alguns dos melhores momentos são justamente os confrontos entre Stella e Jim Burns, nos quais os questionamentos dele são sempre respondidos de forma direta e, muitas vezes, brutal. Esses momentos de foco no personagem também colaboram muito para construir Paul Spector, que se mostra uma figura bastante diversa da maioria dos assassinos seriais que aparecem nas telas de cinema e TV regularmente.

A primeira temporada de The Fall já está disponível na versão norte-americana do Netflix e desde o último dia 13 de agosto vem sendo transmitida no Brasil pelo canal por assinatura GNT (todas as quartas-feiras, às 23h30). Ela tem apenas cinco episódios – a segunda temporada está em fase de pré-produção, ainda sem data de estréia. A série vai agradar bastante aos apreciadores de histórias policiais, especialmente aquelas que saem, nem que seja um pouco, do convencional.

Quem diria, sr. Spector...

Quem diria, sr. Spector…

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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