O roubo nosso de cada dia

O sujo falando do mal lavado. Ou: O brasileiro adora chamar político de ladrão, mas pouco se olha no próprio espelho

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O motorista? Que se dane! Os macacos querem as bananas

O brasileiro sente-se roubado! O tempo inteiro nos deparamos com esta sensação, não por acaso, aliás. Vamos a um shopping e começamos a ser assaltados logo na entrada. Estacione seu carro e pague R$ 20 ou R$ 30 reais. A alternativa não é melhor. Um flanelinha irá lhe tungar quantia próxima na rua.

Uma vez dentro e a sensação continua. Os preços nunca parecem justos, e quanto mais pesquisamos mais inconformados ficamos. Lojas cobram preços incrivelmente diferentes para produtos iguais. Note-se que tal descalabro não é prerrogativa de shoppings, não. Nas ruas ocorre o mesmo. De região para região, então, nem se fala. Já vi latinha de cerveja custar R$ 2 ou R$ 15.

Saia de uma loja e vá a uma concessionária de veículos. Compre um carro ou realize uma simples revisão. Como não sentir-se vilipendiado? E as contas de celular, energia ou mesmo TV por assinatura? Ou são caras pelos péssimos serviços que entregam ou são caras por nos cobrar mais do que o contratado — e jamais devolverem a diferença. Ou seja, não há para onde fugir. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Agora eu entendo o ditado perfeitamente.

Impostos? Destes é melhor nem falar. Os governos (Municipal, Estadual e Federal) metem a mão grande, sem dó, nos nossos bolsos. Tiram quase a metade de nossa renda e não devolvem porcaria nenhuma. Ou melhor, devolvem, sim: descaso, desprezo, humilhação. Devolvem também corrupção e privilégios absurdos aos ocupantes de cargos públicos. Já algum tipo de serviço, como educação, saúde ou segurança… Esquece, né? O Espírito Santo que nos diga. Pois bem. É sobre isso que vou falar.

Todos estamos indignados com as cenas de saques ao comércio do estado, por conta da ausência total de policiais nas ruas. É revoltante e indigno assistir a famílias inteiras saqueando lojas, supermercados e farmácias. Mães, pais e filhos juntos em um crime repugnante. Crianças aprendem desde cedo que é certo — ou pelo menos que não é errado — tomar aquilo que não lhes pertencem. Lastimável! Que futuro aguarda alguém criado desta maneira? Que tipo de cidadão sairá de exemplos como estes?

Cenas assim repetem-se sempre também, quando um caminhão tomba em uma estrada. Segundos depois, dezenas ou centenas de pessoas aglomeram-se em torno do acidente, não para socorrer ao motorista, mas, sim, para roubar o que estiver espalhado. Quanto mais banal o produto, tipo cerveja ou caixinhas de leite, mais selvagem é a cena. A disputa pelo rescaldo é feroz, tal como dois cães brigando por um único osso.

O brasileiro, de um modo geral, é tosco. É também grosseiro, violento e mal educado. Cenas cotidianas nos esfregam na fuça, sem parar, o que somos. Não por acaso elegermos tantos bandidos para nos governar. Na verdade, ao que me parece, o povo carrega tanto dentro de si aquele sentimento de estar sendo roubado, que comentei no início deste texto, que sempre que surge uma mínima oportunidade, ele dá o troco. imagino que o sujeito pense assim: “agora é a minha vez”. Daí, espantosamente pratica as maiores barbaridades sem qualquer sentimento de culpa. Sente-se absolvido!

Não devolver um troco maior, não alertar o garçom para uma conta de restaurante menor, surrupiar pequenas guloseimas em supermercados, comer três salgadinhos e pagar apenas por dois, enfim atos aparentemente pequenos e sem grandes repercussões são primo-irmãos de saques e depredações; que, por sua vez, são irmãos de roubos e assassinatos; que, por sua vez ainda, são almas-gêmeas de políticos corruptos. Ou seja, tudo isto está umbilicalmente interligado. São frutos da mesma semente: desonestidade.

