Drama com Ben Affleck merece mais atenção

por Marcelo Seabra

Os critérios para escolher quais filmes terão uma passagem pelo cinema são estranhos. Enquanto vemos várias comediazinhas (românticas ou não) ocupando salas, um drama interessante e contundente como A Grande Virada (The Company Men, 2011) vai direto para as prateleiras. O elenco é encabeçado por Ben Affleck e conta com Tommy Lee Jones, Chris Cooper e Kevin Costner entre seus nomes principais, todos atores competentes, mas com pouco apelo junto ao grande público.

Affleck (de Atração Perigosa, de 2010) é Bobby Walker, um executivo que pensa ter a vida perfeita, com a casa, a família e o emprego dos sonhos. Um dia, isso começa a desabar: a empresa onde ele trabalha começa a cortar custos para diminuir o prejuízo trazido pela crise generalizada na economia americana. Seu nome está em uma das primeiras listas de dispensas, o que o obriga a voltar ao mercado de trabalho e buscar outra colocação.

Enquanto isso, nem os mais velhos estão à salvo. Phil (Chris Cooper, também de Atração Perigosa) acaba seguindo os colegas demitidos, e Gene McClary (Tommy Lee Jones, de Capitão América, de 2011) não tem como ajudar o amigo. Acompanhamos, então, a luta destes personagens críveis e desiludidos para não perderem sua identidade e seu amor próprio. A casa e o carro são os primeiros a irem embora, já que são um luxo impossível de se manter nessa situação. Ter um negócio próprio parece ser uma boa saída, mas o pequeno empresário é quem sua a camisa para pagar as contas no final, como prova o personagem de Kevin Costner (o Mr. Brooks de Instinto Secreto, de 2007).

A Grande Virada é um título genérico que caberia em diversas produções, o que diminui um pouco o apelo do filme. Se ele seria lançado direto em vídeo, sem fazer barulho, poderia ter recebido um título mais condizente e mais chamativo. Mas concordo que a tradução de The Company Men poderia ficar um tanto capenga (“Os Executivos”, “Os Homens da Empresa”), teria que ser bem pensada para funcionar. Qualquer coisa cairia bem com o cartaz, muito bem bolado e simbólico quanto à situação de funcionários de uma grande empresa como a que emprega Bobby Walker. Todos estão na corda bamba.

John Wells, que faz sua estreia como diretor e roteirista de um longa para o cinema, já é escolado na televisão. Além de ter escrito e dirigido diversos programas de televisão, ele também é produtor, tendo um papel importante no desenvolvimento de séries como ER, Third Watch e The West Wing. Juntando a experiência de Wells e os casos reais de empresas que fraudaram sua contabilidade ou que davam bônus gigantescos para o alto escalão, mesmo em situação difícil, fica fácil criar um roteiro. Só não é fácil assistir, testemunhar dramas tão reais que poderiam estar ocorrendo na casa ao lado. Ou mesmo na sua.

Tommy Lee Jones e Chris Cooper pensam no que fazer

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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