Eduardo de Ávila
Foi preciso viver quase 70 anos para descobrir e entender o quanto é possível e, na verdade, perceber as inúmeras vezes que experimentei esses dois sentimentos. Solidairement ou solum. Vale dizer, em solidariedade ou mesmo solitário. Creio que mais fui e ainda sou enamorado que namorei ao longo desses tempos. Sempre, ainda que duas ou três ao mesmo tempo, com toda fidelidade. Refiro ao sentimento e não à conduta.
Quero dizer, ou tento explicar, enamorar é se sentir apaixonado. Pode ser por outra pessoa, até mesmo algum objeto ou algo abstrato como uma música ou o time de futebol. Abstração é algo sem existência real que sentimos e não tocamos ou enxergamos. Mas sentimos profundamente. Já namorar, diferente, é um relacionamento profundamente afetivo e socialmente assumido.
Parece um tremendo devaneio, mas nem tanto. Aprofundando nas experiências vividas – possivelmente ainda em curso -, consigo entender muitos momentos marcantes do passado. Confesso que sempre fui facilmente induzido a me apaixonar, daí na adolescência uma das namoradinhas ter me repreendido. Reclamou que eu era muito volúvel. Naquele dia tive de recorrer ao dicionário – nem era o meu atual companheiro Aurélio – para entender que me encantava com cada nova moça que chegava em Araxá para as férias.
Dessas boas recordações e com a nostalgia que carrego e me fazem lembrar de bons momentos, sou induzido a uma canção do Rei Roberto Carlos. Outra vez, me faz viajar e quase reviver “maior dos meus casos”, “dos amores que eu tive”, “o melhor dos meus erros”, “brincadeira mais séria”, “a saudade que eu gosto de ter”. E não são poucas as moças, mulheres e paixões que me trazem a uma gostosa nostalgia.
Tem aquela que os pais gostavam mais do genro que a própria mocinha. Tão novinha ainda para os meus vinte e poucos anos, que depois cresceu e fez outra escolha. Como eu sofri! Tem a outra, que até me curtia muito, mas seus pais não me viam como o genro ideal. Bom futuro! Sobrei! Não podia ser diferente, afinal que futuro poderiam imaginar para a filhinha tão bem criada ao lado de um boêmio e consumidor de cerveja. Tomamos destinos diferentes, quase recaímos num momento de instabilidade – lá e cá -, mas fui novamente rejeitado por mamãe quando tomou conhecimento. Azar nosso!
E outra, essa ainda na adolescência, determinou que escolhesse ela ou o Galo nos domingos. Nunca mais tive notícia dela. Já mais à frente, durante oito lindos anos, uma relação consensual que nos brindou com uma bela filha. Valeu enquanto durou e hoje somos bons amigos. Recentemente, até comentei semana passada, por pouco pouco, muito pouco, pouco mesmo – como dizia Geraldo José de Almeida, o locutor da Copa de 70 – embarcava novamente. Mas, como relatei, diferenças de projetos de vida (gerações distantes) sugeriram seguir solum. Enquanto redigia me lembrei de tantas outras situações, talvez essas tenham sido as mais marcantes. Mas todas elas, até algumas que não mais me recordo, me moldaram e me fazem agora concluir que fui muito mais enamorado que namorado. Que assim seja até o último dos meus dias. Sou feliz assim!
Oi Eduardo! O amor é vital. Fora do amor tudo é vaidade. Gratidão pelo bem escrito texto. Abraços. Patrícia Lechtman
Vaidade até é tolerável, dentro de um certo limite.
O ideal – nem sempre possível – é viver enamorado pela vida.
E assim vamos tentando, ainda que atentados.