O paradoxo do ipê

Tais Civitarese Entre os seis e os vinte anos, morei em um gostoso bairro residencial de BH, o Anchieta. Lá, fazia-se tudo à pé. Sacolão, padaria, farmácia, papelaria. À pé também eu ia para as aulas que cursava no período da tarde, quando não estava na escola. Entre elas, as de teclado e as de inglês. Usualmente, para chegar até meus destinos, precisava passar por … Continuar lendo O paradoxo do ipê

Anohni

Tais Civitarese Antony passou batom. Penteou os longos cabelos negros. Aplicou pó compacto sobre a pele clara e imaculada. Vestiu um figurino composto por uma blusa de franjas aplicadas sobre um vestido em tricô. Antony sentou ao piano. E cantou e tocou uma música extremamente bela sobre a angústia em torno da morte. A voz de Antony é uma junção entre o grave e o … Continuar lendo Anohni

Reflexões sobre a catastrofilia

Tais Civitarese É sabido que boa parte dos jornais vive de publicar más notícias. São estas as que geram mais interesse, as que chamam mais a atenção. Existem periódicos dedicados quase que exclusivamente ao relato de crimes. Vendem como água e não se pode dizer que agregam nenhum outro tipo de informação. Tive uma vizinha que adorava contar tragédias. A cada encontro, era uma pior … Continuar lendo Reflexões sobre a catastrofilia

Maternidade

Tais Civitarese Tornei-me mãe aos 31 anos. Já havia percorrido alguns caminhos. Já tinha uma profissão, vários empregos, amigos, convivência em família. Já tinha morado em dois países e já tinha, eu mesma, participado de inúmeros nascimentos. Entretanto, pouco me lembro conscientemente das coisas que vivi antes daquele dia. Parecem tratar-se de uma outra pessoa, de uma outra vida. Mesmo sem nunca ter sonhado em … Continuar lendo Maternidade

Hater

Tais Civitarese Breno não tinha nada para fazer. Como de costume, resolveu entrar na internet. Naquele domingo à tarde, ele poderia ter arrumado sua cama e seu quarto. Poderia ter lavado os copos que estavam sobre a pia. Poderia também ter aguado o vaso da jibóia, que apesar de verde, padecia seca na prateleira da sala. Porém, ele preferiu aconchegar-se no sofá e rolar o … Continuar lendo Hater

Devorador de livros

Tais Civitarese O cachorro deu para comer meus livros. Isso me trouxe um profundo desgosto. Ai de mim se abandonar um exemplar sobre o sofá. É fato que em poucos minutos, será encontrado aos pedaços na garagem, recoberto por terra, irrecuperável. Com o outro cão, eram os sapatos. Talvez isso indique algum tipo de evolução (canina ou minha?). Talvez isso simbolize algo. Descobri esse pendor … Continuar lendo Devorador de livros

Estrangeiro

Tais Civitarese De uma certa maneira, somos todos estrangeiros. Nosso país não é nosso, e sim dos que estavam aqui antes de nós. A língua que se fala aqui não fomos nós que criamos. Quando chegamos, tivemos tudo a aprender. O que acontece à nossa volta, mesmo por perto, mesmo em ambientes conhecidos, pode ser muito estranho. “Não se encaixar” é um sentimento da maioria … Continuar lendo Estrangeiro

Minha Pasárgada

Tais Civitarese Além mar, está ela. Idílica cidade onde aportei pela primeira vez aos 15 anos. E de onde nunca mais fui embora. Nem em sonhos, nem em pensamentos. Dela, toda a minha vida girou em torno ( do retorno). Minha Pasárgada. Lá, sou amiga do imperador. Conheço de cor suas histórias, suas namoradas, Josefina e Desirée. Seus pensamentos e batalhas. Andarei de bicicleta e … Continuar lendo Minha Pasárgada