por Marcelo Seabra
Entre as estréias da última sexta-feira, tive que escolher entre os dois destaques: Nicolas Cage perseguindo um líder de culto religioso num filme com cara de ser bem ruim e uma comédia sobre jornalistas com Harrison Ford e Diane Keaton. Fiz minha escolha, e só saberei se foi sábia depois de assistir ao outro. Descartei Fúria Sobre Rodas (Drive Angry, 2011) e fiquei com Uma Manhã Gloriosa (Morning Glory, 2011).
Rachel McAdams, atriz que despontou em Diário de uma Paixão (The Notebook, 2004), vive a protagonista Becky, uma produtora viciada em trabalho que aceita o desafio de tentar levantar a audiência de um tradicional programa matinal de televisão, o Daybreak. Como sua primeira providência é demitir um dos apresentadores, que baixava a moral da equipe, ela precisa conseguir alguém para aparecer ao lado de Colleen Peck (Diane Keaton, de Tudo em Família, de 2005). O orçamento pequeno da atração faz com que ela descubra uma brecha no contrato do grande Mike Pomeroy (Harrison Ford, também conhecido como Indiana Jones, Han Solo, Rick Deckard, Jack Ryan etc.), um consagrado âncora que está na geladeira da emissora.
Com Colleen e Mike à frente, Becky conseguiria mais pontos de audiência, mas isso se os dois se entendessem. E se Mike entrasse no espírito da coisa, já que o conteúdo desse tipo de programa costuma ser bem ameno, até frívolo, o contrário do que ele está acostumado. Nesse ponto, o filme lembra Boa Noite, e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck, 2005), quando a lenda Edward Murrow (vivido por David Strathairn) tinha que entrevistar personalidades como Liberace, que iria mostrar sua nova casa, e ficava visivelmente constrangido, apesar de fazer seu trabalho com a competência usual.
Como pontos negativos do filme, temos o fato de Harrison Ford começar no piloto automático como o babaca de plantão, com a voz do Batman de Christian Bale, e levar um tempinho para se soltar, quando começa a ganhar traços mais humanos e deslancha. E há um elemento bem irritante: as músicas que insistem em entrar nos planos gerais, com cantoras se esgoelando, como Corinne Bailey Rae e Colbie Caillat. Em um filme de Nora Ephron, teríamos mais standards da música americana, como Irving Berlin e os irmãos Gershwin, o que tornaria a experiência mais agradável.
O grande trunfo do longa é a atuação de Rachel McAdams, que rouba a cena de Ford e Diane Keaton e conduz a trama com muita segurança e bom humor. Ela cria uma personagem com defeitos e qualidades, o que a torna crível e próxima do público. Além dos desafios profissionais pelos quais ela passa, há ainda a questão romântica: como uma pessoa tão devotada ao trabalho pode se dar bem com um parceiro? É aí que entra o personagem de Patrick Wilson (o Coruja de Watchmen, 2009 – ao lado, com McAdams), que a faz crescer ainda mais. E há também uma ponta engraçada de Jeff Goldblum (o Dr. Ian Malcolm de Jurassic Park, de 1993), como o chefe de Becky.
Dirigido por Roger Michell, lembrado por Um Lugar Chamado Notting Hill (Notting Hill, 1999), Uma Manhã Gloriosa pode ser classificado como uma “comédia de trabalho”, já que é focado na equipe do programa e nas relações entre eles. Falta um pouco de conteúdo, já que o filme prefere não se aprofundar em questões polêmicas ou discussões éticas, como em Nos Bastidores da Notícia (Broadcast News, 1987) ou em Rede de Intrigas (Network, 1976), ambos indicadíssimos. Mas não parece ser esta a proposta e há vários bons momentos, o que deixa o resultado acima da média, um entretenimento de qualidade.
Um filme “engraçadinho”…
Eu super me identifiquei com o filme!!!