Outro tombo! Mas desta vez foi diferente

Poucos atletas brasileiros conseguem desempenhar suas habilidades livres dos fantasmas do passado. Quando conseguem, são imbatíveis

Hora de crescer, garoto! (Foto: Google Images)

Dias atrás escrevi sobre a índole dos sul-americanos, fazendo uma espécie de contra-ponto aos europeus. Voltei a tocar no assunto após o choro do Neymar, ainda na primeira fase da Copa. A minha tese é que emoção, orgulho e amor não ganham jogo, ainda que, claro, ajudem um pouco. O que ganha jogo são: aprendizado, treino, erro, repetição, erro, repetição, erro, repetição até o acerto. Esse é o caminho lógico. O resto é acaso.

Futebol não é, não foi, e nem nunca será uma ciência exata. Talvez por isso seja tão eletrizante e apaixonante. Não é o esporte mais popular do mundo à toa. Sempre haverá uma trave, um juiz, uma falha crucial e o improvável resultado em uma partida. Os atleticanos, aliás, conhecem isso como ninguém. Mas coloquem Alemanha e Coreia, frente a frente, mais duzentas vezes seguidas. O que vimos dias atrás não se repetirá tão cedo.

A supremacia europeia no futebol é uma realidade incontestável. A genialidade, improvisação e técnica sul-americanas sempre tornarão o futebol mais bonito, mais emocionante e agradável de se ver, mas jamais rivalizarão com a aplicação tática e, sobretudo,  com a dedicação aos treinos dos atletas europeus. E num mundo cada vez mais globalizado, eles estão aprendendo conosco, mas nós, infelizmente, continuamos a não aprender com eles.

Na origem… nossa origem! Falando especificamente dos brasileiros: eles (jogadores) saem do Brasil, mas o Brasil jamais sai deles — com raríssimas exceções, é claro. Um europeu aprende a jogar como o Neymar (vide o camisa 10 da Bélgica) e não carrega consigo os fantasmas de um passado tão difícil. Para ele, o esporte é uma profissão como qualquer outra, e não a tábua de salvação entre a miséria absoluta e uma vida próspera.

Disputar uma Copa do Mundo, para um jogador bem-nascido, bem criado e jamais acostumado a “uma vida tentando te destruir“, tem um peso muito menor que para um brasuca saído de uma favela ou sertão. O europeu estará apenas trabalhando; o brasileiro guerreando. O primeiro busca satisfação; o segundo… jamais voltar a ser o que foi! E acreditem: isso faz uma baita diferença na hora do passe, do chute final ou na cobrança de um pênalti.

Ganhar ou perder sempre fará parte do jogo. Quando vitória ou derrota são super dimensionadas porém, o desempenho do atleta é afetado. A cabeça não raciocina tão rápida e precisa, o corpo não corresponde tão forte e resistente, o equilíbrio emocional se liquefaz.  O Brasil ganha e o Neymar chora. O Brasil vence, com um gol seu, e Paulinho, nas entrevistas, ao invés de comemorar sua atuação prefere investir contra quem o havia criticado no jogo anterior.

Talvez um dia o Brasil deixe de ser o país do futebol. Talvez um dia a seleção brasileira não entre como franca favorita. Talvez um dia o mundo não nos considere imbatíveis (e nem nós mesmos, aliás). Talvez um dia — o mais importante de tudo — nossos jogadores não carreguem o peso de um passado tão sofrido, onde o futebol signifique a diferença entre viver e sobreviver. Entre ver a própria mãe sorrir de alegria ou apenas chorar de tristeza.

Neste dia, meus caros, se vier, tenham a mais absoluta certeza: seremos, de fato, imbatíveis! Os nossos atletas estarão em campo contra adversários reais, de pele, músculos e ossos, e não contra aqueles imaginários, para quem seus pensamentos e emoções estão sempre voltados, nas vitórias ou nas derrotas. Neste dia, repito, se vier, nosso futebol reaprenderá a vencer com a cabeça e os pés. Coração não ganha jogo! Ou melhor: ganha, sim. Mas um a cada dez.

