Juarez, volta pra mim!

Rosangela Maluf

Volta Juarez!

Todo este tempo longe de você me abriu os olhos: não serei mais aquela mulher chata, que te incomodava tanto. Não mais reclamarei do sagrado chopp com seus amigos; às sextas feiras vou procurar um curso de canto, na Igreja Três Reis Magos. Lá onde a gente se casou. Enquanto você toma sua cervejinha, quem sabe converso um pouco com o Padre Laércio – dizem que ele é bom conselheiro.

Não vou mais reclamar da sua roupa suja, que sou obrigada a lavar. É muita coisa, você sabe: calça jeans, camiseta, cuecas, camisa social, cuecas, lenços, meias. Sempre achei que você exagera. É uma trocação sem fim de roupa, eu é que sei! E pensa bem, ainda tenho que passar e guardar, porque você não faz nada pra me ajudar, fala verdade.

Vamos combinar de dividir um pouco, só um pouco as tarefas de casa? Não vou pedir pra você ajudar na casa, em geral. Estou sem emprego, fico em casa, dou conta de varrer, passar o pano, encerar, lustrar, tirar poeira, trocar a roupa de cama, as toalhas – deixo tudo brilhando. Você sabe que sou caprichosa! Mas um pouco, você pode sim, ajudar!

Não vou mais reclamar do seu ronco. Quando estiver muito alto, vou pra salinha de televisão e deixo você dormindo feito um anjo. E quando você ocupar o meu lado na cama, não vou mais te cutucar falando alto, te acordando. Vou me encostar em você e te empurrar com a bunda, bem devagarinho. Vou ser muito delicada quando você voltar. 

Volta Juarez!

Não chamarei sua mãe de chata. Nunca mais. Mesmo que ela me provoque falando do meu cabelo louro que não combina comigo, uma negrinha! Farei de conta que nada ouvi e ainda sou capaz de sorrir pra ela, no maior fingimento, é claro. Mas nunca mais insinuarei que é melhor ter cabelos crespos pintados de louro do que não ter cabelo nenhum. Aquela penugenzinha cinzenta!

Não vou implicar com sua risada escandalosa quando saímos com Zé e Lourdinha. Todo mundo fica olhando, mas juro que não vou fazer nada. Vou sorrir também, as pessoas vão dizer: que casal feliz! Nós somos alegres de verdade, né não?

Não vou mais reclamar do som alto da TV. Pode ouvir seu futebol na maior altura. Não vou nem falar do seu celular com estas notificações que apitam sem parar e me matam de nervoso. Pode deixar o jornal lido, no banheiro. Vou recolher, sem falar nada. Vou me esforçar bastante para ser uma esposa mais calma. 

Quando você usar meu shampoo e não colocar outro no lugar, sairei do banho, enroladinha na toalha e vou até o armário pegar outro vidro. O mesmo farei quando entrar no box e perceber só um restinho de sabonete, já que você foi incapaz de colocar outro no lugar. Farei de tudo para não haver mais brigas entre nós. Você vai ver! 

Volta Juarez!

Se você voltar não precisarei mais tomar remedinho pra dormir. Um remedinho pra ficar acordada, um outro pra ficar alegre e outro pra não avançar em ninguém e nem chutar o Bidu (quando ele me irrita). Não mais acordarei de mau humor. Vou sorrir mais, você vai ver. Não vou alegar dor de cabeça quando você me procurar, prometo! Nem vou fingir que já estou dormindo quando você chegar passando a mão na minha bunda. Chorar em novela? Acho que não mais. Se eu tiver você por perto ficarei mais tranquila. Você pode fumar seu palheiro sossegado. Não respiro até que você se livre daquele treco tão mal cheiroso. Farei alguns sacrifícios!

Volta Juarez, volta pra mim!

Volta pra nossa casa, nosso banho juntos, nossa cama cheirosa e limpinha. Volta pra gente fazer amor gostoso. Quero de novo olhar em seus olhinhos claros, roçar em sua barba por fazer. Supermercado juntos, sem brigar. Cervejinha aos sábados, antes do almoço. Churrasquinho no quintal e chamar seus amigos – os bonzinhos e os chatos também, porque não? Vamos convidar o seu amigo, aquele do grupo de pagode, o Tulin. Você gosta tanto daquela barulhada toda, não é? Vou me esforçar pra gostar também. Vou aprender cantar o que ainda não sei. Lá lá lá lá!

Volta pro meu abraço, meus beijos gostosos, meu cheiro que você tanto adora. Quero que você volte, Juarez. Sabe por que quero tanto que você volte? Porque foi muito ruim ficar este tempo todo longe de você. Parece uma eternidade. Cada noite uma tristeza e cada manhã uma esperança enorme de que a gente reconsiderasse. Esquece aquela briga terrível e volte a pensar com o coração. Com o coração. Por pirraça, não quis mais falar comigo e nem saber de mim. Eu, durona, liguei poucas vezes e falando só o extremamente necessário. Saímos do grupo das duas famílias. Só tinha notícias suas pela Taninha, sua sobrinha que não sai daqui de casa (você sabe o quanto gosto dela).

Volta pra mim, Juarez! 

Outra mulher terá os mesmo defeitos que eu, talvez um pouco mais. Pense nisto. E ela nunca ficou sem você, eu já, e sei o quanto me doeu. Sofri muito. Pode parecer que não, mas quase morri. Pensei que aquela dor no peito nunca mais fosse passar. Mas passou, aliás, tá passando. Imaginei que o aperto no peito não teria fim, mas teve. Os suspiros sem razão e sem motivo, também passaram. Só que depois destes meses, pensei melhor e com a cabeça fria, resolvi escrever pra você.

Juarez, volta pra mim!

Vamos programar nossa quarta lua de mel! Você sempre dizia que queria voltar a Salvador, pra gente se lembrar do quanto foi maravilhosa a semana que passamos lá. Lua de mel: que coisa gostosa, que delícia. 

Sabe que não me lembro quando foi que tudo começou a ficar sem gosto. Sem cor e sem sabor. Acho que erramos muito. Nós dois erramos. E nenhum de nós quer dar o braço a torcer. Mas lá no fundo, sei que você quer o mesmo que eu. Me deseja o mesmo tanto que desejo você. E acho que, lá no fundo, continuamos apaixonados. Vamos tentar de novo. Tenho certeza de que agora vai dar certo, melhor do que era antes…

Volta, Juarez, volta pra mim.

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