Sonhando‌ ‌o‌ ‌mundo‌ ‌pós-pandemia‌

Sonhando‌ ‌o‌ ‌mundo‌ ‌pós-pandemia‌ – Foto: Pixabay
Daniela Mata Machado

“O sonho que se sonha só é só um sonho. Mas o sonho que se sonha junto torna-​se realidade.”
(Dom Hélder Câmara)

Na semana passada, uma amiga querida perdeu seu irmão. Tinha 35 anos apenas. Nenhuma comorbidade. Mas não resistiu ao vírus que há mais de um ano vem alterando toda a nossa rotina e ceifando milhares de vidas. Eu não o conheci, mas a dor da minha amiga também é minha. E de tanta gente.

Já faz tanto tempo desde “o dia em que a Terra parou” – sim, a gente ainda precisa citar Raul – que milhares de vezes queremos pensar que o pior já passou. Mas ainda não passou. As pessoas continuam morrendo e a maioria ainda não foi vacinada. E diante dessa tristeza que segue assolando a vida de tantos, enquanto não deveríamos tirar as máscaras nem nos entregarmos aos abraços, em memória do irmão da minha amiga e em homenagem a ela e a todas as pessoas que neste momento não conseguem enxergar nenhuma saída, me deu vontade de sonhar um futuro para todo mundo que ainda estiver por aqui depois que isso tudo passar. E para os que ainda vão chegar. Porque, mais do que nunca, é preciso sonhar.

Eu sonho com o dia em que vamos todos despertar deste pesadelo e guardarmos nossas máscaras no acervo do Museu da Peste de 2020. E é lá também que vamos deixar os registros das nossas perdas, das nossas dores e de todos os fantasmas que tivemos que enfrentar nestes tempos que pareciam jamais ter fim. “Eu tenho medo de que isso nunca termine”, minha filha me disse um dia desses. “Tenho medo de que morram as pessoas que eu amo.” Pois vamos colocar no Museu da Peste também os medos da minha menina e todos os meninos e meninas que crescem com máscaras a lhes cobrirem o rosto. Porque a história deles também merece a nossa deferência.

Do lado de fora desse museu, entretanto, haverá um imenso pomar, coberto de pés de fruta e mesinhas com cadeiras espalhadas sob a copa das árvores. E os adultos vão gostar tanto de se abraçar que a garotada vai achar aquilo até um pouco engraçado. “Esses adultos são todos meio grudentos”, vai observar um garotinho. E a menina mais velha do grupo vai responder: “É por causa da Peste. Estudei em História no ano passado. Eles passaram muito tempo sem poder se abraçar. Alguns atravessaram boa parte da adolescência sem dar nenhum beijo na boca e agora precisam tirar o atraso”. E o menininho ficará boquiaberto.

E todas as pessoas vão compreender que a vida de um depende da vida de todos. As crianças já vão nascer sabendo essa lição de cor… de coração. E todo esse horror terá valido a pena para que essas crianças, que hoje crescem mascaradas e assustadas, possam ser adultas em um mundo melhor que o dos seus pais. Sigamos, pois, sonhando. E construindo os sonhos.

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