P.S.: Que bom assistir aos nossos jogadores deixando o campo com as cabeças erguidas e cientes que fizeram um bom trabalho. Inconformados com a derrota (injusta) sim, mas sem drama, choro, revolta, desculpas, etc. É uma ótima novidade para o nosso futebol e um belo começo de Copa no Catar. Fiquei animado!!

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16 thoughts to “Outro tombo! Mas desta vez foi diferente”

  1. Mais uma vez bato na tecla fundamental bom mas voltando a vaca fria, o texto foi bom, porém há a necessidade de se analisar essa geração atual de brasileiros, reflexo desse imediatismo e irresponsabilidade que estamos vivenciando nesses jovens. Como você disse, aprendizado disciplina para se alcançar a perfeição. Porém, isso tinhamos de sobra em caras como Pelé, Nelinho, Zito,Rivelino. Caras como esse ficavam horas e horas treinando após o horário buscando a perfeição. Leiam sobre um grande jogador que tivemos recentemente, porém pouco alardeado pela mídia : Rivaldo. Sério, na dele, veio do sertão de Pernambuco, tão disciplinado quanto qualquer alemão , holandês ou europeu qualquer. Gosto muito de suas opiniões Ricardo, até porque você também gosta do Galo e Botafogo, como eu, porém dessa vez tive de dar pitaco. Um abraço.

  2. Olá Distinto, o tombo da Rede Golpe poderia ter sido bem maior. Basta pensar na eventualidade desta eliminação ter sido lá na primeira fase. Cento e noventa e sete pessoas enviadas à Russia com a programação de lá ficar 45 dias. Agora é enfiar a violinha no saco e picar a mula. Para o povo mais uma chance de ai sim cair na real e passar a enfrentar o conjunto de mazelas que estão a nos assolar. Uma chance para refletir sobre o movimento que diz combater a corrupção mas que na prática retira do poder a Presidente legitimamente eleita por ter dado pedaladas (sic) o que seria isso?
    O lado bom foi saber que Isabelly Morais do alto de seus vinte anos foi, como a primeira locutora de futebol das Alterosas, a Rússia dentre muito poucas e pioneiramente. Vida longa menina!

  3. Parabéns Ricardo.O que você acabou de escrever não se aplica apenas à nossa seleção de futebol que chegou até onde foi possível com os jogadores que tem.Infelizmente é a realidade de noventa por cento da população brasileira que tenta desesperadamente conseguir ser cidadãos plenos, nesse salve-se quem puder em que se transformou a luta pela sobrevivência nessa terra que um dia foi até considerada a terra do futuro.

  4. Putz. Agora ele comenta futebol também. Já era um desastre falando de política mas agora esta ampliando o radicalismo fascista para outras áreas.

  5. Boa tarde,

    O que começou errado, não poderia terminar de outra forma.
    Precisamos rever muitas coisas no futebol brasileiro. Não tenho a esperança de ver o Brasil novamente campeão do mundo e digo o porque.
    Os nossos clubes, são iguais a partidos políticos;
    Os dirigentes de clubes e CBF não pensam em fazer uma boa gestão;
    Os clubes não querem craques e sim dinheiro;
    Os atletas (jogadores) pensam mais em dinheiro do que jogar futebol;
    O cliente deste esporte (torcedores) não são valorizados;
    E por fim, pessoas incompetentes e coronéis do futebol, ainda ditam as regras.
    Diferente da Europa, onde existem boas gestões e valorização do cliente.

    Abraços – Cuiabá MT.

  6. Brasil na Copa: empatou com o Goiás, venceu XV de Jaú no finalzinho e venceu XV de Piracicaba com facilidade. E tome oba-oba de imprensa e torcida. Aí enfrentou o Grêmio (ou Palmeiras, ou Flamengo, ou Galo) e foi prá casa.