Portanto, antes de sair por aí chamando o penta-réu Lula de ladrão ou a criminosa tresloucada Dilma de corrupta, pense bem em seus próprios atos. Você pode ser muito mais parecido com eles do que imagina. Eike Batista e Marcelo Odebrecht estão aí para nos provar.

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21 thoughts to “O roubo nosso de cada dia”

  1. Basta que eu faça uma pequena reflexão para perceber a abrangência, para perceber que não posso contestar as verdades estampadas no texto. É doloroso, mas é a realidade do povo brasileiro. Claro, tudo tem exceção.

  2. A Austrália começou com um detalhe idêntico ao do Brasil: a Inglaterra despejou lá seus marginais indesejáveis, assim como Portugal nos enviou sua bandidagem geral, principalmente os fraudadores de leite. Misturar água no leite, em Portugal, resultava em duas opções: muita cadeia em péssimas condições ou vir para o Brasil.
    Não sei por que, a Austrália conseguiu endireitar (no bom sentido) seus colonizadores marginais.
    Aqui, a marginália aperfeiçoou e potencializou sua capacidade de fraudar e roubar.
    Minha grande esperança é que atingimos o auge da bandalheira. Agora, ou consertamos de vez ou fechamos as portas da ocupação branca-negra-amarela, e devolvemos o que sobrou aos índios, únicos e verdadeiros brasileiros. Com um constrangido pedido de desculpas pelos estragos causados.

  3. Um dos melhores textos seu Ricardo. Parabéns.
    Historicamente estamos ligados a corrupção, desde a época da descoberta e da colonização . Essa corrupção que cito não é aquela praticada pelo servidor público e o empresário para se locupletarem, coisas extremamente desprezíveis e abomináveis. A corrupção que falo é muito mais perversa. É aquela em que o individuo trai a si mesmo, seus valores, ética e moralmente. Como é isso? Simples. O sujeito sai por ai bradando aos ventos abertos que é correto, que não se corrompe, que não aceita suborno, até ai bacana, maravilha, é um novo Messias, idoneidade moral e ética inquestionável. Mas vamos aos detalhes que ninguém vê, pega a fila do banco é acha que seu problema é maior que de todo mundo, fura a fila. Na rodovia, aquele congestionamento gigante, ele sai cortando pelo acostamento, ainda se achando o maior de todos os motoristas porque o guarda não o pegou ( desta vez) e se o guarda o pega, oferece o “cafezinho” para o guarda, para que não seja multado. O caixa do supermercado errou o troco, ou deixou passar sem registrar a caixa de cerveja, ou a picanha? Azar o dele, devia ter prestado atenção. Tomba um caminhão, não importando qual seja a carga, ele sai pegando, se não usar ou se não servir, joga fora. Parar no sinal? Não a urgência dele é muito maior que o tempo que vai ficar parado. Estes são somente alguns exemplos dentre muitos outros de corrupção em menor escala, que acontecem todo dia, promovendo em muitas situações, chacinas e que não são pensadas como crime, são sempre levados à conta de esperteza . Daí a pergunta; existe possibilidade de se ter políticos diferentes daquilo que é a essência do povo que o elegeu?

  4. Olá Distinto, essa compulsão de apontar Lulinha Paz e Amor como o exemplo das falhas humanas me fez perceber quão ampla, profunda e permanente na humanidade é a sombra sinistra da inveja. Ela estreou logo de começo e levou Caim a matar seu irmão. E todos os dias tomamos conhecimento da baba que escore dos invejosos ao saberem que o menino saído do nordeste e criado sem pai é o ÚNICO brasileiro eleito duas vezes Presidente da República tendo eleito sua sucessora. Isso provoca uma inveja devastadora em tantas mentes tacanhas, medíocres e mesquinhas que me torna preocupado com os desdobramentos desse sentimento bestificante. Não haverá ramo de arruda que possa deter essa onda. Grato.

