Ó mar!

Luísa Bahia

Talvez eu não me sinta muito pronta para falar sobre o assunto. Porque talvez eu não esteja a tempo de concluir nada. Entendo a vida como um grande processo de experimentação e aprendizado. É claro que há momentos em que estamos no alto da pedra e sentimos a brisa fresca, enquanto a onda se debate lá embaixo. Por outra perspectiva, quando estamos dentro daquela onda, só há água feroz, falta de ar e um medo gigante de nos afogarmos. Tempos depois estamos rindo de tudo, sentados naquela cadeirinha de plástico, tomando aquela aguinha de coco gelada, com os pés lambuzados de areia. E há ainda aquele momento em que estamos escrevendo um livro, finalmente morando na sonhada casinha na beira da praia. Vendo pela janela o vivido e narrando o inventado.

Quando comecei a me debruçar sobre a escrita, fui compreendendo que a ideia inicial se desfaz em mil pedacinhos. Ela é apenas um ponto de partida, mas na maioria das vezes, achamos que ela será a meta. A dança entre manter a ideia primeira, como um leme, e se deixar levar pelo fluxo da água, é uma arte sutil e barulhenta. Isso porque o pensamento se faz pensando. A frase se cria no tempo da datilografia. 

Voltando ao nosso assunto, muito se diz e pouco se sabe. Muito se fala e com dificuldade se pratica. Há um certo desespero em não saber aonde esse texto vai dar e também uma adrenalina por estar propondo uma trollagem. Aprendi esse termo com meu sobrinho Luca que, inspirado nos youtubers, cria pequenas armadilhas para quem está ao redor. Tipo trocar o álcool gel do pote da sala por cola transparente.

Inicialmente esse texto era sobre o assunto, inspirado num livro lindo que li esse ano. Um dos mais incríveis. Acontece que me vejo encalacrada. Talvez porque simplesmente citar passagens bonitas da referência não seja suficiente para dizer sobre a coisa. Porque para falar de algo é preciso ter lambuzado a mão de cola, tomado uns belos caldos, ralado o cotovelo no muro de chapisco. 

Eu não me sinto pronta pra dar testemunho, ser exemplo, cagar regra. Eu sou só uma curiosa da linguagem e escrever essas palavras está fazendo algum sentido. Talvez porque esteja me dando ainda um outro ponto de vista. Aquele de quando olhamos para o sol com a mão na frente, peneirando a força da luz. 

Uma vez ouvi que o mar é a entidade primeira dos poetas. Foi a partir dele que eu comecei a botar as palavras pra dançar. Riscando no papel com a velocidade de um risco na água. Talvez naquele momento eu estivesse me debatendo naquela onda braba. Hoje estou com os pés firmes na terra, mas com a boca seca de mar. Dizem que o nosso olhar procura o encontro das forças, por isso o horizonte à beira mar é um dos maiores cartões postais do mundo. 

Pra dar conta de dizer o que hoje me parece indizível, eu te convido a imaginar comigo aquele dia em que você faz um castelinho de areia e a onda leva. Com as ruínas você sobe uma torre alta que logo toma um caldo. E assim você passa o dia, sujando os cabelos, torrando no sol mas resiliente em perceber que algo se constrói na areia e que outro pedaço vai embora com água. E não é o fim ou o fracasso. É só uma arquitetura mais livre dos grãos. E antes de pegar o seu baldinho e ir pra casa, você escreve com a ponta do indicador, aquela palavra bonita naquele tapete molhado, que vai lhe render uma foto baranga, porém honesta. Pois é sobre isso:

A  M A R 

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