Mário Sérgio
Uma amiga muito querida está se preparando para os enlaces matrimoniais. Com a ajuda da mãe, duas primas e duas amigas muito próximas, demonstra cansaço e, claro, aquela ansiedade pela aproximação do grande dia. Já resolveu isso? E aquilo, como está o andamento? Vai dar tempo? O Fulano confirmou? O Sicrano já chegou com a encomenda? Beltrano entregou o material? Mesmo com uma lista para auxiliar, a emoção se impõe à razão gerando um certo desconforto.
Contratou um buffet indicado por boas referências, acatando a recomendação da mãe; experimentou muitos vestidos até conseguir o que se adequa a seus sonhos nubentes; achou por bem não usar luvas porque teme o calor, assim como optou por um belo par de sandálias ao invés de scarpins. Ela é alta para os padrões brasileiros, mas tem delicados pés pequenos, 34, que já lhe causaram desequilíbrios constrangedores. Também por isso, insistiu com o pessoal da organização que mantivesse o tapete, na igreja, bem fixado no chão: para que ninguém tropece. Acho que pensou em mim para essa recomendação, afinal sou PcD e, também, já levei tombos cinematográficos, espalhafatosos. Próximo dos 70, já não tenho tanta habilidade a ponto de conseguir me proteger com os braços. “A natureza é implacável” como já disse Antônio Júlio Nastácia, no grande sucesso de Tianastácia, “Cabrobó” (2005).
Mesmo com todo o alvoroço, as pessoas sugerem calma. Vai dar tudo certo. Relaxa um pouco, estamos fazendo tudo dentro do prazo e a cerimônia vai ser perfeita, assim como a festa…
É exatamente o que espero. Mas não consigo deixar de lembrar que já passei por dois desses eventos e, numa mescla de decepção e comédia, houve alguns contratempos.
No primeiro, nós dois já na casa dos 30, acreditamos que a preparação estava em perfeita ordem, até que tive um acidente que me amputou integralmente a mão esquerda. Aquela da aliança. Tivemos que adiar. Quase dois anos depois, enfim aconteceu. Mas não há registros fotográficos porque o amigo que se dispôs a fazer as fotos das bodas, com uma câmera importada, último modelo, com batera recarregável, se esqueceu de carregá-la. Como cereja do bolo, faltou energia no dia, na hora H.
No segundo, a proposta é que fosse uma cerimônia mais simples, apenas o conúbio registrado em cartório e uma recepção para os amigos e parentes mais próximos. Era um tempo de “vacas magras” e não se justificavam gastos irresponsáveis, pois havia coisas demais a serem resolvidas, incluindo a definição de onde nos estabeleceríamos; na cidade dela, Goiânia, ou na minha, Belo Horizonte. Em tese, os preparativos seriam mais simples, com menos oportunidades de ocorrerem quaisquer falhas. De novo, como o bom malandro Moreira da Silva discorreu na impagável música “Olha o Padilha” (1952) de Bruno Gomes e Ferreira Gomes: “Pra se topar uma encrenca, basta andar distraído que ela um dia aparece. Não adianta fazer prece”.
Passei a lua de mel e o dia do aniversário dela no hospital com apendicite. E o filme, com todas as fotos, queimou.