O menino que não gosta de rock

Taís Civitarese

Lucas tem 9 anos. Tem lindos cabelos longos, que lhe caem sobre os olhos. Gosta de usar tênis All Stars. Seus preferidos são pretos e têm pequenos raios elétricos desenhados em neon.

Ele gosta de fazer tatuagens de caneta em si mesmo. Às vezes, pede ajuda para um amigo da escola que sabe desenhar bem. Chega em casa todo colorido com personagens e heróis adornados em seus braços.

Ele toca bateria. Gosta de ler e de ter suas próprias opiniões. Não aceita nada do que lhe falo de primeira. Questiona tudo e quase sempre desmancha meus argumentos.

No evento escolar “dia do cabelo maluco”, fez um penteado punk. Colocou os fios para cima e os arrepiou com sabonete em barra e gel. Ficou sensacional, dado o tamanho do cabelo. Ao fim da aula, quando fui buscá-lo, estava ainda mais legal, meio torcido de lado.

É bagunceiro e gosta de personalizar seu quarto. Desde novo, escrevia letras no protetor da cama. Mais tarde, passou a rabiscar a própria cabeceira do beliche.

Apesar de minha proibição, colou adesivos atrás da porta, onde também esconde seu uniforme escolar usado.

Eu o considero levemente subversivo dentro de sua personalidade doce. Falo que é um roqueiro perdido em uma família de caretas.

Ele fica bravo. Não se dá conta de sua incipiente rebeldia. Diz que não gosta de rock’n roll. Refuta a expressão e costuma irritar-se se o chamamos assim, em nosso jogo tolo de atribuir-lhe personas imaginárias. Sai da sala batendo os pés e entra em seu quarto à procura das baquetas. Acalma-se sentado entre o surdo, o chimbau e as caixas e inventa um novo ritmo para si mesmo.

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