    1. olá distinto, eu sou o bobalhão cidrac, nome de algum bicho ou alguma coisa, que vem aqui todos os dias por falta de serviço ou mera solidão mesmo fazer brincadeirinha boba atrás de atenção.
      sou aquele menininho das rodinhas de escola, sempre rejeitado por ser magrinho ou usar óculos e não saber jogar bola, que fica o tempo todo gritando “ei, estou aqui”, e como não resolve começa a fazer birra.
      sou o chatinho que fica repetindo “lulinha paz e amor o único presidente do brasil” apenas para alguém, como eu, lhe responder o comentário, já que o autor do blog, o Ricardo Kerzman jamais o responde.
      um dia eu irei cansar e ver quão triste é minha figura de fracassado do interior da bahia, que vive de ficar comentando bobagens em tudo enquanto que é blog da internet pra me sentir importante e achar que alguém me scuta.
      paz, saude e sabedoria distinto.

      1. Olá Sem Nome, existe uma claque que esta todos os dias a ovacionar o criador do blog. Até os termos utilizados são similares e homogêneos. Essa pantomina deve ser devidamente combinada e servilmente executada. Sou admirador e eleitor do fenomenal Lulinha Paz e Amor, razão de mencionar seu nome. Intrigante é quem não o admira nem o respeita mencionar tanto o nome do Presidente. Tarefa para Piaget e outros bambas no conhecimento das almas doentias. Por isso eu lhe recomendo um pouco de serenidade. Quando a mim, para poupar conjecturas sem relevância ao debate, como venho fazendo desde minhas primeiras participação nesse espaço, informo que sou apenas um zé ninguém, daqueles que vivem da mão para a boca. Grato.

      2. Gostei do seu comentário, Cidrac Pereira de Moraes. Refiro-me ao segundo, é claro, o Cidrac inteligente e divertido. Porque o primeiro, a quem o Kadu chamou de “Cidrinha”, é um paspalho, em todos os sentidos do termo: indivíduo tolo, parvo, lorpa, imprestável, inútil, petulante, pretensioso, vaidoso.
        Uma sugestão ao autor do blog: a partir de hoje você, Cidrac inteligente, passa a fazer os comentários e o Ricardo dá aos “textos” (argh!) do “ripugnante e maladetto” CIDRAC PEREIRA DE MORAES o único destino que merece (seu ambiente natural): o vaso sanitário.
        Com os devidos cuidados para não entupi-lo.

        1. É o seguinte: O Cidrac, dito original, eu não leio há muito tempo. Aprovo seus comentários sem ler, pois é sempre respeitoso, a despeito do que pensa e escreve. O Cidrac, supostamente falso, eu também não li, e só agora após seu comentário que fui ver. O site não tem como regular se o nome e o e-mail são verdadeiros ou falsos. Quando quero saber quem é o autor do cometário, em caso de necessidade, eu recorro ao endereço do IP, que me diz onde encontra-se o terminal (ou celular) de onde partiu a mensagem. Por isso, sejam felizes!! Não escrevendo palavrões impublicáveis, como é o caso de vocês, podem “se matar”, hehe. Eu até gostio muitcho!!

          1. CAREQUINHA, LEVEZA E RISPIDEZ. GOSTEI, AJUSTA O LEME QUE VOCÊ NÃO TEM LIMITE, BREVE VERÁ QUE O EM É PEQUENO PARA VOCÊ. MAS AJUSTA O LEME, AINDA FALTA GIRAR UM POUCO PRA DIREITA E UM POUCO PRA ESQUERDA…HEHEHE
            ADEMAIS, COMO AQUI É UM BLOG, NÃO SE PREOCUPE CONOSCO, SOMOS REAL. INFELIZMENTE, POR UMA QUESTÃO OU OUTRA, NEM SEMPRE SOMOS QUEM SOMOS, MAS O CONTEÚDO DOS NOSSOS COMENTÁRIOS FALAM MAIS POR NÓS DO QUE NOSSOS E-MAILS, NOMES, CPF’S… HEHEHE

