Uma clausura ficando pra trás.

Vejo o que tem do lado de fora do portão.

Tudo é muito significante. A rua parece ser estreita, e o pó do asfalto faz coceira no meu nariz. Sinto como se esse espaço fosse a casa de muita gente, e me confundo com uma república cheia de cabeças pensantes.

Transeuntes e bichinhos ao léu contando suas histórias num teatro vazio, recitam experiências que ninguém quer ouvir. Fartas risadas em volta das mesas deixam as mazelas em estado vegetativo, e os copos brindam esse frescor temporário.

Os meus olhos parecem que se desconectaram desse tempo e não sabem como agir. Procurando à todo custo um lugar que lhes caibam.

Uma aflição começa à tomar conta do meu corpo me impedindo de seguir em frente, atolando a minha valentia num cubículo de medos.

Mas alguém dentro de mim precisa nascer. E eu não sei como fazer esse parto. Vejo as pessoas à minha volta e penso se ali existiria alguém que se importasse com isso.

Tento tecer um longo tapete com palhetas ilustres pra que ao longo do caminho eu possa me alegrar. No entanto os fios se embolam e recuam dentro desse novelo de bagagens que eu adquiri.

As estrelas são convidativas e alumiam a dança do destino que finge ser infinito, e nos torna fiéis aos caprichos dos Deuses. Porém ele não passa de um mestre fazendo perguntas que eu nunca sei responder.

E quando a exaustão ameaça a vida por ter causado tantos calos nos meus pés, sinto um sorriso varando todos os vãos da minha alma como uma  divindade do “agora”.

O amor coloca as mãos nos meus ombros e me diz:

Seja uma boa menina. Eu nunca me esqueci de você.

E vejo a necessidade de continuar essa busca.

Uma clausura ficando pra trás.

*
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10 comentários sobre “Uma clausura ficando pra trás.

  1. Silvia, agora você foi fundo e, como um reflexo de muita gente, expôs as mazelas grudadas na alma.
    Lindo, mas referencial pra um bocado de gente.
    Excelente!

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