Reforma da Previdência em Minas: a política como âncora ou balão; entenda

Ou os políticos mineiros se entendem, ou não haverá futuro para o estado. Que a população cobre seus representantes

Igor Eto (em primeiro plano) e Otto Levy (ao fundo) participaram do primeiro dia do seminário sobre a reforma previdenciária em MG. (foto: Guilherme Bergamini/ALMG)

Cerca de 300 mil anos atrás, a espécie a qual pertencemos, os Homo Sapiens, após uma jornada de aproximadamente 3.5 milhões de anos, abandonou seu parente longínquo, o Australopiteco, e rumou definitivamente a um período de evolução fantástico que nos trouxe até os dias de hoje. Para quem gosta de uma boa leitura, recomendo o excelente livro “Sapiens”, do não menos excelente escritor israelense Yuval Harari.

Aos trancos e barrancos, entre guerras, fome, pestes, genocídios e toda sorte de horrores, o homem moderno sobreviveu e construiu uma civilização fantástica, ainda que cheia de imperfeições, e ainda que suscetível a um mísero corona vírus. Mas como não nos encantarmos com celulares, foguetes, internet, exames de imagem, etc?

O mundo não poderia ser o que é sem a natureza social do homem, e essa natureza fez surgir a mais poderosa ferramenta de organização que existe, a política. Sem essa invenção espetacular, as sociedades jamais poderiam se organizar, criar regras, leis, planejar o futuro. A política, quando bem usada, é a verdadeira força motriz de uma nação bem sucedida.

No Brasil, infelizmente, a política quase nunca foi exercitada e utilizada em prol do bem comum. Ao contrário. Ao longo dos séculos, não são poucos os casos de exploração, corporativismo, fisiologismo, corrupção e dominação elitista, do aparelho do Estado, por agentes políticos. Mas, em que pese tantas agruras, somos o que somos, para o bem ou para o mal, por causa da… Política! E, querendo ou não, estamos entre as dez maiores economias do planeta.

Minas Gerais é hoje um estado pobre, economicamente fragilizado e financeiramente quebrado. Ao longo das últimas décadas, Minas perdeu espaço na industrialização, não fez crescer seu imenso potencial turístico e deitou, enquanto o mundo ajudou, no berço esplêndido do aumento da demanda (e dos preços) das commodities agrícolas e minerais. Minas se contentou em voltar a ser aquele estado extrativista do remoto Brasil-colônia.

Recentemente, o ministro da economia, Paulo Guedes, comparou a elite do funcionalismo público a parasitas. Como não destacou o termo “elite” foi massacrado pela fala, como se sua crítica houvesse sido endereçada a professores, enfermeiros, policiais, porteiros, etc. Por óbvio, não era verdade. O rombo gigantesco nas contas públicas, sobretudo previdenciárias, não vem destas categorias assalariadas.

Os números de Minas são de assustar. O estado está realmente quebrado, como bem detalhou o secretário de planejamento Otto Levy. Não há caixa sequer para o custeio regular, vide o parcelamento dos salários e aposentadorias que já ocorre há quase cinco anos. Dinheiro para investimentos, então, nem se fala. Hospitais, escolas, estradas… Estamos condenados a um sucateamento contínuo, e não há “mágica” que mude essa dura realidade dos fatos.

Romeu Zema e seu time assumiram uma responsabilidade hercúlea. Até mesmo pela inexperiência política e desconhecimento dos mecanismos de gestão pública, muitos erros foram cometidos, por certo. Mas é inegável a busca pela modernização do estado, pela redução contínua das despesas correntes e pelo combate ao desperdício e privilégios.  

Ocorre que, e aí retorno ao início deste texto, para que o Executivo possa realizar as tarefas “salvadoras”, é necessário um arranjo político, onde os demais Poderes, Legislativo e Judiciário, em cooperação franca e sincera com o Executivo, na busca de uma solução para o drama mineiro, abdiquem de dogmas ideológicos, de rinhas eleitorais e, sobretudo, dos próprios privilégios, dentre tantos, o da espetacular condição previdenciária auto concedida durante décadas.

Para se ter uma ideia, o rombo na previdência do estado, nos últimos sete anos, passou dos R$ 130 bilhões. Por extenso: cento e trinta bilhões de reais. As senhoras e senhores que me leem têm ideia do que representa isso? O dobro da arrecadação própria do estado!! Apenas para 2020, a projeção é de R$ 20 bilhões. Sabem aquela antiga expressão popular, “conta de padeiro”? Pois é. Não fecha! Ou essa questão é resolvida já, ou melhor, ontem, ou não haverá amanhã.

