Depois da meia-noite

Depois da meia-noite, o quarto escuro geralmente começava a receber a luminosidade dos postes da rua. Aos poucos, os lampejos iam se incorporando em um tom amarelado, que era lentamente percebido pelo olho direito, que colecionava, em cor marrom escura, astigmatismo e miopia. Podia enxergar, mas duvidava do que via. Uma certeza tinha, pois checara o relógio antes de se deitar: já passava da meia-noite. … Continuar lendo Depois da meia-noite

Dona Vidinha seus horrores e Aócios

Eduardo de Ávila Diferente de “a viúva virgem” do filme brasileiro, que bateu recordes de bilheteria, dona Vidinha é uma solteirona, meia virgem da classe média brasileira. Típica do preconceito reverso. Naquela produção dos anos de chumbo, o coronel Alexandrão morreu na lua de mel e deixou a jovem Cristina – diferente da viúva Porcina – numa tristeza que sugeriu passar uns tempos no Rio … Continuar lendo Dona Vidinha seus horrores e Aócios

Era uma vez… uma turista

Sandra Belchiolinasandra@arteyvida.com.br Era uma vez uma turista que chamarei de Bel. Assim, parte de seu nome; assim parte da história; assim parte da viagem… Partes, pois o todo não é possível ser abarcado. Bel saiu do Brasil com destino a Itália, onde participaria de um congresso. Seria sua primeira viagem à Europa. A bagagem era leve e com pouca roupa, carregando também um passe de … Continuar lendo Era uma vez… uma turista

O futuro

Guilherme Scarpellini  Imagine você enxergar o mundo através de um retrovisor. Essa era a vida de Otávio, um rapaz preso aos traumas do passado e que não conseguia olhar para frente, somente para trás. Foi quando, imerso em mais uma memória triste, ele deu com o nariz no poste da rua, que decidiu buscar ajuda. Dr. Depoentes, o médico oftalmologista que prometia corrigir as lentes … Continuar lendo O futuro

Reciclagem das palavras e dos afetos - Fonte: Pixabay

Reciclagem das palavras e dos afetos

Daniela Piroli Cabralcontato@danielapiroli.com.br (Texto original publicado em 23 de Setembro de 2020) “As paixões são por natureza inconfessáveis. Como os vícios.”(Francisco de Morais Mendes, em Escreva, Querida) Leonardo estava de malas prontas. Assentado naquele velho sofá marrom desbotado, esperava ansiosamente a chegada da esposa. Ali teriam a derradeira conversa. Fim. Não dá mais. O desejo acabou. As crianças cresceram. Os projetos não combinam, não há … Continuar lendo Reciclagem das palavras e dos afetos

O sonho do meu amigo

Guilherme Scarpellini scarpellini.gui@gmail.com Meu amigo precisou desbloquear o aplicativo do seu banco no caixa eletrônico. Ele entrava na agência da Caixa Econômica, no Centro de Araxá, quando escutou o primeiro disparo. A porta de vidro se estilhaçou à sua frente. As pessoas dentro da agência vieram ao chão e gritaram de desespero. “É tiro!”, alertou um deles. Então veio o segundo disparo, atravessando o corpo … Continuar lendo O sonho do meu amigo

A.P.D.G.

Monarquia

Victória Farias Nessas linhas que terminam e para aqueles que ficam, a quem é dado o direito da última palavra? Quem decide o que acontece? A quem é dado o valor do reinado e da obediência? Aquele que representa Deus na terra parece não ter a sabedoria dele para as grandes conquistas e muito menos a ligação necessária com o divino para liderar uma nação … Continuar lendo Monarquia

Elvira e a guitarra

Guilherme Scarpellini scarpellini.gui@gmail.com O que os gatos pensam dos seres humanos? São seres limitados em sua miserável existência. Dependem de relógios para não se esquecerem dos compromissos que prefeririam esquecer. Buscam a companhia dos outros para não conviver com eles mesmos. Saem cedo e retornam ao cair da noite. E retornam menores, encurvados e dilacerados. Não bastasse isso, ainda precisam de banho. Que merda é … Continuar lendo Elvira e a guitarra

Pé dormente

Guilherme Scarpellini scarpellini.gui@gmail.com Acordou com o pé dormente. Foi pulando no pé bom até a pia e enxaguou o rosto. Mal havia escovado os dentes e pegou o celular para checar os e-mails. Ao servir o café amargo, já havia olhado outras três vezes. Os primeiros minutos se passaram. Depois, a primeira hora. Então, a segunda… Sem e-mails. Não gostava de manhãs tranquilas. Ao sair … Continuar lendo Pé dormente

Os cinco filhos de dona Branca

Guilherme Scarpellini scarpellini.gui@gmail.com Foi uma vida toda acumulando de tudo. Livros, vasos, fotografias nas prateleiras. Revistas, quadros, velharias nos armários. Móveis por todos os cantos. Coisas em todas as gavetas. Agora que conseguiu vender o mausoléu, onde é que vai enfiar isso tudo? Dona Branca vai se mudar para um apartamento. Quarenta anos atrás, os filhos se amontoavam em volta da mesa. Lilico, Melissa, Tereza, … Continuar lendo Os cinco filhos de dona Branca