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Vovô

 
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Tais Civitarese

Quando me casei, adotei o avô do meu marido como meu. Ele é a pessoa mais fofa do mundo. Impossível descrever o tamanho de sua gentileza e carisma, bem como seus caracteres de artista.

Ele pinta quadros que ornam os lares da família inteira. Não bastasse isso, está sempre pronto a nos receber com elogios, daqueles que enchem o coração de alegria.

Para completar, ainda é um comediante nato. Esses dias, ao visitá-lo, contou-me a seguinte história: “Quando eu era pequeno, meu avô morava com minha família. Ele já estava ‘caduco’, e de vez em quando, aprontava alguma.

Numa noite, acordei às 2h da manhã ao ouvir um barulho. Era ele, em seu quarto, recitando Luís de Camões. Ele me disse:

– Neto, venha jogar xadrez comigo!
– Mas vovô, são duas horas da manhã…
– O que é isso? Não fuja à luta!
Pingando de sono, fui jogar com ele. E ele, obviamente, venceu.
– Meu neto, você joga muito mal!!”

Outra história muito contada por vovô é a seguinte: “Nossa família inteira morava no Rio de Janeiro antes de eu me mudar para Belo Horizonte. Um dia, já casado e vivendo em Minas, fui com minha mãe visitar sua irmã mais velha, a tia Glorinha, que estava bem idosa e esquecida.

– Olá, Glória! Tudo bem? Viemos ver como você está! – disse minha mãe, Maria.
– Oh, que maravilha! E ainda trouxe o João! Como está grande! Que alegria revê-lo!
– Pois é, Glória. Ele veio ver a praia e fez questão de vir comigo visitá-la.
– Que maravilha! Você está lindo, João. Como vão sua esposa Sandra e seus três filhos?
– Estão ótimos, titia. Minha esposa enviou esse presente.
Porém, de repente, no meio da conversa, tia Glória mudou de semblante e perguntou à minha mãe:
– Espere aí, Maria! Mas quem é esse senhor?”

Com essas e outras, aos seus 86 anos, meu avô segue fazendo troça da própria velhice e nos divertindo com as peripécias de seus antepassados. É dele o meu exemplo do mais alto tipo de lucidez.

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