Alô, é da polícia?

Márcio Magno Passos

Apenas três anos de idade, chocólatra como quase todas as crianças, Melissa está na Bahia em viagem por praias e piscinas com a família. Início da noite ela vira-se para o pai e fala com a naturalidade de quem pede um copo d’água:

– Quero chocolate.

– Agora não, depois do jantar, respondeu o pai.

– Quero agora. Só três, insiste ela.

– Já disse que só depois do jantar, repetiu fechando a cara.

– Mas pai, eu quero chocolate agora…

– Não é possível que você vai me obrigar a te dar uns tapas na bunda, falou o pai já irritado.

Melissa nem se abalou. Virou para o avô e pediu o celular emprestado. Colocou o aparelho no ouvido e perguntou:

– É da polícia? Tem um moço aqui querendo bater numa criança só porque ela quer chocolate. E ela só tem três anos. Coitada! Ele não pode fazer isto. É proibido. Estou avisando porque se ele insistir em bater nela eu vou ligar de novo para chamar vocês.

O pai saiu para não rir perto dela e o avô pegou o celular de volta.

Os dias se passaram e a família retomou a normalidade do dia a dia. Com saudades o avô liga de vídeo para o celular da mãe de Melissa e pede para falar com a neta. Sentada do outro lado do sofá ela avisa com cara de poucos amigos que não quer falar. Peço a mãe para fixar a câmera nela e começo a falar:

– Alô, é da Polícia? Aqui é um avô que gosta muito da neta e está morrendo de saudades dela, mas ela não quer falar com ele. Coitado, ele já está velhinho, mora longe e ela ainda faz isto com ele. Vou insistir aqui e se ela não falar com o avô vou ligar de novo para a Polícia ir na casa dela!

– Ela soltou uma gargalhada gostosa e demorada, mas não falou com o avô. E ele sabe que quando a encontrar ela vai repetir o de sempre: “vovô, eu te amo!”.

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