Te submeter ao meu amor 

Silvia Ribeiro

Não quero te submeter ao meu amor.

Mas, não posso negar que te materializo nos meus desejos solitários, e que te deixo dizendo um monte de travessuras íntimas na minha libido. Na minha cama uma aparição que eu chamo e me despeço quando me sinto saciada.

Assim que eu me transporto pra dentro de você me sinto nua, mesmo sem nenhum toque seu tirando a minha roupa. Eu escolhi estar com você, e não há nada e nem ninguém que possa mudar isso. E louca, nesse instante morro para o mundo.

Posso estar em você do jeito que eu quiser, e provocar sensações lúcidas nas minhas fantasias apenas com as lembranças que já foram vividas. A sua “irreal” presença é um conto que o prazer anuncia e um brando roçar de corações vivendo um momento de saudade.

Sob uma fina penumbra me dedico ao perfume dos seus poros que sorrateiramente se apresentam bem diante de mim e me faz levitar, independente do lugar onde eu me encontro. Lembrando um viajante que em algum momento da vida precisa voltar à sua terra natal.

Dado às circunstâncias saio discretamente desse ponto fixo, e deixo que essa vontade sucessiva de sentir o seu gosto se manifeste e se aproxime desse fogo que me consome, num cenário teatral cheio de truques que vai colhendo cada sentido que já devorou a minha carne. Algo que se come e se comemora como um animal faminto.

Ouço o eco da sua voz indignado com a rigidez das paredes do meu quarto, e uma pulsação diferente irradia uma energia viril que apaga e confunde todos os meus pecados. E sei lá o que acontece com as partículas do meu corpo, só sei dizer que elas ampliam o meu estado de êxtase.

Sinto as suas mãos arranhando as minhas coxas, e a sua língua me fazendo rir de amor, e logo eu alcanço as suas carícias como uma adolescente que acabou de descobrir a força dos seus instintos sem precisar se refazer. E devidamente, eu me calo e entendo que algum gemido precisa falar.

No fundo dos meus olhos uma calidez de alma quer atirar a sua camisa ao chão e te oferecer uma singular atração. Festiva, vibro num ritual melodioso que faz de mim música por inteira, como se eu tivesse aprendido todas aquelas canções que são destinadas a testemunhar grandes romances.

Tenho uma nítida impressão que um vulto pulou a minha janela e deu vida a essa excitação.

Realizada, mal posso esperar por um cheiro no pescoço que me encha de ideias picantes, por um acerto nas minhas maiúsculas esperas e uma sintonia tresloucada capaz de me fazer feliz até mesmo à distância.

Abrindo mão das certezas do que eu sou e de quem eu fui antes de ser sua mulher, regresso hesitante para uma realidade sem corpo. Uma espécie de desprendimento atinge a minha lucidez, e me faz pensar sobre o que eu serei daqui pra frente.

Num mural onde mora o meu coração o meu gozo se prepara de forma terna e sem pressa.

7 comentários sobre “Te submeter ao meu amor 

  1. Linda, quente, emocionante, tresloucada. Imaginação fértil, lúcida mas fora de si e da realidade. Em perfeito estado de embriaguez e lucidez teatral. Literatura simples mas ricamente figurada. Gostei do texto, foi como se escrito especialmente para mim, me chamando a reviver algo muito especial já vivenciado e que acabou sem se findar. Algo que nos deixou, mas que continua dentro de nós, governando nosso existir, nosso pensar, nosso sentimento. Ou, ao menos o da escritora…
    Amei.

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