Filho entre amigos é mote para comédia romântica

por Marcelo Seabra

Depois de ser torturado pelo desprezível Operação Madrinhas de Casamento (Bridesmaids, 2011), dá para ficar com medo de conferir Solteiros com Filhos (Friends with Kids, 2012). Afinal, algumas caras são comuns a ambas as produções. Mas, felizmente, as diferenças são gritantes, começando pelo tipo de humor, que passa longe do escatológico e apelativo das tais madrinhas. Solteiros é o máximo que uma comédia romântica pode ser. Não significa tanto, mas é o suficiente para um bom programa no cinema.

Depois de roteirizar e produzir duas produções de menor apelo e em parcerias (Beijando Jessica Stein e Ira & Abby), Jennifer Westfeldt resolveu assumir os riscos sozinha e tomou a frente de um longa. Além de atuar, escrever e produzir, ela também dirigiu Solteiros com Filhos, dando um tempo nas várias séries de TV que vinha fazendo – como a temporada de 2010 de 24 Horas. O marido de Jennifer, Jon Hamm (ninguém menos que o Don Draper de Mad Men), chamou os amigos de Madrinhas – Maya Rudolph, Kristen Wiig e Chris O’Dowd – e entrou no barco também, deixando o papel principal para a esposa e Adam Scott, outro sujeito que costuma aparecer menos do que merece, com pontas em filmes esquecíveis como Casa Comigo? e Piranha, além de séries.

Scott vive um executivo (o trabalho mesmo não fica claro qual é) moderno, narcisista e muito sincero que divide com a melhor amiga (Jennifer) até as conquistas sexuais. Os dois formam um casal incomum, têm uma intimidade em que um chega a completar as frases do outro, mas não se vêem como seres sexuais. O círculo de amizades deles é bem fechado, contando com outros dois casais (Maya com O’Dowd e Hamm com Kristen), e os seis estão sempre próximos. Até que começa a fase de “estamos grávidos” e Jason e Julie começam a especular sobre o efeito de filhos no casamento dos pais. Até que decidem ter um filho e manter a amizade. Sim, o roteiro é previsível e esquemático. E daí?

Com o tempo, tanto Jason quanto Julie começam a se envolver mais seriamente com outras pessoas (Megan Fox e Edward Burns, respectivamente – ambos representando parceiros ideais) e a relação deles começa a passar por complicações. Logo eles, que queriam evitar problemas, quem diria! Claro que certas coisas estão claras desde o início. Mas diálogos inteligentes e boas atuações tornam a experiência bem agradável, sendo um daqueles filmes que agradam a mocinhas e mocinhos, e pouco depois já foram esquecidos. O’Dowd é uma figura engraçada até sem fazer esforço e os protagonistas seguram bem suas obrigações. Os demais apenas compõem o quadro, e é curioso pensar que este grupo de amigos é assim tão fechado, com as mesmas caras em todas as festas e reuniões, sem variações.

Em sua primeira missão solo, Jennifer Westfeldt foi bem sucedida. Mas, no futuro, um grupo que conte com Maya Rudolph e Kristen Wiig vai continuar me assustando, tamanho o estrago que Madrinhas causou.

O’Dowd, Kristen, Maya e Hamm são os casados com filhos

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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