Nova adaptação de Graham Greene faz um bom policial

por Marcelo Seabra

Graham Greene é um escritor que, volta e meia, tem sua obra levada ao cinema. Bons exemplos recentes são Fim de Caso (The End of the Affair, 1999) e O Americano Tranqüilo (The Quiet American, 2002). Seu livro Brighton Rock, que chegou ao Brasil como O Condenado, já tinha ganhado uma adaptação em 1947, chamada aqui de Rincão de Tormentas (ao lado). Como remakes estão na moda, a trama ganhou nova roupagem – e título: Pior dos Pecados (Brighton Rock, 2010), que foi direto para as locadoras. Vê-se que a elaboração de títulos horrorosos e despropositados não é um fenômeno novo.

Publicada em 1938, a história é ambientada na cidade inglesa de Brighton, nos anos 30. Para o novo filme, a década passou a ser a de 1960, mas a ambientação parece não ter sido alterada, mantendo o clima original. Greene, apesar de católico praticante, faz uma crítica à religião por colocar personagens moralmente reprováveis que vão à igreja em oposição a outros que, apesar de não professarem nenhuma religião, são corretos. Religiosidade, por si só, não garante nada.

No novo filme, o aspecto religioso é amenizado, o que também acontece com outras características da história. O protagonista, Pinkie Brown, é um jovem membro de uma gangue cujo líder acaba de ser morto. Ele vê, então, a oportunidade de assumir a chefia do grupo. Para isso, precisa cometer um assassinato. Para garantir o silêncio da única testemunha que deixou sem precisar matá-la, Pinkie a faz se apaixonar por ele, envolvendo a pobre menina em sua vida de crimes.

A Brighton Rock do título é uma barra de doce que traz o nome da cidade escrito de forma que, não importa de onde você comece a saboreá-la, o nome fica sempre visível. É algo que sempre te lembra de onde você é e onde você está, reforçando a sina dos personagens. Afinal, são todos de bairros pobres de uma cidade não muito próspera. Uma bela metáfora para a situação, além de a barra ser usada em um momento importante da trama.

Certos elementos do roteiro de Pior dos Pecados não funcionam muito bem, como o relacionamento entre Pinkie e Rose, que é meio afobado. Alguns coadjuvantes parecem ter sido colocados em cena só por aparecerem no livro, sem terem um propósito claro. O roteirista Rowan Joffe, filho do consagrado cineasta Roland Joffé (de A Missão e Gritos do Silêncio), faz sua estreia em um longa para o cinema e parece se sobrecarregar com as duas funções. Não faz sentido comparar produtos de mídias diferentes e não se trata de apontar qual é melhor, mas o livro usa um pouco mais de tempo para apresentar Pinkie, dando a ele um passado, uma personalidade mais completa. Isso, além de desenvolver melhor as relações entre aqueles indivíduos.

Apesar dos pontos fracos mencionados, trata-se de um bom filme. E isso se deve, além da história, ao competente elenco inglês liderado por Sam Riley, que chamou a atenção em 2007 por sua atuação como o atormentado Ian Curtis na cinebio Control (ao lado). Apesar de ser mais velho do que o Pinkie concebido por Greene, Riley não faz feio frente aos veteranos Helen Mirren (Oscar por A Rainha, de 2006) e John Hurt (o Sr. Ollivander da série de Harry Potter), excepcionais como sempre.

Completam o grupo principal Andrea Riseborough (de Não Me Abandone Jamais, 2010), que vive a mocinha, Andy Serkis (o eterno Gollum, além do macaco César do novo Planeta dos Macacos: A Origem), o principal gângster da cidade, e Sean Harris (que também interpretou Ian Curtis, este em A Festa Nunca Termina, 2002), que faz o primeiro adversário de Pinkie, Fred Hale.

A paisagem de Brighton não é das melhores

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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