Estrangeiro

Victória Farias

Se fronteira é onde a gente termina, como chama quem mora aqui dentro? Quem tirou passaporte, esperou na fila de embarque, ficou horas dentro de um avião, e pousou nessas terras imaginárias onde eu atuo no papel da minha existência?

É estrangeiro da sua fronteira aquele que se olha no espelho e não se reconhece? É um explorador quem continua a procurar, sem mapa ou bússola, o tesouro que é o entendimento da vida? É um invasor quem chega, tira tudo do lugar e, sem mesmo tirar as malas da porta, vai embora?

Sou estrangeiro eu, quando apago todas as luzes e me recolho no fundo de mim? Ou quando me arrumo, tranco a porta e vou embora? Quando fico longe por semanas, vagando por outras terras, olhando por outros olhos, explorando outras tribos, e retornando, tiro a poeira, e volto a fazer negócio com outras nações?

Quem sou eu para o meu Governo? A quem preciso pedir minha cidadania permanente? Depois de quantos anos de habitação, poderei dizer, finalmente, que eu estou em casa?

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Pintura: Andrew Wyeth – Janela – Estrangeiro

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