Grandes atuações não seguram Namorados para Sempre

por Marcelo Seabra

Depois de inexplicáveis atrasos, finalmente Blue Valentine (2010) chega aos cinemas do Brasil – com o título cretino de Namorados para Sempre. O longa teve sua estréia mundial no Festival de Sundance em janeiro de 2010, mas só agora podemos conferir o trabalho do diretor e roteirista Derek Cianfrance, que vem de uma carreira de curtas e documentários. Talvez por isso, sua ficção se aproxime bastante da vida real. Mas isso, infelizmente, não é bem um elogio.

Apesar do que a distribuidora tenta fazer parecer usando o nome Namorados para Sempre, não trata-se exatamente de um romance, muito menos de uma comédia romântica. É um drama que mostra de forma crua como um grande amor pode um dia azedar. As duas atuações principais são realmente boas e comprovam o talento de dois atores já indicados ao Oscar, Michelle Williams, lembrada por O Segredo de Brokeback Mountain (2005), e Ryan Gosling, do estranho Encurralados (Half Nelson, 2006). Isso parece ser uma máxima no cinema americano de hoje: é cada vez mais constante observar que, mesmo quando é excelente, o trabalho do ator não salva totalmente o resultado.

Longe de ser ruim, o filme também não é memorável. A história lembra diversas outras, com duas características principais: o casal vive modestamente, ao contrário de casais ricos e arrojados que vemos por aí; e eles são novos, apesar de já calejados, ao contrário de outros que só passam por dificuldades no relacionamento após anos e anos de convívio. Ela rala bastante como enfermeira; ele pinta casas, ajuda em mudanças e faz outros pequenos trabalhos. Ela o considera um talento desperdiçado, e ele acha fantástico ter poucas responsabilidades e poder tomar uma cerveja às oito da manhã. Apesar de parecerem estar em sintonia quando mais jovens, eles seguem em direções diferentes com o passar dos anos. No início da projeção, vemos que Cindy e Dean têm problemas e, em seguida, começamos a descobrir como eles se conheceram. A única conclusão que pode-se tirar é que não há lógica em relacionamentos, crises podem surgir para qualquer um.

Filmes assim, vemos aos montes por aí, principalmente na época do Oscar. Produções corretas, com um aspecto específico que as destacam de outras. Foram merecidas as indicações tanto de Michelle quanto de Gosling ao Globo de Ouro, e Michelle foi também indicada ao Oscar, deixando Gosling como uma das injustiças desse ano. Mas a história não chega a ser interessante, e acompanhamos o desenrolar já sabendo aonde aquilo vai dar. Não fossem as atuações, o filme teria passado em branco. Não diria que Blue Valentine seja um bom programa para o dia dos namorados, data escolhida a dedo para o lançamento.

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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