Uma declaração de amor

Sandra Belchiolina
sandra@arteyvida.com.br

Na Nacional Turismo, agência de viagens e turismo, onde fora recém contratada, ela se encontrava sentada ao fundo. 

Passara no vestibular no início do ano e iniciaria seu bacharelado em turismo. Aos dezenove anos havia participado do Concurso Miss Minas Gerais e naquele momento, uma nova presença se fazia em sua vida. Há três meses um novo ser crescia em seu ventre.

A memória vivida do espaço e novos sentimentos faziam-se presentes numa sala de arquivos, com centenas de viagens organizadas pela empresa; pastas de cima a baixo, uma mesa de escritório, um bloco de notas e uma caneta.

Em plena Praça Sete, centro nervoso de Belo Horizonte, com intenso burburinho de carros e gente. 

Ela, recém chegada na capital, pois até então, morava no interior de Minas Gerais. No ano anterior havia aceitado o convite para participar do Miss Minas Gerais. Diria que não era esse seu foco, mas cedeu devido ao carinho que seus conterrâneos lhe dirigiam. 

Desde o início de 1979 sua agenda estava entre aulas de passarela, postura, etiqueta, e também o primeiro semestre na faculdade de turismo. Á medida que o concurso se aproximava outros compromissos surgiam: estilista, provas de roupas, salão de beleza, centros de estética e uma série de compromissos relacionados ao estudo e em direção ao concurso. 

Enquanto isso os saltos do sapato subindo… Nesse tempo ainda os Chanel ou Scarpin de salto 12 a 15 eram suas escolhas. Quando chegava em casa à noite e os tirava, tinha câimbra na panturrilha, mas ainda conseguia caminhar com eles. Um certo conforto e que valia pela elegância que proporcionavam.

Comemorou seus 19 anos na semana que estavam “internadas” no hotel Serrano Palace na capital mineira. Com todo glamour e flores enviadas pelos seus conterrâneos. Era uma semana especial, onde 49 jovens acompanhadas por seus coordenadores cumpriam uma agenda diversa sendo, inclusive, recepcionadas no Palácio da Liberdade pelo então governador de Minas Gerais e a primeira dama do Estado. Nesse período as misses precisavam ser escoltadas pela PM. Havia sempre uma legião de fãs em busca de autógrafos ou manifestações de boa sorte.

Após o concurso vieram os convites para A Noite das Mais Belas, coisa de coordenadores de concurso de beleza. Normalmente éramos 10 Misses que se apresentavam num baile promovido por algumas cidades do interior. 

Ela foi em alguns representando a Miss Minas. um corre-corre sem fim. Era produção independente, não havia maquiador e cabeleireiro, cada uma se virava como podia, a turma já estava treinada.

Necessitava de muito pouco, pois o bonito é o frescor da idade. E daí vinha também um dinheiro a mais para ajudar no pagamento da faculdade.

Assim, corre daqui, corre dali…

Nesse dia, não foi almoçar em casa (república), estava com enjoo há dias, e somente plasil na veia os fazia cessar. naquele tempo as pessoas andavam dependuradas do lado de fora dos ônibus. Não podia correr riscos. 

Quarenta e dois anos se passaram. A memória, um bloco de notas e uma prosa que teve início…

Você que está para nascer

Você que é uma nova vida

Você que eu quero

Que eu amo

Não sei

É você, você mesmo

As coisas são assim… É assim as coisas

Nascer, viver e morrer

Mas é bonito viver, sentir a vida

Simplesmente a vida!

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