Sandra Belchiolina
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Há pouco tempo, meu colega poeta Tristão Macedo sugeriu-me escrever sobre a passagem do tempo. Creio que a proposta veio sobre nossas conversas sobre a vida e o gosto comum pela música “Resposta ao Tempo”. A “canção-prece” de Cristovão Bastos e Aldir Blanc é divinamente cantada por Nana Caymmi e não deixando por menos por Arthur Pádua, que a faz presente nas barracas de praia de Cumuruxatiba/BA. Por hora, trago as poesias/canções: Resposta ao tempo, Sobre o tempo, Tempo Rei, poema Cortar o tempo de Carlos Drummond de Andrade e as sábias palavras do Papa Francisco.
Com seu título “Resposta ao tempo” surge a interrogação: como isso se dá? Olhar para vida e expressá-la em sua passagem pelo tempo tem de ser algo que passa pela vivência corporal e psíquica ao longo dos anos vividos. Alguns com mais anos do que outros, mais intenso ou menos, e é diante das escolhas diante da vida que o tempo passa. E assim ele vem com:
Batidas na porta da frente/É o tempo/Eu bebo um pouquinho pra ter/Argumento//Mas fico sem jeito calado, ele ri/Ele zomba do quanto eu chorei/Porque sabe passar/Eu não sei.
Os autores retomam as lembranças e as vivências saudosas:
Num dia azul de verão/Sinto o vento/Há folhas no meu coração/É o tempo
Num passo de dança, o personagem e a entidade “O Tempo” seguem num rodopiante diálogo:
Recordo do amor que perdi/ Ele ri/Diz que somos iguais/ Se eu notei/Pois não sabe ficar/E eu também não sei//E gira em volta de mim/Sussurra que apaga os caminhos/que amores terminam no escuro/Sozinhos
E a resposta magistral do personagem:
Respondo que ele aprisiona/Eu liberto/Que ele adormece as paixões/Eu desperto (aqui cabe bem pensarmos o relançamento do desejo após o luto de um amor perdido).
E a cena continua:
O tempo se rói/Com inveja de mim/Me vigia querendo aprender/Como eu morro de amor/Pra tentar reviver.
No final da canção: uma certeza e um desejo:
No fundo é uma eterna criança/Que não soube amadurecer/ Eu posso, e ele não vai poder/Me esquecer
Para entrar nessa conversa chamo a banda Nenhum de Nós com a música: Sobre o tempo:
O tempo passa/nem tudo fica/A obra inteira de uma vida/ o que se move e/o que nunca vai se mover/Se mover…
Na roda, entra nosso grande Gilberto Gil:
Não me iludo/Tudo permanecerá do jeito que tem sido/Transcorrendo, transformando/Tempo e espaço navegando todos os sentidos…Pensamento/Mesmo o fundamento singular do ser humano/De um momento para o outro/Poderá não mais fundar nem gregos, nem baianos…
Como Drummonzinho sempre me pede passagem – e eu concedo:
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente.
Para você, desejo o sonho realizado,
o amor esperado,
a esperança renovada.
Para você, desejo todas as cores desta vida,
todas as alegrias que puder sorrir,
todas as músicas que puder emocionar…
Então desejo apenas que você tenha muitos desejos,
desejos grandes.
Na Páscoa de 2025, perdemos o querido e revolucionário Papa Francisco. No momento do renascimento de Cristo, se vai seu grande representante e incansável trabalhador para paz e vida mais digna para os menos favorecidos. Seu legado fica! Sobre o passar dos anos ele ensina:
É verdade que ficamos velhos, mas esse não é o problema: o problema é como se tornar velho. Se vivemos esse tempo da vida como uma graça, e não com ressentimento; se acolhermos o tempo (mesmo longo) em experimentamos forças reduzidas, a fadiga do corpo que aumenta, os reflexos não mais iguais aos da nossa juventude, com um senso de gratidão e de agradecimento, bem, até mesmo a velhice se torna uma idade da vida, como ensinou Romano Guardini, verdadeiramente fecunda e que pode irradiar o bem.
Então, sou eu agora que pergunto: Qual é mesmo a resposta que damos ao tempo? Ou será melhor perguntar com o tempo verbal no futuro? Qual resposta daremos ao tempo?
Antes de mais nada, sinto-me honrado em ter sido citado na crônica. E que crônica? Você conseguiu fazet recortes afiados sobre que resposta darmos ao tempo e antes de tudo, à escrita. Nem um dos dois nos espera. E vamos que vamos, pois atrás vem gente. A resposta que dou: que saibamos fazer escolhas que mais nos tornam solidários aos outros e a nós mesmos. Paciência, o tempo voa e vamos em seu colo.
Ir no aconchego do colo do tempo é muito bom! Abração e obrigada por me ler.