(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)

Chego aí em 2 min.

(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Victória Farias

Era um dia ensolarado de outubro, desses que você não consegue se lembrar exatamente qual, já que todos os dias do ano tinham sido desesperadamente ensolarados. No céu, não se via nuvens; nos elevadores, não se falava em chuva, e eu estava começando a achar que a Matrix na qual estávamos presos apresentava falhas irreversíveis.

Eu estava usando uma camisa preta, acompanhada de calças pretas, e um sapato preto. Estava de luto, só não sabia exatamente porque – geralmente, quando é assim, me prendo ao pensamento de que alguém, em algum lugar do mundo, saiu da terra para se juntar a uma inteligência superior, e, por isso, estou de luto.

Lembro-me que o colarinho da minha blusa passava no meu pescoço e me dava uma leve alergia. Mesmo com a manga da blusa dobrada até o cotovelo, o calor descomunal que eu sentia me dava certeza que – sem saber – tínhamos trocado de lugar com Marte na linha de planetas próximos ao Sol. E, como o título já entregou a você, meu confidente, eu estava atrasada.

O interessante de se sentir calor e estar em uma cidade totalmente verticalizada – em que bolsões de ar quente se formam nos centros urbanos – é que a sensação atinge as pessoa de fotma tão certeira, que elas ficam, basicamente, sem saber o que fazer. 

E eu estava nesse grupo – andando, atordoada, tentando me lembrar o que eu deveria estar fazendo ao invés de esperar e sentir toda a água do meu corpo escorrer. Eu, Ser Humano há 22 anos, não sabia que existiam tantos poros no corpo humano. Agora eu sei. 

Cansada e suada, consegui achar meu caminho de volta às atividades do dia, parecendo alguém que havia conseguido sobreviver a um apocalipse hollywoodiano.

Como prometido ao receptor da minha mensagem, eu chegaria ao meu destino em “2 min.” É claro que isso não aconteceu. É evidente que eu parei em todos os bebedouros que cruzavam o caminho de onde eu estava até onde eu precisava ir. 

Mas, como todas as outras coisas da vida, essa também me serviu de ensinamento: se você tiver algum compromisso em dias ensolarados, se desloque mais cedo; não use roupas pretas, nem sapatos pretos, nem calças pretas. Se puder, nem saia de casa. Não deixe o ventilador para trás, não ignore a presença do ar-condicionado. 

Quanto menos gente na rua, menos calor humano. Afinal, uma bomba de hélio queimando a anos luz já é mais do que o suficiente para aquecer nossas vidas.

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