Ligações - Pixabay

Ligações

Tais Civitarese Dentre as esquisitices que a proximidade dos 40 anos me permite ter, está não gostar de telefone.  Não gosto, realmente, de falar ao telefone. A verdade é não gosto muito de falar. Gosto de ficar em silêncio ou de, no máximo, e quando necessário, escrever.  Assim, me cerco dos falantes e sigo tranquila a minha vida (muito, muito de vez em quando, anseio … Continuar lendo Ligações

As meninas de maiô - Pixabay

As meninas de maiô

Tais Civitarese Aos 14 anos, aquela era a maior expectativa do ano: a viagem com o colégio para Angra dos Reis. Ou como era chamada oficialmente, o Curso de Biologia Marinha. Praia, sol, independência, ouriços do mar e melhores amigas. O que poderia dar errado?  Havia, contudo, um dilema: usar biquíni em frente ao pessoal do colégio.  Eu e meu grupo de quatro amigas tínhamos … Continuar lendo As meninas de maiô

A pomba - Pixabay

A pomba

Leonardo Paixão Era uma terça-feira, dia pouco especial. Daqueles que lentamente somem da memória. De pouco em pouco se dissolvem nas lembranças esquecidas. Não fosse ela, essa terça seria mais uma. A vida é feita de dias comuns. Viver é algo extremamente repetitivo. Talvez por isso ela tenha vindo ao prédio.  Havia um pedaço da garagem em reforma. Um local desconfortável. Chão quebrado, poeira, entulhos. … Continuar lendo A pomba

In-versões da vida

Tais Civitarese Após mamãe me pedir para sair, chegou a vez de eu dar parabéns ao meu pai pelos exames. Nesse caso, os de sangue. O jovem senhor está cuidando muito bem da própria saúde. Cortou a fritura, cumpriu o isolamento social, tem feito caminhadas e, ao “tirar” a pressão, ela não se retirou da zona de segurança. Está doze por oito, dobradinha que soa … Continuar lendo In-versões da vida

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Sabores da vida

Tais Civitarese Quando criança, eu tinha o costume de enganar a minha irmã. Diante de um pacote de balas dado a nós duas, o qual deveríamos dividir irmãmente, eu sempre punha mais pra mim. O argumento é de que eu era a mais velha. Supostamente, deveria ganhar mais. Irmã mente. O curioso é que eu não era egoísta com brinquedos ou bonecas. O negócio eram … Continuar lendo Sabores da vida

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Human Nature

Tais Civitarese Ando ouvindo jazz escondido. Meu marido não pode saber. Sempre detestei jazz e preciso manter a pose. Se ele me ouve ouvindo, vai ver que sempre esteve certo.  Provavelmente, irá abrir a radiola e me mostrar aquele seu último vinil, que garimpou. Se bobear, irá preparar para nós dois um old fashioned. Não posso permitir isso! Por isso, fico aqui ouvindo baixinho no … Continuar lendo Human Nature

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Primaverão

Tais Civitarese Na 5a série, aprendi que no Brasil não tinha terremoto, furacão ou desastres naturais. Nem minha professora, nem eu, nem meus colegas sonhávamos com tempos de silêncio, medo e reclusão. Quem não passou por uma reviravolta esses meses, que aplique o primeiro álcool em gel. Quem não perdeu alguém próximo ou querido, também. No final do ano passado, escrevi que 2020 seria maravilhoso, … Continuar lendo Primaverão

Aos amigos do meu colega - Pixabay

Aos amigos do meu colega

Tais Civitarese Quando coisas inexplicáveis acontecem, eu só penso que ainda não houve tempo suficiente para compreendê-las. Compreender, ainda que de um jeito inventado, nos ajuda a aceitar. Nem tudo faz sentido, mas algumas coisas se encaixam apenas longitudinalmente no caos da vida.  É certo que o acaso nos exige uma força sobrehumana para lidar com ele. Muitas vezes, não a temos. Porém, podemos encontrá-la … Continuar lendo Aos amigos do meu colega

Mofo

Tais Civitarese Outro dia me disseram que eu deveria ter uma funcionária em casa em tempo integral “para buscar água para os meus filhos quando eles tivessem sede”. Noutro momento, quando contei que retornaria ao meu trabalho, sugeriram que, ao contrário, eu me tornasse assistente do meu marido, pois havia, dentre suas funções, “muitos formulários chatos para preencher”. Ao ouvir tais ladainhas, pensei que nunca … Continuar lendo Mofo

Normalidade

Tais Civitarese ​Na última terça-feira, retornei ao trabalho. Tal qual eu fazia quando atendia em pronto-socorro, mas invertidos os papéis, mediram minha temperatura logo à entrada. E só depois nos demos boa tarde. O hospital estava vazio, calmo. Todos de máscara. Alguns com touca, capote e luvas. Havia dispensadores de álcool em gel para todos os lados. Bem mais do que antes. E algumas mudanças. … Continuar lendo Normalidade