Tais Civitarese

Além mar, está ela. Idílica cidade onde aportei pela primeira vez aos 15 anos. E de onde nunca mais fui embora. Nem em sonhos, nem em pensamentos. Dela, toda a minha vida girou em torno ( do retorno).

Minha Pasárgada. Lá, sou amiga do imperador. Conheço de cor suas histórias, suas namoradas, Josefina e Desirée. Seus pensamentos e batalhas.

Andarei de bicicleta e patinete. E principalmente, a pé.

Uma outra civilização.

Minha praia são as Tulherias e sua areia fina. Meu mar é um chafariz. Minhas montanhas, telhados de zinco. Suas luzes, minhas estrelas. Todos os meus sonhos aportam nela. Pasárgada. Minha Pasárgada.

Seu sorvete, suas ilhas, suas pontes ilusórias.

Decorei seu mapa em minha memória. Gravei suas vielas no desenho das minhas próprias veias.

Deitarei na beira do rio e sentirei o vento que só sabe ventar ali.

Todo o meu afeto está impresso na minha Pasárgada. Lembranças da avó, do cheiro forte de baunilha. Lembranças de mamãe, memórias do amor.

Lembranças de amizades tantas que lá fiz e conservei. De amigas que perdi. Saudades de uma pureza. Saudades de sonhos em grão.

Lá, eu enxergo o Gavrochre nas esquinas. Procuro Marius e Cosette.

Vejo lady Brett Ashley fumando na janela.

Camille Claudel e Joana D’Arc acenam pra mim.

Todas as minhas heroínas.

Pasárgada.

Se eu vivesse ali, seria feliz para sempre.

Seu barulho é como música. Sua aspereza é ordem. Você respeita meu tempo e em nada me aborrece. E me oferece tudo! Paz, cerejas, livros e cerveja! Todas as suas tantas pessoas. Seus povos. Sua pluralidade.

Muitas e muitas cores.

Juventude, Quanta vida!!

Sua grandiosidade ao lado do que é mais simples. Seus preços exorbitantes e suas magistralidade grátis.

Você resume o mundo inteiro.

Infinitos sabores e aromas.

Sol sim, e muito.

Além mar, muito longe, para onde vou só de vez quando. Onde sempre estarei.

É ali que fica a minha casa.