X-Men entre o cinema e os quadrinhos

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Que X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011) é um filmão, nisso quase todos concordamos. “Quase” porque tem sempre um que gosta de ser do contra. Quando se trata de adaptações de quadrinhos, esse grupo “do contra” costuma ser bastante barulhento, especialmente ao apontar as liberdades criativas tomadas pelos produtores da dita adaptação. Talvez se esqueçam que “adaptar” significa justamente fazer mudanças para adequar aquele produto à um novo formato. E antes que venham me tacar pedras, sim, amigos, personagens de quadrinhos – e suas respectivas histórias – são produtos.
 
Uma linha tênue separa “adaptação” de “recriação”. Geralmente, as adaptações de quadrinhos – e também de livros, mas esse não é nosso foco aqui – procuram manter os aspectos básicos do original e transformar o resto em algo mais palatável para o público não-iniciado. Curiosamente, as exceções são justamente aquelas que mais encontraram resistência dos fãs e acabaram se tornando fracassos também comerciais. Os exemplos mais notáveis desse filão são temeridades como Demolidor (Daredevil, 2003), Mulher-Gato (Cat Woman, 2004) e Elektra (2005), para mencionar apenas três.
 
Dito isso, é fato que X-Men: Primeira Classe tem méritos em ambos os campos. Ele funciona tão bem tanto como uma adaptação que agrade aos fãs – salvo os mais ranhetas – quanto para o público leigo. Provas disso é o que não falta, basta ver o número de “não-nerds” que vem elogiando o filme. Palmas para Matthew Vaughn, o diretor, e Bryan Singer, o produtor, ambos também responsáveis pela história.

Uma das coisas que incomodou esse grupinho foi justamente a formação da dita “primeira classe” da Escola para Jovens Superdotados do Professor Xavier. Nos quadrinhos, a primeira classe – criada por Stan Lee e Jack Kirby em 1963 – contava com Ciclope, Fera, Anjo, Homem de Gelo e Garota-Marvel (mais tarde batizada de Fênix e, mais tarde ainda, Fênix Negra). Já em Primeira Classe, a turma é formada por Angel, Banshee, Darwin, Destrutor, Fera e Mística. A título de curiosidade, vamos mostrar, de maneira breve, quando esse pessoal todo estreou nas telonas e a diferença cronológica entre sua primeira aparição no cinema e nos quadrinhos. Comecemos pelos X-Men originais de Stan Lee.

A Classe de Lee:
 
Ciclope: o “primeiro X-Man” foi vivido por James Marsden na primeira trilogia e era líder de campo do grupo de Xavier. Uma versão mais jovem dele apareceu em X-Men Origens: Wolverine (2009).
 
Fera:  o único membro da “primeira classe” do cinema e dos quadrinhos, o mutante peludo apareceu pela primeira vez em X-Men: O Confronto Final (2006), na pele de Kelsey Grammer. As origens cinematográficas e quadrinhísticas diferem bastante, mas é, em essência, o mesmo personagem. 
 
Anjo: o Anjo, vivido por Ben Foster fez uma breve aparição em O Confronto Final. Ao final da película, ele se junta tardiamente à escola de Xavier.
 
Homem de Gelo: vivido nas telas por Shawn Ashmore, o personagem teve uma aparição discreta em X-Men 2 (2003), mas foi um dos principais coadjuvantes em O Confronto Final.
 
Fênix: a última aluna a ingressar no primeiro grupo da escola de Xavier nos quadrinhos teve participação bastante significativa em toda a primeira trilogia dos X-Men, representada pela holandesa Famke Janssen.
 
A Classe de Singer:
 
Angel: a stripper é baseada livremente em seu homônimo, criado pelo roteirista escocês Grant Morrison quando ele escreveu o gibi New X-Men. Nunca fez parte dos X-Men de maneira efetiva.

Banshee: nos quadrinhos, Banshee é um escocês de nome Sean Cassidy que ingressa no grupo de Xavier quando o professor está viajando ao redor do mundo atrás de novos membros para o seu grupo – na época, os X-Men originais haviam sido sequestrados por Krakoa, a ilha viva (nem pergunte!). Quando ingressou no grupo, Cassidy já era um mutante experiente, que usava seus poderes a serviço da Interpol.
 
Darwin: Darwin foi um personagem introduzido nos quadrinhos pelo escritor Ed Brubaker através de um recurso conhecido como “retcon”, ou seja, cronologia retroativa. Criado recentemente, Brubaker o posicionou em um passado dos X-Men no qual ele havia sido recrutado por Xavier para resgatar seus alunos de Krakoa, no que seria algo como a formação 2.5 dos X-Men. Nunca teve muito destaque nos quadrinhos.
 
Destrutor: Alex Summers é o irmão mais novo de Scott Summers, o Ciclope. Entrou nos X-Men no que seria a segunda formação do grupo que, além dos cinco originais, contava ainda com Lorna Dane, a Polaris. Já fez parte de incontáveis formações dos X-Men e demais grupos mutantes, como o X-Factor e os Defensores (que também contava com Fera e Homem de Gelo entre seus integrantes).
 
Finalmente, Mística nunca foi membro dos X-Men de maneira efetiva. Sempre foi uma adepta dos ideiais de terrorismo mutante de Magneto, sendo inclusive parte da organização terrorista conhecida como Irmandade de Mutantes.
 
Curiosidades e adaptações à parte, o fato é que, como não nos cansamos de repetir, X-Men: Primeira Classe é mais uma excelente prova de que Bryan Singer, seja como diretor, produtor ou roteirista, é um dos poucos capazes de levar quase 50 anos de quadrinhos para as telas e torná-los um produto delicioso tanto para especialistas quanto para leigos.

Mesmo mais jovens, Xavier e Magneto continuam sendo os principais

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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0 respostas para X-Men entre o cinema e os quadrinhos

  1. muito bom essas imagens

  2. Luiz André disse:

    A velha história de tentar agradar gregos e troianos chega a níveis cataclísmicos quando é direcionada para o mundo das adaptações de quadrinhos. Concordo com o início do artigo e acrescentaria que, ao manter o espírito e a fidelidade ao material original, não é necessário fazer uma transposição ipsis literis de uma HQ ou livro. Quando esta fidelidade ao material original (ou a “reinvenção” desta) ocorre, temos uma obra sem uma identidade definida que fica aquém da obra transposta, tal como acontece com o longa-metragem de Watchmen. O universo de X-Men é extremamente rico, com anos de cronologia, personagens e arcos narrativos que podem ser recriados na tela grande. Só se espera que isto seja um estímulo para que produtores, diretor e roteiristas sigam pelo caminho certo e não deixem que mais uma adaptação de quadrinhos seja descaracterizada nas telas.

  3. Judd van disse:

    E vc é um critico de meia tigela que nunca leu uma HQ, sabe disso td pq deve ter feito uma pesquisa no wikipedia. Não gosto da maneira como destorcida dos quadrinhos

    • opipoqueiro disse:

      E a forma de ser um crítico melhor, meu caro, é, além de prezar pelo português, apresentar argumentos. Uma discussão à base de “não gosto” é complicado…

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