    1. Olá Queiroz, valeu garoto, gostei do chiste. A facécia é indispensável! (Não vejo ha hora desta copa acabar, pois, estou com saudade de ver o GALO, também conhecido como LINDÃO, voltar a fazer bonito nos gramados de Pindorama).

  7. Tem que mudar é a cor dessa camisa. Ninguem mais tem coragem de colocar a camisa dos paneleiros fantoches da fiesp que falaram que iam prender todos os corruptos agora voce nao encontra UM mais.

  8. Meu doidinho preferido, boa noite!
    Inacreditável, mas concordamos em alguma coisa, pois foi boa a sensação de cair de pé, de ter feito o melhor, embora a imprensa tente crucificar um ou outro, especialmente o Neymar.
    Deveria passar a escrever sobre futebol, mas como na política, também torce pro pior, … atleticano, mas fazer o quê?

  9. Não acho que a derrota foi injusta. O fato da seleção brasileira ter tido mais volume e mais finalizações nos engana. Quem conhece futebol sabe , que neste jogo, a Bélgica foi superior, mesmo que os olhos dos que não conhecem os segredos e meandros do futebol enxergassem diferente. A Bélgica “matou” a seleção nos primeiros 35 minutos, a despeito de duas oportunidade despretenciosas de gol que o Brasil perdeu. O Brasil teve um volume maior depois dos 35 minutos mas foi desorganizado, jogou no abafa e o pior, confiou equivocadamente na sua maior esperança, que era o Neymar. Aliás, este jogador, um dia alguém tem que enxergar que ele não é e nunca será um Messi ou CR7, por mais que a imprensa e o marketing pesado forcem esta falsa imagem, que entorpece muita gente que passa até a acreditar nisto.
    Sinto muito por jogadores como Phelipe Coutinho, William e Marcelo e até mesmo Fernandinho, que não pode ser crucificado pela desclassificação. Mas Neymar, Tite, Alisson, Tafarel , Edu Gaspar e todos aqueles que fizeram ou participaram de panelas ou conchavos de empresários, não tenho a menor dó. Aliás eles nem precisam de nossa dó. Estão milionários e vão viver bem até o fim de suas vidas, vivendo na Europa com tudo do bom e do melhor. Nós brasileiros normais é que continuaremos a nossa batalha diária e dificil. Vamos nos preocupar menos com seleção brasileira e mais com nossos problemas.

  10. Ouso discordar em parte de você. Acho pouco provável que os jogadores da seleção brasileira tenham jogado preocupados com o passado sofrido de cada um. Quem ganha menos ali, deve receber, por baixo, uns 450 mil por mês. Para retornar ao passado sofrido é meio difícil. Eu tenho para mim que o fator que desencadeou a derrota foi a empáfia, a soberba, o nariz empinado que muitos apresentam. Um exemplo maior é o Neymar. Durante os jogos não se podia encostar nele. Parecia boneca de porcelana. E não falo das entradas duras dos adversários. Falo das vezes em que um adversário lhe estendia a mão para se levantar e ele virava a cara com raiva como se fosse uma divindade ou a rainha da Inglaterra. No futebol ninguém é imbatível. Nem o melhor time do mundo pode entrar em campo se achando imbatível. Nem a seleção brasileira se proceder como você diz. O nosso sucesso passa pela adoção de uma postura profissional, quase científica, porém, com o reconhecimento que não existe imbatíveis e ninguém melhor que o outro. Se a pobreza anterior fosse fator de derrota imagina as seleções anteriores. Pobres no início e no fim da carreira.

  11. Quanta bobagem numa única página. Desde a opinião até os comentários! Recalque, pessimismo e intolerância partindo de brasileiros sempre com complexo de inferioridade. Gente infeliz, inimigas da alegria e do riso. Parecem até bonecos de vodu!

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