Mais uma série oitentista chega aos cinemas

por Marcelo Seabra

Após uma grande leva de filmes baseados em séries de TV por anos, houve uma pausa saudável e, quando ninguém mais esperava, eis que chegam os Anjos da Lei (21 Jump Street, 2012). Conhecida por ter projetado Johnny Depp em Hollywood, a série teve sua adaptação produzida por seu criador, Stephen J. Cannell, que fez o mesmo caminho com o Esquadrão Classe A, em 2010. O longa está em cartaz no Brasil e vem recebendo elogios pelo mundo, além de já ter mais do que triplicado os US$42 milhões que custou.

Como acontece em Nunca Fui Beijada (Never Been Kissed, 1999), temos aqui dois protagonistas que não têm boas recordações dos tempos da escola e, por isso mesmo, têm calafrios ao descobrirem que deverão reviver aquilo tudo. Schmidt (Jonah Hill) e Jenko (Channing Tatum) eram de turmas opostas e só se aproximaram quando entraram para a polícia, um reforçando as falhas do outro. Após um trabalho mal feito, os parceiros são designados a se apresentarem a uma divisão da polícia que trabalha disfarçada em escolas, aproveitando a suposta aparência jovial de seus agentes.

Muitos bons momentos se devem às diferenças de dez anos atrás para hoje. Um exemplo é a variedade de panelinhas na escola, grupos dos mais variados que os protagonistas têm dificuldade de rotular. A linha entre o cool e o nerd fica meio borrada e questões politicamente corretas estão em alta, como a preocupação com o meio ambiente e o repúdio à discriminação contra homossexuais. Jenko logo descobre que suas regras não se aplicam mais. E o público entende que a história se passa nos dias de hoje, respeitando a cronologia da série, exibida entre 1987 e 1991.

Schmidt e Jenko viram irmãos que chegam ao colégio perto do fim do ano, com a festa de formatura à vista. Nesse meio tempo, eles deverão descobrir quem são os traficantes e os fornecedores de uma nova droga que, por enquanto, parece ser vendida apenas em uma escola. Uma pequena confusão faz com que um tenha que assumir o nome que estava destinado ao outro, trocando assim os papéis originais. Schmidt, um nerd completo, deve fingir ser um grande atleta, enquanto o intelectualmente limitado Jenko cai de paraquedas em um grupo de química avançada, uma bem-vinda brincadeira com os estereótipos.

Bastante sacaneado quando adolescente, Schmidt começa a aproveitar a popularidade repentina e os problemas da dupla começam. As metapiadas sobre o fim e recomeço da divisão da rua Jump são ótimas, e o filme segue nesse ritmo. É o que se pode esperar de um longa escrito, produzido e estrelado por Jonah Hill, o gordinho engraçado de Superbad (2007). Ele está bem mais magro, mas continua desengonçado, ao contrário do musculoso Tatum, que tem sido com frequência herói (como em G.I. Joe, 2009) ou galã romântico (caso de Para Sempre, 2012). Apesar do que vimos em seus trabalhos anteriores, Tatum consegue mostrar um bom entrosamento com o colega, aparecendo um pouco mais ao longo da trama. Até o fato de ele ser um pouco grande para um adolescente serve como piada.

Apesar de previsível, o roteiro de Michael Bacall (de Scott Pilgrim Contra o Mundo, 2010) consegue ser bem divertido nos primeiros dois terços de projeção. O último ato parece ter sido criado por outra pessoa, alguém histérico que resolveu inserir cenas exageradas de ação e um humor mais raso e apelativo que o visto antes. Nem por isso, Bacall deixou de ser convidado a escrever a sequência, que já está em desenvolvimento. Phil Lord e Chris Miller, a dupla que escreveu e dirigiu a animação Tá Chovendo Hamburguer (2009), assumiu o comando de seu primeiro longa com atores e indica estar no caminho certo. Só precisava manter a qualidade mostrada no início de Anjos da Lei durante todo o filme, sem perder o rumo e começar a apelar. Até as participações de membros do elenco original da série se mostram descabidas e fora do tom.

A equipe da TV era etnicamente correta, encabeçada por Depp

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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