Pra onde tenha Sol É pra lá que eu vou

Foto: Sandra Belchiolina - Pen. Marau 2 - Sol
Foto: Sandra Belchiolina – Pen. Marau 2 – Sol
Sandra Belchiolina
sandra@arteyvida.com.br

Essa é a introdução da música “O Sol”, da banda Jota Quest. A crônica de hoje poderia ser muito bem sobre viagens, mas dessa vez não.

Refere-se à lembrança de uma jovem querida que atendi no consultório de psicanálise. A chamarei de Sol, como o personagem da sua cantiga de ninar.

Ela, jovem, bonita, com seus 19 anos, chega até mim relatando sua trágica experiência. Foi vítima de um acidente de carro, o qual resultou no falecimento de familiares.

Ela foi levada para o hospital com fraturas por todo corpo, e, ali, permaneceu por meses.

Ela conta de suas dores físicas e emocionais. No hospital, escuta a música cantada por Jota Quest – na época, recém-lançada. Essa cantiga torna-se seu lema trazendo alívio para seu sofrimento:

“Ei, dor
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada
Ei, medo
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada.”

Diria que estava ali para me contar que na luta entre Eros – pulsão de vida, – desejo x Thánatos – pulsão de morte, destruição; Eros havia vencido, naquele momento, a batalha. Apesar de sua dor e necessidade de falar.

Freud estudou esses mitos e conceitos no livro Mal Estar da Civilização. Ele informa que o significado da evolução humana é representado pela luta entre Eros e a Morte (Thánatos).

Entre o desejo de vida ou o desejo de destruição, tal como ela se elabora na espécie humana. “Nessa luta consiste essencialmente toda a vida, e, portanto, a evolução da civilização pode ser simplesmente descrita como a luta da espécie humana pela vida. E é essa batalha de gigantes que nossas babás tentam apaziguar com sua cantiga de ninar sobre o Céu.”¹

Sol encontra na canção de Jota Quest, como muitos de nós encontramos em alguma arte, uma saída para aquilo que nos angustia.

Assim, Eros é convocado a aparecer com sua força e beleza para impulsionar o desejo de vida.

Quando Sol veio ao consultório, já havia passado no vestibular e tentava dar continuidade a sua vida, não escutando o medo e nem a dor, mas sim ninada por um som que, de alguma forma, acalentava o seu ser. Thánatos, nessa batalha de gigantes, havia perdido.

“E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou”

Agora, é fato que essa música cai muito bem para aquele sujeito desejoso de conhecer novas culturas, artes e belezas naturais e que adora se deslocar – o turista.

*

Para saber mais:

¹FREUD, S. (1927-1931) Mal Estar da Civilização, capítulo VI. In: http://www.freudonline.com.br/category/livros/volume-21/

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