A política mineira está com o futuro do estado e de 21 milhões de mineiros nas mãos. No limite, está com o futuro do País nas mãos. Se a terceira maior economia do Brasil ruir, o País não passará imune. Dezenas de estados já fizeram suas reformas. À esquerda e à direita, passando pelo centro político, vinte estados já cuidaram das suas previdências. Nossos deputados, agora, decidirão qual papel representarão na história mineira: ou o de âncoras, ou o de balões.

Leia outros textos meus em: IstoÉEstado de Minas e Facebook 

5 thoughts to “Reforma da Previdência em Minas: a política como âncora ou balão; entenda”

  1. O pau vai quebrar literalmente , quando o funcionalismo público parar de receber (os da ativa e aposentados).

    Obviamente não irão somente no governador e secretariado, mas, também nos vereadores, deputados estaduais e federais, além dos senadores.

  2. A cultura do estatismo normalmente está associada à irresponsabilidade com as contas públicas e o populismo. Suas consequências também: deficit nas contas públicas levando a mais impostos, ao engessamento do desenvolvimento econômico e ao desvio cada vez mais do recursos da sociedade produtiva para setores improdutivos que parasitam o Estado. O resultado é o desemprego, estagnação, concentração de renda, desigualdade social.
    E esta nossa cultura de dependência do Estado é a maior causa de nosso eterno patinar no atraso
    Somos um povo que nunca sai da menoridade, dependente de uma grande babá, de um “Nanny State”. Há algo na cultura, na visão de mundo do brasileiro, cujas origens precisam ser bem estudadas, que vê no Estado uma grande mãe que vai nos abrigar sob suas asas, nos fornecer as tetas para nos alimentar e nos vestir.
    Nesse visão, tudo o que precisamos brotaria expontaneamente e estaria fartamente a disposição na natureza. É preciso apenas que a grande mamãe Estado vá lá no quintalzão do Brasil e colha para nós empregos, sinecuras, mordomias, comida, casa, roupas, carros, dinheiro barato do BNDES, contratos superfaturados, verbas de paletó, motoristas, assessores, sítios, fazendas, aptos. em Miami….. Existem, é claro, os bebezinhos que precisam e merecem os cuidados da mamãe Estado: os socialmente carentes. Mas há os gordos bebêzões que são de todos os tipos: empresários, empresas, empreiteiros, políticos, banqueiros, artistas, cantores, compositores, intelectuais alfabetizados e não alfabetizados, jornalistas, jornais, sites, blogs, comunicadores, redes de TV/rádio.. Para esses, haja mamadeiras: bolsa-artista, bolsa-cantores, bolsa-empresário, bolsa- bandido, bolsa-jornalista, bolsa-compositor, bolsa-escritor, bolsa-intelectual, bolsa-banqueiro, bolsa-empreiteira, bolsa-paletó de político, bolsa-assessores de políticos, bolsa-motorista de político, bolsa-auxílio moradia etc e etc.
    Como dinheiro não brota em árvores, o resultado é este estado falimentar , pois não há bolso para sustentar tanta bolsa.

  3. Quanto às reformas citadas, seria bom citar que os militares já estão com um sistema diferenciado de contribuição e aposentadoria. O Guedes é ministro e sabe, até porque foi sancionado ante suas barbas.

  4. Se vê que canalhice não falta neste país.
    Surpreendidos com maior rigor tenológico na apuração real diária do número de vítimas, os safados dos governadores, prefeitos, deputados e senadores, com o beneplácito do STF deram ré na roubalheira do COVIDÃO, um parente próximo do Quadrilhão.
    Foi só o Bolsonaro mudar os critérios de infeccionados pelo Coronavírus e os governos estaduais resolveram desativar os hospitais de campanha de SP e RJ, em pleno pico da pandemia, alegando que o índice de ocupação já caiu 89% para 55% em apenas duas ou três semanas e já está tudo sob controle.
    Ainda bem que a justiça resolveu tirar o seu da reta e obrigou os governadores e prefeitos a reativa-los para evitar mais limpeza na saideira do Covidão.
    E mesmo assim, jogam a culpa da incompetência e irresponsabilidade no colo do Bolsonaro, né?

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