TV inglesa produz excelente trilogia policial

por Marcelo Seabra

Uma bela trilogia policial reforça novamente a disputa entre cinema e televisão sobre quem consegue imprimir mais qualidade em seus produtos. Não que realmente exista esse debate, mas Red Riding daria muitos pontos à televisão. Baseada nos quatro livros de David Peace, lançados entre 1999 e 2002, a série foi produzida pelo inglês Channel 4 e não deixa nada a dever a grandes filmes já consagrados, como Los Angeles – Cidade Proibida (LA Confidential, 1997), por exemplo. Inclusive, o que não falta é corrupção policial.

West Yorkshire

A história do primeiro filme (os quatro livros foram condensados em três longas), In The Year of Our Lord 1974, começa no ano do título, quando desaparece uma garotinha que saía da escola e seguia para casa. O jovem jornalista Eddie Dunford (Andrew Garfield, de A Rede Social, 2010) segue o palpite de tratar-se de um ataque de um serial killer que já havia vitimado duas outras meninas, no mesmo padrão, anos atrás. Conduzindo uma investigação por conta própria, o ambicioso Dunford espera ser efetivado no prestigiado Yorkshire Post e, por tabela, resolver os crimes.

O segundo filme, In The Year of Our Lord 1980, e o terceiro, In The Year of Our Lord 1983, seguem de onde o primeiro parou. Contar mais do que isso seria, sinceramente, entregar demais. Basta dizer que trata-se de um conjunto excelente, que a exemplo da obra de James Ellroy (autor do já citado LA Confidential e outros grandes volumes sobre o submundo de LA), volta sempre que necessário a determinados personagens, que vivem e trabalham nas redondezas e podem ter maior ou menor importância, dependendo do momento. E, como Ellroy, também parte de fatos para sugerir o que poderia ter acontecido, entrando de vez na área da ficção.

Os diretores Julian Jarrold (de Amor e Inocência, de 2007), James Marsh (vencedor do Oscar com o documentário O Equilibrista, de 2008) e Anand Tucker (Garota da Vitrine, 2005) conduziram os três longas (nessa ordem), sendo que o roteiro é obra de um homem apenas: Tony Grisoni, que não havia feito nada excepcional até então, como o psicodélico Medo e Delírio (Fear and Loathing in Las Vegas, 1998) e o correto Atos que Desafiam a Morte (Death Defying Acts, 2007). Aqui, ou ele fez um grande trabalho que demonstra seu amadurecimento profissional, ou apenas baseou-se em livros ótimos, do cultuado inglês David Peace, também autor de The Damned United (que deu origem ao filme Maldito Futebol Clube, de 2009). De uma forma ou de outra, é o seu nome que aparece e ele merece elogios.

No elenco, grandes atores ingleses se misturam a outros não tão famosos, como ainda era o caso de Andrew Garfield, que chamou atenção em A Rede Social e Não Me Abandone Jamais (Never Let Me Go, de 2010) e vai estourar como o novo Homem-Aranha. São destaque Sean Bean, da trilogia Senhor dos Anéis (The Lord of the Rings), David Morrissey (de O Garoto de Liverpool, 2009) e Mark Addy (que ficou famoso em Ou Tudo, Ou Nada, de 1997). E devem ser citados Paddy Considine (de Terra dos Sonhos, de 2003), o jovem Robert Sheehan (de Caça às Bruxas, de 2011), Rebecca Hall (de Vicky Cristina Barcelona, de 2008) e o veterano Peter Mullan (de Harry Potter e as Relíquias da Morte, de 2010), no mínimo.

Garfield, Bean, Morrissey e Addy

É impressionante constatar a falta de noção da PlayArte, que escolheu lançar a série no Brasil com títulos diferentes, impossibilitando à maioria das pessoas saber que trata-se de uma trilogia. Para quem ainda não tiver sido induzido ao erro, aconselho que se assista a todos, na ordem. Assim, leve Em Busca de Um Assassino, Investigação de Risco e Crimes e Pecados (abaixo).

A trilogia, no Brasil

O título da série é referência a duas coisas: a menina que desaparece estava usando um capuz vermelho, como a famosa Chapeuzinho Vermelho (no original, Red Riding Hood); Yorkshire, aonde tudo acontece, é dividido em seções (ridings, em inglês), e a ação se desenvolve na seção oeste. Poderia até ser complicado tentar criar um título que fosse satisfatório e atraente ao mesmo tempo. Mas eles poderiam, ao menos, ter criado uma unidade entre os três longas. E chegar ao final do terceiro é realmente muito gratificante, com todas as peças se encontrando, o que acaba dando mais informações sobre trechos que acreditávamos estarem resolvidos.

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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