A Ópera Aleijadinho coroa o Ano da Mineiridade

Sandra Belchiolina de Castro
sandrabcastro@gmail.com

A Secretaria de Cultura e Turismo de Minas Gerais lançou, no dia 23 de março de 2022, o Ano da Mineiridade. A proposta é que se realizem celebrações que apresentem nossa cultura. Elas vão do mineirês, história, gastronomia, costumes, literatura às artes. 

A ópera Aleijadinho é uma delas. Uma pérola que envolve nossa história do século XVIII, percorre a Vila Rica do auge da extração do ouro ao seu declínio e traz para cena a vida do grande mestre da pedra sabão e madeira, como também a história dos Inconfidentes. Sendo apresentada nesta semana, dias 14, 16, 18 e 20 no nosso “grande, mega, gigante” Palácio das Artes. Uma epifania para qualquer cidadão. Imagina para nós, mineiros?   

Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814) é o grande expoente do barroco e rococó brasileiro. Adquiriu esse apelido quando foi acometido por uma doença iniciada por volta de seus 47 anos que deformou progressivamente seu corpo ao longo dia vida, causando-lhe muitas dores também. Amputou os dedos das mãos e pés. Restou-lhe o indicador e polegar e com cinzéis atados a eles esculpiu suas últimas obras primas. Essas são a via Sacra e os Profetas realizados para o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas. Seu adro recebeu vida em obras esculpidas em pedra sabão que representam os dozes profetas: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oséias, Baruque, Joel, Abdias, Amós, Jonas, Habacuque, Naum (1800-1805).

Como lembrado no livreto da ópera os dizeres do arquiteto e urbanista Lúcio Costa, parceiro de Niemeyer no projeto da Pampulha: “Vendo aquelas casas, aquelas igrejas, de surpresa em surpresa a gente, como que se encontra, fica contente, feliz e se lembra de coisas esquecidas (…) que nunca soube, mas que estavam lá dentro de nós”.

João Antônio de Paula continua e lembra que o “barroco europeu foi a expressão do despotismo dominador, o barroco brasileiro o foi da liberdade criadora”, citando Lourival Gomes Machado.

E prossegue: “No centro dessa ação transgressora, dessa apropriação libertária da matriz europeia, está Antônio Francisco Lisboa. Sua obra é a mais decisiva manifestação do processo de emergência de um sentido de “pertencimento” que inaugura, entre nós, um nativismo que anuncia a nação… Pode se ver na recepção da obra de Antônio Francisco Lisboa uma representação exemplar dos impasses da sociedade brasileira – sua permanente dificuldade de se fazer autônoma, de valorizar sua história e sua gente, de mobilizar suas melhores energias no de sua plena emancipação, isto é, no sentido de liberdade e da universalidade do acesso à riqueza e a direitos sociais básicos.”

Liberdade, palavra que ecoava nessa época e almejada pelos Inconfidentes. Em cena, Tomás Gonzaga aparece conversando com Aleijadinho, seu amigo. Esse ponderando como era perigoso os seus desejos de libertação da Coroa de Portugal. Derrama, não mais! Há grande comoção do público quando Gonzaga relata para Aleijadinho seu ideal e o povo o acompanha em coro e erguendo a bandeira de Minas Gerais com a tão sonhada “Libertas Que Sera Tamen” – Liberdade Ainda Que Tardia. Marco dos inconfidentes que proponham essa mesma bandeira para a república idealizada por eles no final do século XVIII. Marcas cravadas nos corações dos mineiros. 

Antônio de Paula, conclui que “é como se o corpo maltratado de Antônio Francisco Lisboa, as doenças que lhe impuseram sofrimento, dor e humilhação fossem as metáforas da nossa própria indigência histórica, de nossa reiterada condição de subalternidade e de desigualdade social…. de que a superação de nossas mazelas históricas passe, simbólica e metaforicamente, pelo reconhecimento da grandeza de Antônio Francisco Lisboa, exemplo maior de nossa cultura autenticamente nacional e popular…”

E com o orgulho de ouvir, ver, pertencer, reconhecer que saímos de uma magnífica ópera.

Vivas para todos envolvidos! Que foram mais de quinhentas pessoas.

Vivas para os Inconfidentes!

Vivas para Aleijadinho!

Vivas para Mineiridade!

Vivas nossos ecos de: “Liberdade Ainda Que Tardia”.

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