              1. EITA CAREQUINHA, É QUE SEMPRE LEIO SUAS BRONCAS NOS PETRALHAS, TIPO: QUANDO USAR UM MAIL REAL, SEU E-MAIL É TAL E BLÁ BLÁ BLÁ… ENTÃO FICA A DICA, A GALERA QUE AQUI ESCREVE EXISTE, CARNE E OSSO. MAS ÀS VEZES NÃO SOMOS QUEM SOMOS… NOS ESCONDEMOS NO MUNDO VIRTUAL PORQUE NEM SEMPRE DÁ PRA EMITIR OPINIÃO SEM MEDO….HEHEHE

  5. Prezado Ricardo, ouso contrapor um pouco.
    Os serviços que não são públicos tem qualidade. Minha Tv por assinatura e internet funcionam bem, meus carros (um bem barato e o outro bem caro), tem qualidade. A cerveja eu escolho a que eu quiser beber e no preço que quiser.
    Não sou obrigado a frequentar o BH Shopping ou comprar uma cerveja no Chalezinho. Vai quem quer – e logicamente – paga por isso.
    O produto que não encontro em BH pelo preço justo, compro pela internet (ok, sou roubado pelo preço dos correios = empresa PÚBLICA).
    Enfim, não há nada melhor a ser implantado no Brasil do que a livre iniciativa / redução do Estado.
    Também acredito que a maioria dos brasileiros (digo: 50%+1 eheheh) sejam pessoas de bem, prejudicados por uma outra parcela que são desonestos, vagabundos ou preguiçosos.
    Cabe a nós, pessoas de bem, preencher o espaço que nos é reservado na sociedade, seja ele político, intelectual, empresarial, etc.
    Eu acredito no Brasil e nos brasileiros de bem.
    Isso inclui você!

      1. Acontece meu ilustre Guilherme que tem um pequeno mas significante detalhe. A minoria anda armada e não hesita em atirar a quem se lhe contrapor ao objetivo. Não sei de você, mas, nem se tivesse colete à prova de balas.

  6. Ricardo, de fato, é a lei da compensação, o “agora sou eu”. Estamos numa espiral do mal, onde não vejo quem ou o que corte esse circulo maligno. Somos o retrato do errado. O país deu errado, não dá! Escuto alguns falando que “agora a coisa vai melhorar” pq alguns políticos e empresários estão sendo julgados e presos. Não creio! Ai me vem o temer e coloca no STF o partidário dele. Pra ajudar as investigações que não é.

    Historicamente o negro escravo deveria ser esperto, malandro no bom sentido, para poder sofrer menos e apesar das agruras ir levando a vida. Esse negro escravo via nessa “malandragem do bem” a única forma de ir contra o senhor de engenho “do mal”. A analogia ainda persiste, e hoje esse povo sofrido se acha no direito de ser malandro. Mas ao invés de ir contra o “senhor de engenho moderno” vai contra qualquer um, até mesmo seus iguis. É a malandragem do mal, do perverso. Ora, ir contra o sistema é mais complicado né, dá trabalho e quando chegar as eleições quem vai me dar o saco de cimento, a dentadura e pão com mortadela? Então vamos vandalizar e atacar o comércio de gente de bem, gente que saiu do nada para prosperar contra tudo e contra todas as probabilidades. O país deu errado.

  7. Espero politicos nao acharem ruim quando sao chamados de filho da puta corrupto,porque ele nao esta sendo esperto por ter tal quantia de dinheiro,sendo que todos souberam quando e de onde ele roubou aquele dinheiro,mas so tem que agora aparecer um que faça justiça, porque ate o presente triste momento o brasil e como se o brasil estivesse anestesiado na verdade ja faz muito tempo.parece nao existir pessoa ou poder competente para amemizar situaçao de corrupçao,roubalheira a luz do dia,impostos absurdos,preço de alimentos muito caro.E muitos brasileiros vao levando a vida assim como se isso fosse normal ou sofrendo em silencio,quando houver maniafestaçoes nas ruas espero politicos nao acharem ruim nem estranho

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