Ranzinzice batendo à porta

Eduardo de Ávila

Quando era ainda criança, por varias vezes, tive de conviver com pessoas idosas expondo seu lado ranzinza.

Casa de amigos ou parentes que não podíamos falar mais alto (gritar nem pensar), bola que caia no terreno vizinho à nossa pelada e nunca mais tinha retorno, enfim coisas desse gênero.

Pensava eu, que quando chegasse o meu momento da idade avançada, jamais repetiria aquelas experiências que me vitimizaram.

E mais, que isso levaria muito tempo para chegar, refiro à idade daqueles velhos dos meus primeiros tempos nessa existência. Pois que, assustadoramente, cheguei e continuo avançando neste quesito da idade.

Conclui, depois que aceitei as debilidades físicas que o envelhecimento do corpo impõe, que idoso é apenas um jovem que deu certo.

Na maioria das situações que vivo, acredito que sou o mesmo Eduardo dos tempos do Grupo Escolar Delfim Moreira lá, no Araxá. Sem a timidez que custei a me desvencilhar dela.

Reitero, já disse aqui em postagem anterior, que numa reencarnação futura – se pudesse escolher – viria com as mesmas características que estou vivendo.

Vivo em paz comigo e aqueles poucos que se incomodam merecem meu desprezo em vida. São tão poucos, que em nada incomodam.

Porém, contudo, todavia, entretanto, não obstante, no entanto, reconheço que os tempos estão me trazendo algumas ranzinzices que condenei no passado.

Tenho o maior carinho por crianças, faço papel de “Papai Noel” em várias creches anualmente, e quando alguma criancinha me aborda como se eu fosse o próprio bom velhinho, gasto um tempinho com eles e os faço viajar nessa fantasia. Não é raro e se repete várias vezes nos meus dias.

Mesmo assim, quando deparo em qualquer situação com aqueles birrentos – cuja responsabilidade disso não é deles e sim dos pais – confesso minha total impaciência. Em restaurante, bares e cafeteria, confesso que até mudo de lugar.

Por falar em cafeteria, passo  em várias delas, e em quase todas ocorre a mesma coisa, trabalham de costas para os clientes. A prosa entre o lado externo e interno do balcão é sempre animada, em detrimento de mãos levantadas para fazer pedido ou solicitar a conta.

Emendando, agora, sobre cinema, às vezes aparecem grupos de pessoas onde o menos importante é a fita que está sendo exibida.

Telefone toca, e sem constrangimento é atendido com um “alô” ensurdecedor. E as prosas paralelas? Tendo relação ou não com a película em tela grande, interferem na atenção de quem vai ao cinema para apreciar um bom filme. Acho que isso é uma tremenda falta de educação.

E não paro por ai com as minhas implicâncias. Fico desconfortável quanto as filas duplas e triplas de carros nas portas das escolas (que já mencionei aqui), notadamente na Zona Sul.

Existem também as folgadas (os), como nas academias com número limitado de aparelhos. Algumas até com equipamento suficiente para o atendimento, mas a “reserva” para quem se acha privilegiado provoca uma bagunça.

Explico. Não é raro alunas (os), como qualquer outra (o) colocar uma toalha ou garrafinha (squeeze) para reservar o aparelho do seu próximo exercício.

Na última que frequentei, tinha quem utilizava o personal trainer para assegurar seu próximo exercício.

Ou seja, o profissional da educação física, é remunerado não com a intenção de orientar ao aluno, mas para facilitar seu acesso e agilidade no tempo de malhação. Estou fazendo, sozinho, em casa. Comprei o básico para isso.

E os tempos modernos, com toda novidade que nos proporciona, paralelamente trouxe o telemarketing.

Tirei meu telefone fixo da tomada, quem eu quero que me ligue, tem meu número móvel. Mas as operadoras, desde celular passando por toda essa parafernália até chegar no acesso à internet e TV a cabo, ligam o dia todo para oferecer suas novas vantagens.

Antes eram operadas por pessoas, agora por máquina, que insistem – tanto quanto antes acontecia – para serem ouvidos. Até o computador é programado para encher o saco da gente.

E no jogo de futebol? Sim! Quem fica à frente não se importa em levantar e acompanhar a partida tampando todos os que estão nas cadeiras atrás.

Danem-se”, devem pensar. Teria algumas outras situações e considerações a fazer, mas – por precaução – vou me abster.

Senão, quem ler isso, nem vai querer me saudar quando passar por minha pessoa pela rua.

Nos dias atuais não podemos estender as mãos. Enfim, acho que me tornei ranzinza que nem a avó de um vizinho da infância que quando entrava na casa dele, tinha que pisar na ponta dos pés, pois ela estava deitada. Ou seria exagero meu? De interpretação ou de reação?

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